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Cientistas da UFMG identificam promissor fármaco contra a disfunção erétil no veneno de uma perigosa aranha

 
Hugo Rafael | UFMG - O aracnídeo da espécie Phoneutria nigriventer [foto acima], pertencente à família dos ctenídeos, é uma aranha encontrada em países da América do Sul, entre os quais, o Brasil. Conhecida popularmente como aranha da bananeira ou armadeira – nome derivado de sua ação de ataque, na qual mantém as patas dianteiras erguidas –, é também uma das espécies mais tóxicas conhecidas em todo o mundo. Seu veneno é capaz de causar, especialmente em homens jovens, uma ereção involuntária e dolorosa, conhecida como priapismo. 


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Essa toxina da aranha, oriunda da biodiversidade Brasileira, identificada por pesquisadores da Fundação Ezequiel Dias (Funed), embora perigosa, pode resultar em um novo medicamento. Ao buscar compreender, do ponto de vista farmacológico, os mecanismos que geram o priapismo ocasionado pelo veneno da aranha armadeira, pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), liderados pela professora Maria Elena de Lima, aposentada do Departamento de Bioquímica e Imunologia do ICB,  em estudo iniciado há quase 20 anos utilizando a toxina, desenvolveram em laboratório uma molécula sintética com propriedades promissoras para o desenvolvimento de fármaco inovador e seguro para tratar a impotência sexual. Até o momento, o peptídeo, batizado de BZ371A, já gerou 22 patentes internacionais e nove aplicadas. 


“É uma pesquisa inspirada pela nossa biodiversidade, que começa com o estudo do veneno de uma aranha e está próxima de gerar um possível medicamento. Isso ajuda a demonstrar por que a nossa fauna deve ser preservada: ela é uma fonte inesgotável de moléculas bioativas, e não conhecemos nem 1% desse potencial. Nosso trabalho, que é de ciência básica, busca identificar atividades biológicas de interesse nos venenos e detectar potenciais modelos de fármacos para uma gama de doenças”, afirmou Maria Elena de Lima.


"A pesquisa, que investigava a atividade da toxina da Phoneutria nigriventer na função erétil, demonstrou, farmacologicamente, qual era o efeito por trás do priapismo”, comentou Maria Elena sobre os estudos iniciais conduzidos em seu laboratório. Embora o veneno cause ereção sem qualquer estímulo sexual, a condição não é desejável. “O priapismo é uma ereção prolongada e dolorosa, que pode levar à necrose do pênis”, alertou a pesquisadora.


O candidato a fármaco para impotência sexual, aprovado recentemente na fase 1 de testes, tem o potencial de atender a homens com disfunção erétil que, por diferentes motivos, não podem fazer uso dos medicamentos hoje disponíveis no mercado. Autorizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a primeira etapa de testes clínicos já provou que o composto não tem toxicidade para humanos. Em teste piloto, realizado em homens e mulheres, os pesquisadores observaram que a aplicação tópica do BZ371A resulta na vasodilatação e no aumento do fluxo sanguíneo local, independentemente de qualquer outro estímulo, facilitando a ereção peniana. Esses resultados indicam que o BZ371A é forte candidato a fármaco eficaz para o tratamento da disfunção sexual. Previamente, essa molécula havia demonstrado eficácia em testes experimentais in vivo com ratos e camundongos.


Atualmente, os medicamentos orais disponíveis para tratar a condição – entre os quais, os conhecidos Viagra (1) e Cialis – pertencem a uma classe de medicamentos que funciona para 70% dos pacientes. Os outros 30%, como homens hipertensos ou com diabetes grave, têm alguma contraindicação para o uso desses remédios, por conta de seus riscos e efeitos colaterais – como hipotensão, desmaio e dor de cabeça – provenientes de exposição sistêmica. Agora, a Biozeus Biopharmaceutical, empresa que adquiriu a patente do potencial fármaco, prepara-se para dar início aos ensaios clínicos da fase 2, em que o BZ371A será testado em homens prostatectomizados que apresentam disfunção erétil.


Diretor executivo da Biozeus, empresa que assumiu a patente e o desenvolvimento do fármaco, Paulo Lacativa cita a UFMG entre as três universidades brasileiras com mais projetos com qualidade na área de produção de medicamentos. “Como empresa que abraçou esse projeto, temos alguns pontos a destacar. O primeiro deles é que esta talvez se torne a primeira vez em que uma descoberta da universidade brasileira resulte numa medicação que seja desenvolvida para todo o mundo. E acreditamos que esse caso bem-sucedido, conduzido por brasileiros no Brasil, com repercussão mundial, talvez seja capaz de mudar todo o ecossistema de inovação de novos fármacos no país”, projeta Lacativa.


