Pesquisadores encontram local ideal para medir o pulso de répteis como lagartos e cobras
Figura 1. Pesquisadores medindo o pulso de um lagarto Pogona. |
Em um estudo publicado no periódico Veterinary Record (Ref.1), pesquisadores da Universidade de Cornell, EUA, descobriram que é possível medir de forma consistente e confiável a taxa de pulso de répteis não-aviários em uma região de fácil acesso do corpo: atrás da cabeça. E a taxa de pulso medida nessa região mostrou corresponder à frequência cardíaca em répteis saudáveis. A técnica de medição requer um detector de fluxo Doppler ultrassônico, um instrumento comum encontrado na maioria clínicas veterinárias. A habilidade medir a taxa de pulso permite um exame cardiovascular mais completo nesses animais.
"Enquanto a localização para se obter a frequência cardíaca de uma píton é bem conhecida, a localização para se obter a taxa de pulso não tinha ainda sido acuradamente descrita," disse em entrevista o Dr. Nicola Di Girolamo, um professor associado de medicina de animais exóticos na Universidade de Cornell e autor principal do novo estudo (Ref.2).
O pulso é uma constante vital que nos informa sobre o sistema circulatório e o funcionamento do coração. A taxa de pulso resulta da onda de pressão que é gerada pelo bombeamento de sangue pelo coração e que se propaga pelas artérias. Pode ser facilmente medida em locais onde uma artéria é superficial e pode ser pressionada contra um osso onde as artérias são profundas. O pulso deve ser regular e rítmico e ser percebido com certa intensidade.
A frequência cardíaca - quantidade de vezes que o coração bate em um minuto - pode ser inferida contando o número de pulsações por minuto.
Em humanos, podemos destacar algumas diferenças importantes entre taxa de pulso e frequência cardíaca (Ref.3):
- Localização: O pulso é aferido em locais específicos do corpo, por exemplo: pescoço, punho e a virilha. Já a frequência cardíaca é verificada no ponto de ERB no 5º espaço intercostal da linha hemiclavicular esquerda.
- Instrumentos: O pulso pode ser aferido manualmente ou com o uso de um dispositivo específico, como o oxímetro de pulso. Já a frequência cardíaca pode ser aferida pelo monitor multiparâmetro ou por meio da palpação da área precordial.
- Variações: O pulso pode variar de acordo com a frequência cardíaca, a temperatura corporal e a posição do corpo. Já a frequência cardíaca pode variar de acordo com a idade, a condição de saúde e a atividade física.
O novo estudo clínico, enquanto focado em cobras da espécie Python regius - popularmente conhecida como píton-real -, teve início com um lagarto doente do gênero Pogona ("dragão-barbudo"). O lagarto em questão estava com um aneurisma, o qual tinha causado dilatação anormal da artéria temporal superficial. Quando os pesquisadores colocaram o detector Doppler sobre essa artéria, eles puderam claramente ouvir a taxa de pulso.
Inicialmente os pesquisadores acreditaram que isso estava ocorrendo porque o vaso em questão estava muito distendido. Porém, eles avaliaram outro lagarto Pogona aleatório e perceberam que o pulso podia ser também medido no mesmo local (acesse aqui o vídeo). E mais: o mesmo local periférico também mostrou ser ideal para a medição de pulso em outros grupos bem distintas de répteis, como lagartixas, tartarugas e cobras (Fig.2).
Figura 2. Pesquisadores medindo o pulso de (A) um dragão-barbudo, (B) píton-real e (C) de uma tartaruga-gigante. Ref.2 |
Nesse sentido, os pesquisadores resolveram avaliar sistematicamente a taxa de pulso temporal superficial em pítons-reais, sobre o aspecto dorsal da cabeça ao nível da artéria temporal superficial. Frequência cardíaca e pulso foram registrados para 40 pítons-reais saudáveis com massa corporal variando entre 0,05 kg e 2,2 kg através de um detector veterinário de fluxo Doppler ultrassônico. As medições foram feitas de forma randomizada e cega.
Taxa de pulso e frequência cardíaca foram obtidos com sucesso para todas as cobras, com valor médio de 60 batidas por minuto (bpm) na faixa de 48-88 bpm para ambos, e com diferença média de apenas 1,2 batidas. Quando o pulso e a frequência cardíaca foram medidos ao mesmo tempo, ambos mostraram estar sincronizados.
REFERÊNCIAS
- Girolamo et al. (2024). Temporoorbital pulse rate can be obtained in ball pythons (Python regius) of any size and age and agrees with heart rate. VetRecord, e4596. https://doi.org/10.1002/vetr.4596
- https://news.cornell.edu/stories/2024/09/researchers-find-place-take-pythons-pulse
- https://www.praticaenfermagem.com/post/nao-confunda-pulso-com-frequencia-cardiaca