Esse besouro cresce uma réplica de cupim nas costas para enganar outros cupins
Figura 1. Besouro da espécie Austrospirachtha carrijoi. |
Besouros termitófilos (1) da família Staphylinidae que habitam a Austrália englobam diversos gêneros e espécie de diferentes tribos na subfamília Aleocharinae. Dentro dessa subfamília, temos o gênero Austrospirachtha, o qual até o momento apenas incluía uma espécie conhecida (A. mimetes) e descrita a partir de dois espécimes coletados em um velho cupinzeiro. Esse gênero é conhecido por um abdômen altamente modificado com aparente propósito de imitar cupins. Agora, no periódico Zootaxa (Ref.1), pesquisadores descreveram mais uma espécie do gênero (A. carrijoi), a qual exibe um fantástico mimetismo: um "fantoche" nas costas quase idêntico a um cupim!
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(1) Insetos termitófilos exibem uma relação simbiótica ou mutualística com cupins, e tipicamente vivem em ninhos de cupins (cupinzeiros).
> Interessante apontar que cupins são baratas, ou seja, pertencem à ordem Blattodea. Fica a sugestão de leitura: Existem baratas coloridas?
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A nova espécie foi encontrada no subsolo, no Território Norte da Austrália, e emula um cupim através de um fenômeno conhecido como fisogastria, onde o abdômen sofre intensa hipertrofia e modificação. O resultado final é uma réplica altamente realística de um cupim sobre o corpo do A. carrijoi, incluindo segmentos corporais e até mesmo três pares de pseudo-apêndices que lembram pernas e antenas (Fig.2). O "fantoche-cupim" parece ajudar o besouro a escapar de detecção dentro de cupinzeiros - apesar dos cupins serem cegos, esses insetos detectam uns aos outros através de toque. Os pesquisadores também especulam que o besouro possa absorver compostos orgânicos chamados de hidrocarbonetos cuticulares a partir dos cupins ou produzir compostos similares em ordem de melhorar o disfarce.
Figura 2. Abdômen modificado do A. carrijoi extremamente parecido com um cupim (visão lateral e de cima). A cabeça bem menor do besouro fica abaixo da falsa cabeça de cupim. |
Devido ao fato das partes bucais do A. carrijoi serem muito pequenas, os pesquisadores acreditam que esse besouro ganha alimento dos cupins hospedeiros ao invés de capturar e comer seus ovos e larvas. Cupins operários alimentam outras castas com alimento digerido através de um processo chamado de trofalaxia - método de alimentação em que um indivíduo transfere para outro o alimento que se encontra dentro do seu próprio tubo digestivo por regurgitação.
Nesse sentido, com o auxílio do seu fantoche-cupim nas costas, o besouro A. carrijoi não precisa se esforçar para garantir abrigo e refeição gratuita, e ainda provavelmente recebe o alimento na boca.
REFERÊNCIAS
- Zilberman & Pires-Silva (2023). A new species and morphological notes on the remarkable termitophilous genus Austrospirachtha Watson from Australia (Coleoptera: Staphylinidae: Aleocharinae). Zootaxa, Vol.5336, No.3:23. https://doi.org/10.11646/zootaxa.5336.3.8
- https://www.science.org/content/article/beetle-grows-termite-back-steal-food