Quer um cabelo livre de pontas duplas e sem quebras? O glúten pode ser a solução!
Não, esse título não é para promover a venda de um mais um novo produto suspeito no mercado de cosméticos. De acordo com um estudo publicado esta semana na Royal Society Open Science, um novo tratamento à base de glúten pode ajudar a resolver um problema tão temido entre as mulheres: as pontas duplas e quebras de cabelo.
Um cabelo - independente do seu tipo e cor - é geralmente considerado saudável quando sua textura é macia, brilhante e com pontas bem definidas. Um fio de cabelo é um sistema integrado com um comportamento físico e químico bem peculiar, e possuindo uma complexa estrutura de vários componentes morfológicos que agem como uma única unidade. Nos mamíferos, como os humanos, a extensão dos fios de cabelo é dividido em três principais regiões: cutícula, córtex e medula (esta última ausente em alguns tipos de cabelo, como nos finos fios de crianças). A textura e o brilho do cabelo estão relacionados às propriedades superficiais do fio, enquanto a integridade das pontas do cabelo estão ligadas ao córtex. Na cutícula, temos também uma camada lipídica conhecida como 18-MEA, a qual é responsável pela hidrofobicidade do cabelo, impedindo que água em excesso entre na estrutura proteica capilar e a danifique.
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Mas por motivos culturais, de pressão da moda ou por influência de celebridades, muitas pessoas tentam mudar a estrutura natural dos seus cabelos, enfrentando procedimentos de alisamento, tintura, alvejamento, uso constante de secador, chapinha e babyliss, e isso, somado com outros agentes danificantes, como a luz solar, acabam gerando fragmentações na estrutura proteica dos cabelos, gerando pontas duplas e regiões quebradiças. Alguns cabelos, como o africano/negro, tendem a ser mais suscetíveis a esses danos.
A estrutura do cabelo humano é constituída em sua maioria de fibras proteicas chamadas de queratina, e ligações químicas covalentes e hidrofóbicas (intermoleculares e no sentido de aversão à interação com as moléculas de água) são as principais forças mantendo essas proteínas juntas em estruturas rígidas e fortes. Em um cabelo saudável, as ligações covalentes mencionadas - conhecidas nesse caso como pontes de dissulfeto, as quais ligam pequenos peptídeos às queratinas capilares - são seguras e íntegras, mas os fatores de danos quebram essas ligações via processos oxidativos.
Nesse sentido, há décadas a indústria de cosméticos tenta produzir produtos à base proteica que possam substituir essas ligações desfeitas na queratina do cabelo, mas ainda não conseguiu alcançar um significativo sucesso. As fibras de queratina possuem um valor isoelétrico de 3,8 e para aumentar a aderência dos peptídeos visados para restaurarem as ligações de dissulfeto no cabelo, esse valor precisa ser alcançado. Até o momento, nenhum produto cosmético conseguiu tal feito, onde esses geralmente variam em valores de pH entre 5 e 6, o que torna a queratina negativamente carregada quando em contato. Mas agora, os pesquisadores parecem ter superado esse desafio com a ajuda do glúten de trigo, uma das proteínas mais disseminadas e baratas, e rica em ligações dissulfeto suas sub-proteínas constituintes: gliadina e glutenina.
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Primeiro, os pesquisadores mergulharam o glúten em uma solução com pH 8,2 e temperatura de 55°C constituída de água e Alcalase - uma enzima que ajuda a quebrar a proteína em seus blocos peptídicos básicos - por 60 minutos. Em seguida, eles adicionaram essa mistura em uma sopa química conhecida como EDDAC, aumentando seu ponto isoelétrico de 7,0 para 10,0 (a partir de uma cationização com cloreto de epóxipropildodecildimetilamônio). Então, finalmente, eles incorporaram a solução em um shampoo e aplicaram este em amostras de cabelo humano, tanto em condições secas quanto em estado molhado.
Utilizando uma máquina analítica para medir a quantidade de danos na estrutura capilar (baseada na diferença de fricção gerada no cabelo - quanto mais danificado, maior a fricção, devido às deformações estruturais), os pesquisadores mostraram que os cabelos tratados com o novo produto à base de glúten resultou em cerca de 21% menos danos em condições secas e quase 50% menos danos em condições molhadas quando comparado com o cabelo danificado não tratado. A visualização de ambos os grupos - controle e tratados - sob um microscópio de varredura eletrônica corroborou os resultados. Além disso, segundo o novo estudo, as fibras estavam visivelmente com um melhor aspecto após o tratamento. No final, isso sugere que os peptídeos do glúten ajudaram em grande escala a restaurar as pontes de dissulfeto quebradas.
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Porém, apesar dos resultados animadores, especialistas ao redor do mundo pedem cautela com a interpretação dos resultados. Alguns deles reforçaram que o novo estudo não especificou quais os tipos de cabelo tratados e como variou a consistência dos resultados ao longo dos experimentos.
De qualquer forma, se os resultados puderem ser replicados e confirmados, será um grande avanço nessa área cosmética, onde um produto do tipo finalmente terá uma sólida base científica de comprovação de eficácia, ao contrário do que se vê na maioria das propagandas hoje disseminadas. Além disso, otimizações do novo tratamento podem alcançar resultados próximos do ideal em termos de restauração capilar.
Artigo Recomendado: Cortar o glúten da dieta traz benefícios à saúde?
Publicação do estudo: RSOS
Referências adicionais:
1. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18004288
2. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4387693/
3. http://www.sciencemag.org/news/2018/02/want-cure-your-hair-s-split-ends-try-washing-them-wheat-gluten
Quer um cabelo livre de pontas duplas e sem quebras? O glúten pode ser a solução!
Reviewed by Saber Atualizado
on
fevereiro 07, 2018
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