Cientistas criam os primeiros clones de primatas usando a técnica da ovelha Dolly

Em uma publicação hoje no periódico Cell, cientistas chineses detalharam como foi realizado o procedimento que trouxe à vida os primeiros clones saudáveis de primatas. A técnica utilizada foi a mesma que nos trouxe a famosa ovelha Dolly.

Tentativas anteriores de clonar primatas não-humanos utilizando o 'método Dolly' - conhecido como transferência nuclear somática (TNS) - produziam embriões viáveis, mas que falhavam em continuar o desenvolvimento. O TNS consiste em retirar o núcleo - onde se encontra o material genético das células eucarióticas - de uma célula com origem de um tecido do espécime alvo a ser clonado, como a pele, e inseri-lo em um óvulo que teve seu material genético removido. O novo óvulo recombinado - e agora diploide - é então tratado com enzimas que o retornam para o estado embrionário inicial - ou seja, capaz de se diferenciar em diferentes tipos de células no corpo, assim como um óvulo fertilizado (zigoto). O óvulo diploide tratado é, então, implantado em uma mães de aluguel para o início do desenvolvimento.

Para consertar os erros sendo cometidos ao longo dos anos nas várias tentativas de aplicar a técnica em primatas, os pesquisadores - liderados por Mu-ming Poo, diretor do Instituto de Neurociência da Academia Chinesa de Ciência, em Shangai - adaptaram diferentes novas variações para o método padrão, incluindo o uso de um novo tipo de microscópio que melhor permite a visualização e acompanhamento das células sendo manipuladas.

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Porém, apesar do sucesso, a técnica otimizada permitiu apenas o nascimento de dois bebês macacos saudáveis - da espécie Macaca fascicularis -  clonados a partir de mais de 60 mães de aluguel. Além disso, os pesquisadores só foram capazes de reprogramar as células do tecido fetal desses macacos - dos fibroblastos fetais -, não de células adultas (algo que seria o ideal). Os dois filhotes clonados  dessas células fetais foram chamados de Zhong Zhong e Hua Hua.

Para a TNS usando as células fetais, seis gravidezes foram confirmadas em 21 fêmeas de aluguel, gerando 2 bebês saudáveis, como já mencionado. Usando a TNS para células adultas desses primatas, 22 gravidezes foram confirmadas em 42 fêmeas de aluguel, gerando 2 bebês vivos, mas que não viveram por muito tempo após o nascimento.

Mas, segundo os pesquisadores, unindo o TNS com as atuais técnicas de edição genética - especialmente com a gigantesca proliferação do CRISPR-Cas9 (1) - será possível facilmente otimizar ainda mais a técnica em breve, permitindo a produção de um maior número de clones e, até mesmo, a possibilidade de uso eficiente de células adultas para a clonagem.

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Clones de primatas não-humanos podem permitir a criação de modelos ideais para pesquisas clínicas de mecanismos de doenças e testes com drogas, já que eles são os nossos mais próximos parentes na linha evolucionária. Isso traria um grande avanço para a área, já que o uso de primatas em laboratório é bem caro, ficando difícil criar bons modelos para diferentes campos de pesquisa. De fato, a criação de primatas em ambientes controlados e com o mesmo material genético pode revolucionar a área das ciências médicas.

Na China, o uso de primatas não-humanos em pesquisas clínicas é bem mais aceitável do que em países Ocidentais, mas os pesquisadores envolvidos no estudo garantem que os animais estão sendo bem tratados, seguindo normas internacionais.

Ainda nas preocupações éticas, outro grande problema é a possibilidade dessa técnica otimizada de clonagem ser usada para a clonagem de humanos - uma questão já antiga e bem séria. Os pesquisadores, contudo, garantem que o risco é mínimo disso acontecer, já que o grande público e os governos não permitiram que procedimentos do tipo ocorressem. Porém, de uma forma ou de outra, isso não acaba com a possibilidade, especialmente no futuro, quando a técnica estiver mais acessível e eficiente.

(1) Para entender mais sobre esse popular e revolucionário editor genético, acesse: CRISPR-Cas9, o Poder da Edição Genética!

Publicação do estudo: Cell

Referência adicional: Science