Últimas Notícias

[5]

Existe um microbioma na uretra do pênis, e o sexo vaginal pode modificá-lo

Figura 1. Comunidades bacterianas na uretra peniana. Ref.1

 

Contrário a crenças comuns, a urina não é estéril. Aliás, um estudo recentemente publicado no periódico Cell Reports Medicine (Ref.2) encontrou que a uretra de indivíduos saudáveis do sexo masculino é repleta de vida microbiótica e que uma atividade específica - sexo com penetração vaginal - pode modificar a microbiota uretral. Enquanto a maioria da população masculina parece carregar na uretra um microbioma simples contendo bactérias láticas e representantes do gênero Corynebacterium, aqueles indivíduos que fazem sexo vaginal carregam várias bactérias associadas com disbiose vaginal (desequilíbrio no microbioma vaginal).


- Continua após o anúncio -


Os tratos urinário e reprodutivo se fundem na uretra pós-prostática, e microrganismos que saem ou entram no trato urogenital passam pela uretra peniana. Similar a outras mucosas, a uretra peniana é ricamente carregada com células imunes inatas e adaptativas que podem detectar e responder a microrganismos. De qualquer forma, a uretra pode ser infectada por e transmitir um amplo espectro de bactérias, vírus e eucariontes patogênicos sexualmente transmissíveis. Comunidades de microrganismos comensais (microbiomas) associados a um trato gastrointestinal e a um trato reprodutivo feminino saudáveis protegem esses órgãos contra infecção e promovem efeitos benéficos ao corpo (1). Porém, era até o momento incerto se a uretra peniana suportava um microbioma característico [ou microbiomas] que contribuem para a saúde do indivíduo ou desenvolvimento de doenças. 


------------

(1) Leitura recomendada: Quantas bactérias existem no nosso corpo?

-------------


Vários fatores têm historicamente impedido uma melhor caracterização microbiótica da uretra masculina, incluindo dor associado ao procedimento de coleta de amostras [e portanto um procedimento não indicado para indivíduos saudáveis como exame de rotina] e baixa biomassa microbiana tipicamente coletada nesse tipo de exame, dificultando análises qualitativas e quantitativas da diversidade de microrganismos na uretra e identificação dos membros do microbioma ao longo de vários grupos de organismos (bactérias, vírus, fungos, protistas, parasitas).


Independente desses empecilhos, um acúmulo cada vez maior de evidências científicas tem apontado que microrganismos colonizam a uretra de indivíduos saudáveis - similar ao que ocorre nos microbiomas intestinal, vaginal e oral - e que o microbioma associado é simples, estável e vulnerável a exposições ambiental e sexual.


- Continua após o anúncio -


Para esclarecer melhor a questão, o novo estudo coletou amostras uretrais de 110 indivíduos do sexo masculino e também 24 amostras vaginais. Os participantes masculinos eram representados por homens cis-gênero voluntários que visitaram uma clínica pública de saúde em Indianápolis, EUA. Nenhum deles exibia sinais e sintomas de inflamação uretral, infecção ou doença; a idade média era de ~29 anos; e tinham características fenotípicas, ascendências e orientações sexuais diversas.


Um total de 117 diferentes bactérias e 26 vírus foram detectados após sequenciamento genômico das amostras uretrais (Fig.2). Bactérias foram detectadas em 92 das amostras, respondendo por 95% das sequências identificadas de microrganismos. Sequências virais mostraram ser menos prevalentes (41 de 92) e abundantes (5% do total de sequências). A espécie Streptococcus mitis, uma bactéria de ácido lático (ordem Lactobacillales, que produz ácido lático) respondeu por mais de 24% das sequências bacterianas. Bacteriófagos (fagos) responderam por 62% das sequências virais; alguns vírus patogênicos (ex.: HPV) foram observados em poucas amostras. Do total de amostras, 18 uretras produziram poucas sequências ou nenhuma. Isso sugere que o microbioma uretral é muito esparso ou ausente em alguns homens, ou aponta limitações das análises conduzidas.

Figura 2. Diversidade microbiótica na uretra peniana. Os 10 microrganismos mais abundantes identificados no estudo estão indicados nos gráficos. Ref.2

Análises de DNA revelaram que dois tipos de comunidades bacterianas adotam a uretra peniana como moradia: uma nativa ao órgão e a outra oriunda do ambiente externo. A maioria dos voluntários analisados exibiam uma comunidade esparsa de bactérias com alta afinidade ao oxigênio molecular (O2), e que provavelmente viviam próximas da abertura uretral na ponta do pênis, onde existe ampla exposição ao O2 atmosférico. Porém, alguns voluntários exibiam um grupo secundário de bactérias mais complexo que são frequentemente encontradas na vagina e que podem criar distúrbio no ecossistema bacteriano saudável da vagina. Os pesquisadores especulares que essas bactérias residiam em partes mais profundas da uretra peniana devido ao fato delas estarem adaptadas a um ambiente com níveis escassos de O2.


Apenas homens que reportaram ter sexo vaginal carregavam as bactérias vaginais potencialmente patogênicas - em especial bactérias associadas à vaginose bacteriana, como a Gardnerella vaginalis e Fannyhessea vaginae, ou bactérias associadas à vaginite aeróbica, como a Streptococcus agalactiae e S. anginosis. Além disso, sexo vaginal estava associado a efeitos de variação microbiótica de longo prazo. Por exemplo, bactérias vagina-associadas permaneceram detectáveis nos voluntários por pelo menos 2 meses após sexo vaginal, indicando que a exposição sexual à vagina pode modificar o microbioma do trato urinário masculino. 


Outras variáveis individuais (ex.: idade, etnia, histórico de infecções sexualmente transmissíveis, sexo oral, sexo anal) não se mostraram significativas na alteração do microbioma uretral. Sexo vaginal foi a única variável independente significativamente associada com variação na composição do microbioma uretral.


Aliás, cerca de 10% da variação geral de bactérias no microbioma uretral peniano era explicado por ausência ou presença de sexo vaginal. E algumas bactérias do microbioma "básico" eram mais prevalentes em homens que não reportaram sexo vaginal, como a espécie Corynebacterium glucuronolyticum. É ainda incerto se bactérias da uretra peniana podem também invadir o microbioma vaginal e se estabelecerem nessa região.


No geral, os resultados do estudo suportam evidências prévias de que existe um microbioma associado à uretra peniana e que parece ser importante para a manutenção da saúde dessa estrutura.



REFERÊNCIAS

  1. https://www.eurekalert.org/news-releases/983016
  2. Nelson et al. (2023). Sexual behavior shapes male genitourinary microbiome composition. Cell Reports Medicine, Volume 4, Issue 3, 100981. https://doi.org/10.1016/j.xcrm.2023.100981

Existe um microbioma na uretra do pênis, e o sexo vaginal pode modificá-lo Existe um microbioma na uretra do pênis, e o sexo vaginal pode modificá-lo Reviewed by Saber Atualizado on setembro 19, 2023 Rating: 5

Sora Templates

Image Link [https://2.bp.blogspot.com/-XZnet68NDWE/VzpxIDzPwtI/AAAAAAAAXH0/SpZV7JIXvM8planS-seiOY55OwQO_tyJQCLcB/s320/globo2preto%2Bfundo%2Bbranco%2Balmost%2B4.png] Author Name [Saber Atualizado] Author Description [Porque o mundo só segue em frente se estiver atualizado!] Twitter Username [JeanRealizes] Facebook Username [saberatualizado] GPlus Username [+jeanjuan] Pinterest Username [You username Here] Instagram Username [jeanoliveirafit]