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Cientistas da USP revelam os danos capilares resultantes dos procedimentos de progressiva e descoloração

Figura 1. Fotomontagem destacando danos causados por progressiva e descoloração.

 
Ivanir Ferreira | Jornal da USP - O uso de uma combinação de técnicas [físicas e químicas], entre elas o espalhamento de raios-X, foi capaz de mostrar, pela primeira vez e em escala molecular, os danos que o alisamento ácido - conhecido como escova progressiva - causa ao córtex, à cutícula e às camadas lipídicas da fibra capilar. Das amostras analisadas no Instituto de Física (IF) da USP, as mechas de cabelos mais danificadas foram aquelas que passaram pelo processo de descoloração seguidas de progressiva, que apresentaram um aumento de quatro vezes na porosidade dos fios, resultando em cabelos ressecados, quebradiços, com frizz (aquela aparência de arrepiado quando se vai à praia ou a locais mais úmidos) e pouca elasticidade.


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O cabelo humano é constituído por várias estruturas (1). O córtex fica na camada intermediária com maior quantidade de queratina, água, lipídios, melanina e outras proteínas responsáveis por características como forma, cor, resistência mecânica (força) e elasticidade; a cutícula, parte mais externa do cabelo, confere proteção aos fios através da sobreposição de camadas proteicas; e os lipídios são um tipo de gordura, a oleosidade natural que mantém os fios macios, brilhantes, flexíveis e impermeabilizados com uma camada protetora que os deixa menos vulneráveis a danos externos, além de minimizar a perda de água e nutrientes.


(1) Leitura recomendada:


“Os tratamentos cosméticos, como a descoloração e o alisamento, interagem com o cabelo em nível molecular, induzindo alterações em seus componentes e modificando suas propriedades físico-químicas e mecânicas das fibras”, explicou ao Jornal da USP a autora da pesquisa, a engenheira química Cibele Rosana Ribeiro de Castro Lima, pesquisadora em pós-doutorado no Grupo de Fluidos Complexos do IF. Os fios crespos, enrolados e cacheados se tornam lisos, a cor perde o pigmento e a cutícula degradada perde a capacidade de absorver água e nutrientes, deixando os fios mais hidrofílicos e porosos, exemplifica.


"Os profissionais que realizam esses procedimentos químicos e, principalmente, as pessoas que se submetem a eles, não fazem ideia dos potenciais danos causados na estrutura interna dos fios e da perda da resistência por conta do tratamento", destacou o supervisor da pesquisa, Cristiano L. P. de Oliveira, professor do Departamento de Física Experimental do IF. 


Na pesquisa, foi utilizado um ativo contendo ácido glioxílico associado à carbocisteína que, embora não esteja na “Lista de ativos permitidos para produtos cosméticos para alisamento ou ondulação de cabelos” da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), ainda é muito utilizado no mercado cosmético e pouco explorado na literatura científica, relata Cibele Lima.


Em 2023, a Anvisa atualizou a lista com os ativos permitidos para produtos cosméticos para alisamento: ácido tioglicólico e seus sais, ésteres de ácido tioglicólico, hidróxido de sódio ou potássio, hidróxido de lítio, cálcio hidróxido associado ao sal de guanidina, sulfitos e inorgânicos, bissulfitos e pirogalol e ácido tiolático. Estes, embora alterem as propriedades estruturais da fibra capilar, passaram pelos testes de segurança e toxicidade em relação à saúde de quem aplica e de quem faz uso dos produtos cosméticos. As mechas de cabelos naturais utilizadas no estudo foram obtidas pela pesquisadora de um fornecedor dos Estados Unidos. Elas foram divididas em três grupos: no primeiro, passaram por descoloração; no segundo, alisamento e, no terceiro, as mechas passaram pelos dois procedimentos e foram descoloridas e alisadas.


O espalhamento de raios X identificou, de maneira inédita, que o alisamento ácido causa alteração nas camadas lipídicas, gorduras que formam o complexo de membrana celular que seriam responsáveis por manter os fios macios, brilhantes, flexíveis e impermeabilizados contra agentes externos (Fig.2). “Em torno da fibra capilar, há a formação de uma espécie de filme hidrofóbico que confina as moléculas de água dentro da fibra e dificulta a entrada de produtos cosméticos para seu interior, mesmo em temperaturas aquecidas.


Figura 2. (A) Imagem microscópica do cabelo danificado após o uso de progressiva e descoloração. (B) Imagem microscópica do cabelo virgem - sem alisamento e descoloração. 

“O resultado imediato da escova progressiva é lindo porque o produto forma um filme em torno da superfície do cabelo, deixando os fios brilhantes, alinhados, sedosos, livres de frizz, de volume e ondulações. Entretanto, é uma falsa impressão de que os cabelos estejam saudáveis e tratados," alertou Cibele.


Segundo a pesquisadora, as mechas descoloridas (uma única vez) e alisadas foram as mais danificadas em suas estruturas do córtex e da cutícula. “Isto aconteceu porque o clareamento causa perda de proteínas e lipídios importantes na fibra capilar, deixando o cabelo mais sensível a outros procedimentos de transformação”.


“Vale ressaltar que a grande variação entre os valores de pH destes procedimentos sobrepostos [a descoloração em torno de 10 e o alisamento em torno de 1] acarreta danos ainda mais severos aos cabelos, aumentando ainda mais o porcentual de porosidade total das fibras”, realçou Cibele.


A pesquisa ainda demonstrou outras alterações importantes nos cabelos, como a desnaturação da proteína alfa-queratina (perda estrutural de sua forma original), que dá força e elasticidade à fibra capilar. Neste caso, o dano é diretamente proporcional ao aumento da temperatura ou tempo de permanência da prancha em contato com os cabelos. Quanto maior a temperatura, maior será o dano causado tanto ao córtex quanto à cutícula, e essa mudança de estrutura é irreversível”, avaliou a engenheira química.


> Os resultados da pesquisa, feita em colaboração com a Universidade de Copenhague, Dinamarca, foram publicados no Journal of Applied Cristallography, disponível em acesso aberto, tendo sido escolhido para ser capa da edição de agosto de 2023.


> Matéria original e mais informações: https://jornal.usp.br/ciencias/progressiva-e-descoloracao-danos-ao-cabelo-sao-mostrados-em-escala-molecular/


IMPORTANTE: Alisadores também têm sido associados a um maior risco de desenvolvimento de câncer. Para mais informações: Por que o formol não deve ser utilizado para alisar o cabelo? 

Cientistas da USP revelam os danos capilares resultantes dos procedimentos de progressiva e descoloração Cientistas da USP revelam os danos capilares resultantes dos procedimentos de progressiva e descoloração Reviewed by Saber Atualizado on setembro 27, 2023 Rating: 5

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