(!) ARANHA ARMADEIRA


As aranhas do gênero Phoneutria são membros da família Ctenidae, subordem Labidognatha e ordem Araneidae. Esses aracnídeos habitam florestas da região neotropical no Sul da América Central (Costa Rica) e ao longo da América do Sul, desde o Leste dos Andes até o Norte da Argentina. Essas aranhas são popularmente conhecidas como "aranhas armadeiras" por causa da postura característica adotada por esses animais quando estão ameaçados; na posição de defesa, essas aranhas ficam sobre as pernas traseiras enquanto tipicamente levantam as quatro pernas frontais, resultando em uma "posição armada" (Fig.2). Outro nome popular é "aranha da bananeira", relacionado à preferencia dessas aranhas em se esconder em cachos de banana.


Figura 2. Aranha Phoneutria em posição armada.

Outra característica do gênero Phoneutria é o uso dos fios de seda [teia] apenas para a produção de sacos nos quais os ovos são depositados ou para teias protegendo filhotes. De hábitos noturnos, essas aranhas dependem de rápidos movimentos e eficiente peçonha para a captura de presas e para a defesa. As presas compreendem tipicamente insetos, mas também podem incluir outras aranhas e pequenos vertebrados como roedores e anfíbios (Fig.3). 


Figura 3. Momento em que um indivíduo de Phoneutria nigriventer preda uma fêmea adulta de Dendropsophus elegans (espécie de anfíbio anuro). O evento de predação ocorreu em Viçosa, Minas Gerais, sudeste do Brasil. Ref.2

Envenenamento de humanos envolvendo espécies de Phoneutria ocorrem principalmente aqui no Brasil, mas existem relatos de casos esporádicos na América Central e em países vizinhos. Exportação de bananas da América Latina para a Europa já resultou em acidentes em países como Reino Unido e Holanda. Apesar do veneno ser altamente neurotóxico, a quantidade inoculada através da mordida é geralmente muito pequena para induzir efeitos letais - nesse sentido, a maioria dos acidentes envolvendo humanos resultam em quadros leves e apenas <0,5% são severos. Casos letais podem ocorrer com mordidas envolvendo aranhas fêmeas, essas as quais podem injetar uma quantidade de veneno significativamente maior do que os machos.


As manifestações clínicas de intoxicação sistêmica severa por mordida de Phoneutria são geralmente observados em idosos e crianças. Ereção peniana ou priapismo (ereção dolorosa) é um dos sinais mais notados desse tipo de intoxicação. Outras manifestações clínicas frequentemente reportadas são convulsões, agitação, sonolência, náusea, suor profuso e vômito, lacrimação, salivação excessiva, hipertensão, taquicardia, taquipneia, tremores e paralisia espástica.


No Brasil, as espécies P. nigriventer, P. keyserlingi, P. pertyi, P. bahiensis e P. eickstedtae são encontradas na Mata Atlântica e em fragmentos de floresta no Cerrado.  


A Phoneutria nigriventer é a mais amplamente distribuída no Brasil, sendo encontrada nos estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina and Rio Grande do Sul. Essa espécie é muito agressiva e solitária. Devido à sua natureza sinantrópica - ou seja, ocupação de ambientes associados a atividades humanas -, a P. nigriventer está envolvida em um alto número de acidentes com humanos, muitos dos quais severos. Seu veneno é um complexo coquetel constituído por mais de 150 componentes proteicos/peptídicos. As toxinas PnTx2-5 e PnTx2-6 - presentes nas aranhas armadeiras em geral - estão associadas ao efeito de ereção peniana, ao agir em canais de sódio [vasodilatação] e aumentar o nível de óxido nitroso (NO) no tecido cavernoso do órgão peniano.


> Matéria original e mais informações (via UFMG): 

https://ufmg.br/comunicacao/noticias/pesquisadores-da-ufmg-identificam-em-veneno-de-aranha-potencial-farmaco-contra-a-disfuncao-eretil


(1) Leitura recomendada: Viagra pode ajudar no tratamento e na prevenção de Alzheimer, aponta estudo


REFERÊNCIAS

  1. Peigneur et al. (2018). Phoneutria nigriventer venom: A pharmacological treasure. Toxicon, 151, 96–110. https://doi.org/10.1016/j.toxicon.2018.07.008
  2. http://boletim.sambio.org.br/pdf/26_04.pdf
  3. Nunes et al. (2008). Tx2-6 toxin of the Phoneutria nigriventer spider potentiates rat erectile function. Toxicon, 51(7), 1197–1206. https://doi.org/10.1016/j.toxicon.2008.02.010
  4. https://doi.org/10.1016/j.niox.2021.04.007
  5. https://www.scielo.br/j/jvatitd/a/rtKchPb89ncNC6Hk6P47QVt/
  6. https://doi.org/10.3389/fmolb.2022.831823
Cientistas da UFMG identificam promissor fármaco contra a disfunção erétil no veneno de uma perigosa aranha Cientistas da UFMG identificam promissor fármaco contra a disfunção erétil no veneno de uma perigosa aranha Reviewed by Saber Atualizado on setembro 13, 2023 Rating: 5

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