Cientistas mostram que a linguagem é aprendida em circuitos no cérebro anteriores ao surgimento evolutivo do ser humano
É frequentemente alegado que os humanos (Homo sapiens) aprendem a linguagem usando componentes no cérebro que são especificamente dedicados para esse propósito - ou seja, uma completa estrutura neural única não encontrada em mais nenhum outro animal, incluindo as outras espécies de primatas hoje existentes. Aliás, alguns anti-evolucionistas até usam tal grosseiro argumento para dizer que nós somos uma 'criação especial'. Agora, pesquisadores da Georgetown University Medical Center, EUA, encontraram novas evidências que fortemente sugerem que a linguagem, na verdade, é aprendida em um sistema cerebral que é também usado para vários outros propósitos e que já existia mesmo antes dos seres humanos surgirem no planeta. Ratos parecem ter o mesmo sistema neural.
Para chegar nessa conclusão, os pesquisadores analisaram a atividade cerebral de um total de 665 participantes. Basicamente, eles estatisticamente sintetizaram os achados de 16 estudos de alta qualidade que examinavam o aprendizado da linguagem em dois bem conhecidos sistemas cerebrais: memória declarativa e memória procedimental. O que eles observaram foi que as crianças aprendem a linguagem nativa e os adultos aprendem uma linguagem estrangeira a partir de circuitos nervosos bem antigos na linha evolucionária, os quais também são usados para tarefas de aprendizado tão diversas quanto se lembrar de uma lista de compras ou de aprender a como dirigir um carro.
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Segundo os resultados das meta-análises, o quão melhor nós somos de nos lembrar das palavras de uma linguagem está relacionado com o quão bom nós somos no aprendizado associado com a memória declarativa (usada para se lembrar de eventos e imagens). Já a habilidade de aprendermos as regras de uma linguagem está relacionado com o aprendizado associado aos dois tipos de memória, mas naqueles aprendendo uma segunda linguagem, a habilidade mostrou estar ligada somente com a memória declarativa em menores níveis de experiência e somente à procedimental (usada por nós em tarefas como dirigir, andar de bicicleta ou tocar um instrumento musical) em altos níveis de experiência.
Além disso, tais associações neurais foram encontradas de forma consistente ao longo de várias linguagens (inglês, espanhol, etc.), linguagens familiares, estruturas linguísticas e tarefas, o que reforça a confiança e validade do novo achado.
A estrutura básica desses circuitos cerebrais são encontradas também em vários animais, como os ratos, estes os quais os usam para aprender a navegar em labirintos de laboratório. Segundo o novo estudo, mudanças evolucionárias nesse sistema cerebral deram suporte para a linguagem, e não o desenvolvimento de um sistema inteiramente novo e específico para a linguagem, como era comumente suposto, inclusive dividindo acadêmicos nesse debate.
O novo estudo possui importantes implicações não apenas no entendimento do processo evolutivo que deu origem à linguagem - genes associados - e como ela é processada no cérebro, mas também pode ajudar a melhorar o aprendizado de pessoas que querem aprender uma língua estrangeira e para aqueles indivíduos com distúrbios neurológicos que afetam a linguagem, como o autismo, dislexia e a afasia. Modelos animais, como ratos, podem até mesmo ser usados para investigar estruturas linguísticas no cérebro.
Publicação do estudo: PNAS
Cientistas mostram que a linguagem é aprendida em circuitos no cérebro anteriores ao surgimento evolutivo do ser humano
Reviewed by Saber Atualizado
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janeiro 30, 2018
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