Novo tipo de vírus é encontrado nos oceanos
Um novo estudo publicado na Nature descreveu uma nova família de vírus que domina as águas oceânicas. Até o momento, esses vírus - devido às suas distintas características - passavam despercebidos em testes padrão de laboratório. Mas com novas técnicas de isolamento, pesquisadores do MIT e do Albert Einstein College of Medicine conseguiram agora identificá-los, um avanço com implicações importantes no campo de evolução dos vírus e do papel regulador dessas entidades biológicas no controle populacional das bactérias.
Os mais abundantes vírus na Terra parecem ser os vírus que infectam bactérias constituídos por DNA de cadeia dupla (dsDNA). Esse grupo consiste de duas principais linhagens, ambas as quais são propostas de terem evoluído de vírus que infectam bactérias e onde ambas incluem membros que infectam todos os três domínios da vida (Archaea, Bacteria e Eukarya, onde os dois primeiros são procariontes). Essas duas linhagens emergiram de ancestrais com distintas organizações em suas proteínas do capsídeo (estrutura que envolve os vírus), o tipo HK97 e o tipo DJR, os quais são reconhecidos como vírus 'com causa' e 'sem cauda', respectivamente. Porém, apesar de pesquisas com microscopia eletrônica já terem revelado que os DJRs representam de 51% a 92% dos vírus observados na superfície global dos oceanos e que a maioria dos vírus marinhos são dsDNA, a gigantesca abundância dos 'sem-cauda' permanecia perdida, e onde os 'com cauda' eram os que pareciam reinar os oceanos. De fato, os atuais modelos ambientais de interação vírus-bactéria são inclusive baseados nos bem estudados vírus HK97.
Agora, pesquisadores conseguiram identificar e caracterizar um grupo de vírus marinhos que representam uma nova família de vírus DRJ, a qual foi nomeada pelos cientistas de Autolykiviridae, em homenagem ao personagem da mitologia Grega Autolycus, filho do Deus Hermes e de Chione, e o qual tinha fama de ser difícil de ser pego durante seus famosos e habilidosos roubos. A descoberta ocorreu enquanto os pesquisadores examinavam vírus que infectavam bactérias da família Vibrionaceae com uma nova metodologia de isolamento.
TAMANHO DA ESCALA: 50 nm |
Os membros da Autolykiviridae possuem características antes nunca vistas em vírus dessa natureza, fato este que dificultou sua identificação nas últimas décadas. Primeiro, eles possuem um DNA bem curto, compreendendo apenas 10 mil bases, enquanto os vírus com cauda descritos pelo novo estudo, por exemplo, geralmente possuem um DNA variando de 22 mil a 349 mil bases (com uma média populacional de 47 mil bases). Além disso, ecologicamente, esses vírus possuem um amplo espectro de hospedeiros, matando em média 34 diferentes hospedeiros em quatro espécies de bactérias Vibrio, enquanto os vírus com cauda matam em média apenas dois hospedeiros de um única espécie. Por fim, enquanto vírus bacteriófagos geralmente matam bactérias dentro de 1 dia, esses novos vírus frequentemente demoram vários dias para o mesmo serviço, algo que particularmente dificulta a visualização deles nos experimentos analíticos geralmente usados para atestar a atividade viral dos bacteriófagos.
- Continua após o anúncio -
Somando-se ao achado, os pesquisadores também mostraram que esses vírus estão marcados no genoma de diversos principais filos de bactérias e a Archaea, e metagenomas em sedimentos e colunas de águas marinhas, sugerindo fortemente que a diversidade da família Autolykiviridae enormemente excede aquela encontrada nas três atuais famílias reconhecidas desse tipo de vírus. Isso significa que provavelmente eles cumprem papel importantíssimo nos oceanos e que provavelmente estão espalhados por toda a superfície terrestre, não apenas no território marinho. Aliás, a alta taxa de de transferência genética entre bactérias altamente divergentes na linha evolutiva (1) - considerando o fornecimento de DNA viral para o genoma desses seres procariontes - pode ter até mesmo uma contribuição maior desses vírus do que os representantes 'com cauda'. E mais: nós mesmos podemos estar carregando diversos desses vírus, incluindo na circulação sanguínea (2).
Os achados possuem enorme importância para a Biologia e também fornece novas ferramentas analíticas mais eficientes para os cientistas.
(1) Para entender mais sobre o assunto, acesse: A Evolução Biológica é um FATO
(2) Para entender mais sobre o assunto, acesse: Estudo mostra que um mar de vírus circulando pelo nosso corpo pode estar nos ajudando a ficar saudáveis
Publicação do estudo: Nature
Novo tipo de vírus é encontrado nos oceanos
Reviewed by Saber Atualizado
on
janeiro 31, 2018
Rating: