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Cientistas forenses alertam sobre um fenômeno pouco discutido: Pets que devoram seus donos após a morte


Em 2020, a polícia Australiana resolveu investigar a casa de um homem de 69 anos suspeito de estar morto há dias. Quando eles entraram na casa, os policiais se depararam com uma cena perturbadora: o homem estava deitado no chão de costas e sendo devorado por seus gatos! Foram reportados cerca de 30 gatos que viviam na casa e um deles estava inclusive dentro da cavidade peitoral do falecido - cujo histórico médico incluía diabetes tipo 2 dependente de insulina e epilepsia. Devido à extensiva predação pelos seus gatos, o corpo apresentava completa perda de pele e tecidos moles do pescoço, parte anterior do peito e abdômen superior. E mais: os pulmões e o coração estavam ausentes [devorados] (1).  


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(1) Fotos de investigação forense dos casos mencionados nesta matéria: acesse aqui. Aviso que as fotos podem ser ser perturbadoras para indivíduos mais sensíveis.

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Esse relato de caso pode parecer uma assustadora anomalia, mas é um evento relativamente comum confrontado pela ciência forense e ocasionalmente alertado na literatura acadêmica. Um estudo publicado recentemente no periódico Forensic Science, Medicine and Pathology (Ref.1) resolveu inclusive analisar a questão de forma sistemática, recomendando estratégias forenses para a documentação e detecção de alterações em corpos causadas por predação de cães e gatos.


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Mutilações pós-morte (post mortem) por cães e gatos no ambiente doméstico são raramente reportadas na literatura científica mas são regularmente observadas na prática forense. O isolamento social das vítimas (ex.: idosos deixados sozinhos em casas), mascaramento de lesões com feridas ante-mortem (feitas pouco antes da morte) e alterações da cena por animais domésticos podem ser elementos de grande complexidade diagnóstica para a investigação criminal. Cães são bem conhecidos pelas atividades envolvendo alimentação necrófaga, e essas ações resultam em sérios danos aos corpos de vítimas e podem contribuir para diagnósticos forenses incorretos e dificuldade de identificação. O principal sinal desse tipo de atividade pós-morte é a grande destruição dos tecidos do rosto, particularmente extensiva perda de pele e carne e remoção de olhos, lábios, orelhas ou nariz. 


A síndrome de Diógenes ou Havisham possui uma associação bem conhecida com predação animal pós-morte. É uma síndrome mais frequentemente encontrada em idosos que é caracterizada por isolamento social, acumulação, dramática falta de higiene doméstica e frequentemente um grande número de pets. Se morte do morador ou moradora ocorre, animais dentro da casa, a qual geralmente inclui tanto pets quanto roedores, acabam explorando o corpo para alimentação, em especial na falta de outras fontes alimentares. Esse cenário patológico também implica em sérios prejuízos para o bem-estar e saúde de cães e/ou gatos coabitando o mesmo ambiente.


A maior parte dos casos [consumo de cadáveres humanos por pets] descritos na literatura científica envolve cães, mas existem alguns poucos casos reportados envolvendo gatos e um caso envolvendo um roedor (hamster) (1). Apesar de gatos serem animais hipercarnívoros e representarem pets extremamente comuns nos lares ao redor do mundo, esses felinos são mais hesitantes em explorar cadáveres comparado com cães. Nos casos envolvendo gatos, estes preferem consumir tecido mole e pele - primariamente no rosto, cabeça, pescoço, membros superiores e a região do peitoral -, e não exibem interesse pelos ossos. Órgãos internos do pescoço e tórax, como coração, pulmões, laringe, esôfago e fígado parecem ser consumidos regularmente por gatos.


Na maioria dos casos reportados na literatura científica envolvendo cães, a causa de morte das pessoas consumidas por esses animais é por fatores naturais (ex.: avanço da idade e doenças associadas), e vários papers explicitamente mencionam que recursos alimentares além do cadáver humano estavam disponíveis. Isso contradiz a ideia comum de que fome é a única razão para cães iniciarem o consumo necrófago. Alguns autores mencionam que cães podem lamber os companheiros humanos mortos em uma tentativa de acordá-los, começando a agir empaticamente pela falta de reação e, finalmente, passar a morder o corpo antes de devorá-los. Enquanto o alvo primário é a cabeça, cães comumente exploram várias partes do corpo humano, incluindo ossos, às vezes com amputações completas das mãos e pés.


