Colisão entre Via Láctea e Andrômeda provavelmente não ocorrerá nos próximos 5 bilhões de anos, aponta estudo
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Figura 1. Resultado da colisão entre Via Láctea e Andrômeda. |
Atualmente nossa galáxia (Via Láctea) está indo de encontro à galáxia Andrômeda, a uma velocidade de ~100 km/s. A colisão seria catastrófica, deixando para trás uma pilha de estrelas na forma de uma galáxia elíptica (pós-fusão galáctica). Tradicionalmente é pensado que essa colisão é inevitável e que ocorrerá daqui a 5 bilhões de anos. Porém, um estudo publicado hoje no periódico Nature Astronomy (Ref.1) concluiu que o destino da nossa galáxia está ainda em aberto. Através de 100 mil simulações baseadas em dados acumulados pelos telescópios espaciais Hubble e Gaia e em novas variáveis antes ignoradas, os autores do estudo estimaram que a chance de colisão entre as duas galáxias é próxima de 50% nos próximos 10 bilhões de anos e que a probabilidade de colisão é de apenas 2% nos próximos 5 bilhões de anos.
"Esses resultados são significativos para o destino da nossa galáxia," disse em entrevista o professor Alis Deason, pesquisador no Instituto de Cosmologia Computacional da Universidade de Durham, Inglaterra, e coautor do novo estudo (Ref.2). "Costumava ser aparentemente o destino da Via Láctea se fundir com Andrômeda para produzir uma colossal 'Lactômeda'. Agora, existe uma chance disso nunca acontecer."
O Grupo Local contém duas grandes galáxias espirais: a própria Via Láctea e Andrômeda, junto com aproximadamente 100 galáxias de menor porte. Além disso, provavelmente hospeda outras galáxias que ainda precisam ser descobertas e, de acordo com o modelo cosmológico padrão, um vasto número de subestruturas completamente escuras (1). A descoberta de que o movimento da Via Láctea em relação a Andrômeda é próximo do radial (em rota aparente de colisão) levou à predição amplamente aceita que ambas as galáxias irão colidir e se fundir entre si, resultando em uma nova galáxia elíptica. Válido apontar que as duas galáxias possuem um histórico de fusões e interações com outras galáxias.
No novo estudo, pesquisadores conduziram milhares de simulações explorando o destino da Via Láctea e de Andrômeda, usando dados astronômicos acumulados pelos telescópios espaciais Hubble (NASA) e Gaia (ESA) e também levando em conta as interações gravitacionais produzias pelo mais massivo satélite da Via Láctea, a Grande Nuvem de Magalhães (GNM) - uma galáxia-anã que orbita a nossa galáxia. Enquanto a massa da Via Láctea e de Andrômeda são estimadas, respectivamente, em ~1 x 10^12 massas solares (M☉) e ~1,3 x 10^12 M☉, a GNM possui ~1,5 x 10^11 M☉. Essas massas estimadas - e influências gravitacionais associadas - foram usadas para as simulações computacionais no estudo, assim como velocidades radial e transversal mais precisas para as galáxias de interesse.
Os resultados das simulações apontaram que existe uma probabilidade de apenas 2% para a colisão entre Via Láctea e Andrômeda nos próximos 5 bilhões de anos (Fig.2), contrariando a crença de que a colisão seria inevitável nesse intervalo de tempo. E, em apenas pouco mais de 50% dos cenários simulados, as duas galáxias se aproximariam o suficiente para uma inevitável colisão nos próximos 8-10 bilhões de anos, onde progressiva perda de energia orbital levaria à eventual fusão galáctica (Fig.2-3). Na maioria dos outros casos simulados, as duas galáxias se encontravam a distâncias permitindo que continuassem evoluindo sem grandes perturbações por um tempo muito longo.
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Figura 3. Três cenários de encontro futuro entre Via Láctea e Andrômeda. (A) Passam com uma distância segura entre si, com uma separação de 1 milhão de anos-luz. (B) Distância de 500 mil anos-luz entre as duas, com matéria escura fornecendo fricção que traz as galáxias a um encontro próximo. (C) Separação de 100 mil anos-luz, que resulta em colisão e fusão galáctica. Ref.2 |
Após 10 bilhões de anos, onde passa a existir uma chance acima de 50% de colisão, o Sol já terá esgotado seu combustível, explodido (Gigante Vermelha) e caminhado para sua evolução em uma anã-branca (2). Nosso planeta, portanto, não precisa ficar tão preocupado com uma possível e catastrófica colisão futura da Via Láctea, porque provavelmente será destruído muito antes.
Leitura recomendada:
- (1) Matéria Escura, Energia Escura e Massa Negativa
- (2) Várias estrelas que vemos no céu são bolas de cristal
REFERÊNCIAS
- Sawala et al. (2025). No certainty of a Milky Way–Andromeda collision. Nature Astronomy. https://doi.org/10.1038/s41550-025-02563-1
- https://www.durham.ac.uk/news-events/latest-news/2025/06/new-study-casts-doubt-on-the-likelihood-of-milky-way-collision-with-andromeda/
