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Hipopótamos de Pablo Escobar estão deflagrando um caos na Colômbia e dividindo o país

Figura 1. Hipopótamo-comum nadando no Rio Magdalena, Colômbia, próximo de uma ex-propriedade de Pablo Escobar.

 

- Atualizado no dia 15 de novembro de 2023 -

 

Na Colômbia, um grave problema ambiental vêm ganhando proporções cada vez maiores: os hipopótamos de um dos maiores narcotraficantes do mundo, Pablo Escobar, estão se multiplicando e ameaçando ecossistemas no país.


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Hipopótamos-comuns - mamíferos semiaquáticos de grande porte da espécie Hippopotamus amphibius (!) e nativos do continente Africano - inicialmente escaparam de uma das propriedades de Escobar quando esse foi morto em 1993. O narcotraficante tinha importado ilegalmente os animais de um zoológico dos EUA, um macho e três fêmeas, no ano de 1981, para introduzi-los em um zoológico particular em Hacienda Nápoles (Fig.2). Após a morte de Escobar, os hipopótamos foram abandonados devido à dificuldade de transportá-los para novos habitats e, nesse sentido, começaram a se reproduzir e se dispersar para o ambiente ao redor do zoológico. 


Figura 2. Fotos do local de introdução dos hipopótamos em Hacienda Nápoles. (a) Uma extensão do lago próximo de Hacienda Nápoles onde moram três hipopótamos. (b) Uma placa próximo do lago alertando os visitantes que os hipopótamos são os animais mais perigosos do mundo e que o lago é território deles (termina com "NÃO INVADAM O LAGO"). Ref.2


Figura 3. Grupo principal de hipopótamos que habitam o lago localizado no Parque Temático de Hacienda Nápoles.

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(!) Hipopótamos pertencem à família Hippopotamidae, a qual é representada hoje por apenas duas espécies vivas: hipopótamo-comum (H. amphibius) - e cujos machos podem somar uma massa de até 4,5 toneladas - e o hipopótamo-pigmeu (Choeropsis liberiensis) - cujos indivíduos não ultrapassam 80 cm de altura até o ombro e somam uma massa inferior a 300 kg. 
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Após se estabelecerem no Rio Magdalena e alguns lagos próximos, os hipopótamos começaram a se multiplicar nos anos seguintes. Em 2009, estima-se que a população cresceu para 28 hipopótamos, e, nessa época, um agressivo hipopótamo macho foi abatido por autoridades ambientais. A morte do hipopótamo causou uma grande comoção nacional e internacional de ativistas de direitos dos animais, levando o judiciário do país a banir a caça de hipopótamos, mesmo com críticas contrárias dos cientistas. Livres e protegidos, a população total de hipopótamos na Colômbia ultrapassou rapidamente 100 indivíduos na década seguinte.


Com a proibição da caça, outras medidas de controle populacional têm sido propostas e colocadas em prática - porém, de maneira limitada. Esterilização cirúrgica dos hipopótamos machos começou em 2011, mas, até o momento, apenas 10 machos foram tratados, parcialmente devido aos custos e desafios associados com esse procedimento (captura, anestesia, transporte por helicóptero e operação cirúrgica em si) (Fig.4) (!). Castração química também foi proposta e empregada, mas, desde 2021, apenas 24 indivíduos foram tratados com essa via e efetividade a médio e longo prazo é incerta. Eutanásia humana também chegou a ser proposta como opção em certas situações, apesar da opinião pública ser fortemente dividida nesse sentido.


Figura 4. Jaula usada para o transporte de hipopótamos na Colômbia. Como esses animais passam grande parte do dia submersos em água, captura segura pode ser bastante complicada.

Nesse contexto, e considerando que os hipopótamos não possuem predadores naturais na Colômbia e estão se acasalando a taxas estáveis (crescimento populacional de ~9,6%/ano), estimativas recentes sugerem que o número hipopótamos pode somar acima de 1000 indivíduos até 2050 (Ref.2). Próximo de 2022, estima-se que existiam aproximadamente 91 hipopótamos no meio do Rio Magdalena. Em todo o território nacional, estima-se hoje um total mínimo de ~181 indivíduos e máximo de ~215 (Ref.3).


O Rio Magdalena possui uma extensão de 1540 km e é um patrimônio mundial, e cerca de 80% da população Colombiana depende desse corpo fluvial. Cientistas alertam que a biodiversidade (fauna e flora) e composição química do rio está ameaçada pelos hipopótamos invasores, e a territorialidade, competitividade por recursos e agressividade desses animais ameaçam diretamente outras espécies terrestres e aquáticas na região, incluindo humanos (Fig.5).


Figura 5. Bezerros esmagados e atropelados por um hipopótamo macho muito agressivo morando no rio San Bartolo, em Puerto Berrío, Colômbia. Fotos: Corantioquia/gov


Medidas hoje propostas para efetivo controle populacional e remoção desses animais do ambiente Colombiano a longo prazo são estimadas de custarem pelo menos US$1-2 milhões - e ainda assim hipopótamos podem persistir no país pelos próximos 50-100 anos (Ref.2). E esse é um custo que cria resistência no orçamento governamental. Atraso na aplicação das ações de controle populacional podem aumentar o custo mínimo em 2,5x e alguns métodos podem se tornar inviáveis (Ref.2).


Porém, enquanto cientistas pedem ações urgentes para reduzir dramaticamente a população dos hipopótamos invasivos no sentido de prevenir severos impactos ecológicos e sociais a longo prazo, a questão polarizou o país, com muitos ativistas da causa animal pressionando para que o governo projeta os hipopótamos.


Parte da população também simpatizou pelos hipopótamos e outros defendem que esses animais atraem turistas, em particular pessoas de Puerto Tríunfo que veem esses grandes mamíferos como alívio econômico imediato. "De longe eles fazem leis. Nós vivemos com os hipopótamos aqui e nós nunca pensamos em matá-los... os hipopótamos não mais são Africanos, eles são Colombianos," uma opinião comum do povo de Puerto Triunfo criticando medidas de controle populacional dos hipopótamos na região propostas por entidades governamentais (Ref.4). Nesse último ponto, a própria Ministra do Meio Ambiente na Colômbia, Susana Muhamed, chegou a declarar que irá proteger os hipopótamos.


"Se nós não fizermos nada, em 20 anos o problema não terá mais solução," disse a bióloga conservacionista Nataly Castelblanco Martínez em entrevista (Ref.1).

 

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(!) ATUALIZAÇÃO:  O governo da Colômbia começou uma nova campanha de esterilização para controlar a população invasiva de hipopótamos no Rio Magdalena. O plano é capturar, anestesiar e esterilizar inicialmente 20 hipopótamos até o final de 2023. Investimento é de US$200 mil para este ano. Cada castração cirúrgica está envolvendo um time de 8 pessoas - incluindo veterinários, técnicos e equipe de suporte - e duração entre 6 e 8 horas. Até o momento, 3 hipopótamos foram esterilizados. Nos próximos anos, são esperadas esterilizações totalizando 40 hipopótamos anualmente. Ref.5

> Existem também propostas concretas de exportação de parte dos animais, mesmo com os elevados custos envolvidos. Por exemplo, compradores particulares no México e na Índia já se ofereceram para adquirir 70 hipopótamos na Colômbia, visando colocá-los em santuários. Ref.5

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REFERÊNCIAS

  1. https://www.nature.com/articles/d41586-023-00606-z
  2. Subalusky et al. (2023). Rapid population growth and high management costs have created a narrow window for control of introduced hippos in Colombia. Scientific Reports 13, 6193. https://doi.org/10.1038/s41598-023-33028-y
  3. https://www.minambiente.gov.co/wp-content/uploads/2023/04/DA_PROCESO_22-22-34390_132001000_113971031.pdf 
  4. https://jps.library.utoronto.ca/index.php/writing/article/view/40541
  5. https://www.nature.com/articles/d41586-023-03516-2

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