Detectadas complexas moléculas orgânicas em Encélado, aumentando o potencial de vida no satélite
Cientistas estimam que existe um grande reservatório de água com cerca de 10 km de profundidade sob uma camada de gelo entre 30 e 40 km de espessura no polo sul de Encélado, um dos satélites de Saturno. Esse oceano subterrâneo alimenta poderosos jatos, expulsos de profundas fissuras (chamadas de "listras de tigre") na superfície do satélite. Em 2015, a sonda Cassini passou através das plumas dos jatos e encontrou gás hidrogênio misturado no meio delas. Já é certa a existência de um oceano global em Encélado e, em um estudo publicado em 2017 na Science, pesquisadores reportaram que existe suficiente energia bioquímica para sustentar vida no satélite (1). Agora, os astrônomos reportaram a existência de matéria-prima orgânica complexa no satélite.
- (1) Para saber mais sobre Encélado, seu oceano e sua fonte de energia bioquímica, acesse: Encélado: O satélite em Saturno capaz de sustentar a vida
Os pesquisadores sugerem que elas se formaram em reações entre a água e rochas aquecidas na base do oceano sub-superficial do satélite. Apesar de não representar necessariamente um sinal direto de vida, a presença dessas moléculas indica que Encélado, de fato, possui um alto potencial para o suporte de vida. Antes, observações do satélite tinham constatado o cumprimento de duas das três exigências para a emergência de vida como a conhecemos: água líquida e uma fonte de energia bioquímica (gás hidrogênio em abundância sendo produzido em seu oceano, provavelmente por fontes hidrotermais). Agora, os pesquisadores conseguiram satisfazer parcialmente terceira exigência: presença substancial de elementos químicos essenciais para a construção dos blocos básicos da vida (carbono, hidrogênio, nitrogênio, oxigênio, fósforo e enxofre). E mais importante: complexas formas orgânicas.
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Antes, apenas poucos compostos orgânicos simples, com 50 unidades de massa atômica ou menos haviam sido detectados no Espaço sendo emitidos de plumas de crio-vulcões na superfície do planeta (os quais ejetam grãos de gelo e vapor que contêm materiais originados do oceano). Agora, ao analisar os dados de dois espectrômetros de massa a bordo da Cassini, os pesquisadores confirmaram a assinatura de moléculas com 7 a 15 carbonos, e com predominância de carbonos insaturados, provavelmente na forma de anéis benzênicos ligados a grupos funcionais diversos e constituindo grandes moléculas (mas não policíclicos aromáticos fusionados). Entre as moléculas, incluindo alifáticas, parece existir também uma significativa presença de grupos funcionais contendo oxigênio e nitrogênio.
Além disso, considerando que as moléculas detectadas estavam presentes em grãos de gelo com baixa quantidade de sais dissolvidos (o oceano no satélite é bastante salgado), a provável origem desses compostos está localizada em uma fase separada da aquosa, como um filme fino ou uma camada de espécies orgânicas majoritariamente refratária entre rachaduras na crosta de gelo acima do oceano. Estouros de bolhas, então, dispersariam essas moléculas na água, formando flocos de material orgânico que, finalmente, seriam liberados pelos crio-vulcões.
Grande acúmulo de complexos materiais orgânicos, enorme fonte de energia bioquímica e abundante presença de água líquida virtualmente fecham o quadro confirmando o enorme potencial de vida em Encélado.
Por enquanto, porém, ainda não foram detectados enxofre nem fósforo, mas a confirmação desses elementos requisitará sondas mais complexas e, idealmente, amostras diretas do oceano. Tecnologia para diferenciar compostos orgânicos de uma origem abiótica ou de uma origem biótica já existem, e missões futuras poderão confirmar se o satélite abriga vida em seu interior.
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Publicação do estudo: Nature
Referência adicional: SWRI
Detectadas complexas moléculas orgânicas em Encélado, aumentando o potencial de vida no satélite
Reviewed by Saber Atualizado
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junho 27, 2018
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