Quando cães e gatos devoram cadáveres humanos, isso acaba trazendo vários problemas para a investigação forense. A remoção de tecido mole e pele tipicamente acelera processos de decomposição; a remoção de órgãos torna difícil investigar potenciais envenenamentos; e, se a genitália é atacada, isso pode dificultar a determinação de potenciais crimes sexuais. Lesões, mordidas e perfurações por dentes desferidos por pets podem também acobertar danos feitos por criminosos (agressão física, facadas, etc.) ou mesmo levantar erroneamente a suspeita de um crime violento. Nesse último ponto, desconhecimento do hábito comum de consumo de cadáveres por cães pode levantar errônea suspeita de que esses animais foram a causa da morte como agressores.


Por exemplo, em um caso recente no Chile (Ref.3), uma mulher idosa que aparentemente tinha morrido por causas naturais foi encontrada com o rosto devorado por seu cão. Apenas após a realização de uma tomografia computacional (CT), os investigadores descobriram que ela havia recebido uma porretada no rosto durante um roubo, com as mordidas caninas escondendo as lesões do golpe.


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No novo estudo, antropólogos da Universidade de Berna, Suíça, coletaram dezenas de relatos de caso reportados na literatura forense de consumo de cadáveres humanos por pets, além de sete casos recentes no território suíço nos quais a intervenção de pets causou problemas para os investigadores [polícia forense]. Com base na análise desses casos e da literatura, os autores do estudo sugeriram que os investigadores forenses sempre notem o tamanho, linhagem e número de animais encontrados na cena do crime, mesmo se isso não pareça importante para o caso.


Os pesquisadores também desenvolveram um fluxograma (acesse aqui a versão em inglês) para a análise inicial de uma cena de crime no ambiente doméstico. Se o corpo parece ter sido explorado por animais e existem animais com acesso ao corpo no local, o diagrama sugere que os investigadores procurem por amostras de pelos e fezes. Os investigadores deveriam considerar essa evidência quando estiverem determinando se o consumo do corpo por animais (ex.: pets) pode ter mascarado a causa da morte. O fluxograma também lembra investigadores de considerarem se mastigação pós-morte pode ter afetado fatores que podem ajudar a determinar o tempo de morte, como o tipo de insetos que colonizam as feridas.


Em entrevista para a Science (Ref.3), a antropóloga forense Carolyn Rando, da University College London, comentou sobre a questão e o novo estudo: "Eu acho que nós temos que chegar à conclusão que nossos pets irão nos comer. É um fato da vida". Rando acrescentou, lembrando que grande parte dos casos envolvem pessoas vivendo sozinhas há muito tempo: "Se você está preocupado sobre a possibilidade do seu pet comê-lo [pós-morte], tenha alguém regularmente visitando você e seus animais."


Alguns donos de pet, por outro lado, podem se sentir confortáveis de saber que seus corpos ajudarão na sobrevivência dos seus amados companheiros caninos ou felinos. Comentando também na Science, o patologista forense Roger Byard, da Universidade de Adelaide, disse: "Se isso sustentar meu velho golden retriever após eu morrer, eu ficaria feliz."


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Importante: Raramente predação de animais sobre corpos humanos pode ser intencional em tentativas para disfarçar um homicídio, ou como parte de um ritual religioso como "túmulos no céu" no Tibete onde corpos são deliberadamente deixados em ambiente aberto e expostos para que abutres da espécie Gyps himalayensis se alimentem deles. Foto de exemplo desse ritual: acesse aqui

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REFERÊNCIAS

  1. Lösch et al. (2023). Cat and dog scavenging at indoor forensic scenes: strategies for documentation and detection. Forensic Science, Medicine and Pathology. https://doi.org/10.1007/s12024-023-00762-8
  2. Byard, R. (2021). Major organ loss from post-mortem animal predation: Issues arising from emptied body cavities. Medicine, Science and the Law, Volume 62, Issue 1. https://doi.org/10.1177/00258024211020280
  3. https://www.science.org/content/article/yes-your-pet-might-eat-your-corpse-s-problem-investigators

Cientistas forenses alertam sobre um fenômeno pouco discutido: Pets que devoram seus donos após a morte Cientistas forenses alertam sobre um fenômeno pouco discutido: Pets que devoram seus donos após a morte Reviewed by Saber Atualizado on janeiro 23, 2024 Rating: 5

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