Cientistas conseguem identificar a região no cérebro que age como um forte analgésico natural quando ativada
A crise de opioides nos EUA atingiu níveis alarmantes. Drogas como oxicodona, hidrocodona e fentanila efetivamente conseguem ativar o enigmático sistema endógeno de anestesia no cérebro, porém também podem gerar grande dependência química e levar a inúmeros casos letais de overdose por causa do uso excessivo desses medicamentos. Overdose por drogas agora nos EUA é a principal causa de morte entre pessoas com menos de 50 anos, com os opioides representando cerca de dois terços delas.
Mesmo fora dos antibióticos, dores crônicas também tendem a levar ao abuso de drogas analgésicas diversas, as quais também carregam efeitos colaterais que podem ser bem sérios a longo prazo. Nesse sentido, entender o porquê nós temos um sistema endógeno analgésico, como ele funciona e onde ele é controlado no cérebro pode oferecer alternativas livres de medicamentos para ativá-lo e aliviar dores crônicas.
Apesar da dor ser algo desagradável, ela evoluiu para servir em uma importante função de sobrevivência. Após um grande machucado, por exemplo, a dor persistente força você a procurar um maior descanso e evitar o gasto desnecessário de energia, esta a qual precisa ser usada com prioridade para curar o corpo. Porém, acontece também do cérebro, mesmo em um estado de grandes danos corporais, desligar a sensação de dor via seu sistema analgésico intrínseco. E por que isso?
É nesse contexto que pesquisadores do Japão em parceria com pesquisadores do Reino Unido se juntaram para tentar responder essa pergunta e, de quebra, tentar achar a região específica no cérebro responsável pela 'anestesia natural'. Para isso, eles testaram a hipótese de que esse sistema neural anestésico existe para ajudar o indivíduo a aumentar suas chances de sobrevivência ao ignorar a dor e permitir uma maior mobilidade do corpo com o objetivo minimizar os danos via interação com o ambiente ao redor. Uma pessoa com queimadura, por exemplo, pode ter sua dor intrisicamente diminuída para procurar por algo além do que o corpo por si possa oferecer que a alivie, como água fria.
Bem, para testar isso, os pesquisadores usaram a tecnologia de escaneamento cerebral em dois experimentos. No principal deles, voluntários saudáveis tinham um dispositivo de metal no braço que era aquecido até níveis dolorosos - mas sem causar queimaduras - e precisavam encontrar um meio de parar essa dor. Basicamente, enquanto o dispositivo lhes causava dor, os participantes tinham que apertar um botão em meio a vários botões que desligavam o aquecimento. Às vezes era fácil encontrar o botão certo, mas em certas etapas do experimento a tarefa ficava complicada. Ao longo de todas as etapas, a atividade cerebral dos voluntários era continuamente registrada e a sensação de dor de cada um checada frequentemente.
No final, os resultados - publicados hoje no periódico eLife - mostraram que o nível de dor que os voluntários experienciavam estava relacionado a quanta informação eles precisavam aprender durante as tarefas. Quando os participantes precisavam ativamente descobrir qual botão era necessário para o aquecimento parar, eles experienciavam uma redução intrínseca da dor. Mas quando eles já sabiam qual botão era necessário apertar, a dor não era diminuída. Os pesquisadores encontraram que o cérebro estava, de fato, computando os benefícios de ativamente procurar pelos botões e lembrar como o aquecimento era reduzido, usando isso para controlar os níveis de dor sentida pelo indivíduo.
Nisso, sabendo como deveriam ser essas sinalizações neurais, os pesquisadores procuraram no cérebro a região onde essas análises de dor estavam sendo efetuadas. Após a realização da segunda fase experimental, eles encontraram que o controle analgésico estava ocorrendo em uma única região do córtex pré-frontal, chamada de 'córtex cingulado pregenual'.
Agora, conhecendo exatamente onde fica a região cerebral responsável pelo controle de dor, os pesquisadores querem futuramente encontrar meios para estimulá-la com métodos sem efeitos colaterais - ao contrário dos opioides e outros analgésicos -, trazendo o manejamento efetivo e seguro de dores crônicas.
Compartilhe o artigo:
Publicação do estudo: eLife
Cientistas conseguem identificar a região no cérebro que age como um forte analgésico natural quando ativada
Reviewed by Saber Atualizado
on
fevereiro 27, 2018
Rating: