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Matricídio parasítico: formigas operárias são enganadas por rainha invasora e matam a própria mãe

Figura 1. Rainha parasítica da espécie Lasius orientalis (à esquerda) infiltrada no ninho de formigas da espécie Lasius flavus. Rainha L. flavus à direita.

 
Existem formigas onde rainhas infiltram colônias estabelecidas de espécies distintas, matam a rainha dessa colônia e buscam persuadir as operárias a servi-la. Esse tipo de comportamento é um exemplo de parasitismo social. Agora, em um estudo publicado na Current Biology (Ref.1), pesquisadores descreveram duas espécies de formigas - Lasius orientalis e L. umbratus - cujas rainhas parasíticas adotam uma estratégia ainda mais sinistra para tomar o controle de colônias de outras espécies do mesmo gênero: através de uma arma química, elas manipulam as operárias a matar a própria rainha (e mãe). Um matricídio parasítico.


"Inicialmente, eu queria que o título do estudo retratasse uma fábula em que uma filha é enganada no sentido de matar a própria mãe. Perguntei ao CHATGPT se esse tipo de matricídio aparece em alguma história de ficção, mas a IA respondeu que não existe nenhuma", disse em entrevista o autor principal do novo estudo, Keizo Takasuka, da Universidade de Kyushu (Ref.2). "Portanto, este é um exemplo da natureza indo além do que já vimos na ficção."


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Os poucos casos conhecidos de matricídio no reino animal são restritos a invertebrados terrestres e caem em duas categorias: matrifagia voluntária, onde a mãe oferece o próprio corpo como alimento para suas ninfas - comportamento observado em uma espécie de tesourinha (Anechura harmandi), uma espécie de pseudoescorpião (Paratemnoides nidificator) e em várias espécies de aranhas - e matricídio causado por operárias em himenópteros eusociais, como abelhas mamangavas (Bombus sp.) e vespas da subfamília Vespinae, onde a produção de machos pode beneficiar as operárias mais do que o sustento da rainha.


Em formigas, rainhas também são eliminadas em contextos que não envolvem parasitismo - por exemplo, quando o número de rainhas é regulado em associações pleometróticas (fundação de colônia por múltiplas rainhas) ou durante a formação de hierarquias em espécies funcionalmente monóginas, onde agressão entre rainhas pode precipitar o ataque de operárias. Porém, até o momento, não existia nenhum exemplo onde nem as operárias e nem as rainhas da mesma espécie se beneficiavam com o matricídio.


No novo estudo, pesquisadores descreveram esse último cenário envolvendo formigas do gênero Lasius (família Formicidae). 


Rainhas recém-acasaladas de L. orientalis e L. umbratus (Hymenoptera: Formicidae) invadem colônias hospedeiras de L. flavus e L. japonicus. A invasão é operada de forma progressiva, com as rainhas parasíticas interagindo apenas com algumas operárias e casulos (pupas) até adquirir o cheiro característico das colônias sendo invadidas.


Uma vez que as rainhas invasoras são aceitas pelas operárias da colônia e localizam a rainha, a parasita borrifa essa última com uma substância química de odor fétido - aparentemente ácido fórmico, uma substância produzida por alguns grupos de formigas e que fica armazenada em um órgão especializado no abdômen. O objetivo parece ser disfarçar o cheiro normal da rainha com um odor repugnante. Isso faz com que as operárias/filhas ataquem a própria rainha/mãe como se fosse uma inimiga.


"Em ambos os casos, o hospedeiro e o parasita pertencem ao mesmo gênero, portanto ambos possuem ácido fórmico e o reconhecem como um sinal de perigo", afirmou em entrevista Takasuka (Ref.3). "Acreditamos que, quando a rainha é repentinamente coberta por uma grande quantidade dessa substância química, as operárias percebem a própria mãe como uma ameaça à colônia, o que desencadeia um comportamento defensivo agressivo."


Quando a rainha parasítica borrifa a rainha da colônia hospedeira, a primeira recua imediatamente - mas temporariamente - como mostrado no vídeo abaixo. Isso porque o odor é muito perigoso também para a parasita: se as operárias sendo manipuladas o sentirem, atacarão imediatamente a invasora.


          


No caso de Lasius orientalis, a rainha parasita pulveriza múltiplas vezes a rainha da colônia hospedeira: cerca de 15 vezes ao longo de 20 horas. Isso irrita gradualmente as operárias da hospedeira, que começam a atacá-la, mutilando-a e matando-a após alguns dias.


Já a rainha de Lasius umbratus usa apenas duas pulverizações direcionadas. Isso é suficiente para incitar um ataque imediato e fatal das operárias da hospedeira, que procedem para o desmembramento da própria rainha. 


Deixando o "trabalho sujo" de matar a rainha hospedeira para as operárias, a rainha parasítica evita um confronto direto e não vira potencial alvo das filhas durante um hipotético combate.


Após o matricídio, as operárias da hospedeira acabam aceitando a rainha parasítica, que logo começa a pôr seus próprios ovos para serem cuidados pela colônia órfã. As operárias órfãs, no final, acabam cuidando da rainha parasítica e da sua prole.


Embora pertençam ao mesmo gênero, as espécies L. orientalis e L. umbratus não possuem relação filogenética próxima dentro do grupo. O parasitismo social atípico - envolvendo manipulação da colônia hospedeira e matricídio - evoluiu de forma convergente nessas espécies.


Leitura recomendada:


REFERÊNCIAS

  1. Takasuka et al. (2025). Socially parasitic ant queens chemically induce queen-matricide in host workers. Current Biology, Volume 35, Issue 22, pR1079-R1080. https://doi.org/10.1016/j.cub.2025.09.037
  2. https://www.eurekalert.org/news-releases/1104837
  3. https://www.kyushu-u.ac.jp/en/researches/view/360
  4. https://www.science.org/content/article/parasitic-ant-tricks-workers-killing-their-own-queen

Matricídio parasítico: formigas operárias são enganadas por rainha invasora e matam a própria mãe Matricídio parasítico: formigas operárias são enganadas por rainha invasora e matam a própria mãe Reviewed by Saber Atualizado on novembro 18, 2025 Rating: 5

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