Raríssimo fóssil captura um mamífero atacando um dinossauro no Cretáceo

Figura 1. Esqueletos fossilizados de um Psittacosaurus (dinossauro) e de um Repenomamus (mamífero) retratando um evento de predação. Barra de escala = 10 cm. Ref.1

Cientistas Canadenses e Chineses descreveram um par de fósseis muito bem preservado e único datado em ~125 milhões de anos atrás que retrata o dramático momento quando um mamífero carnívoro atacava um dinossauro não-aviário herbívoro de maior porte. O fantástico achado foi descrito esta semana em um estudo publicado no periódico Scientific Reports (Ref.1) e desafia a ideia de que dinossauros durante o Cretáceo não eram ameaçados por mamíferos.

"Os dois animais estavam travados em um combate mortal, intimamente entrelaçados, e representam uma das primeiras evidências mostrando real comportamento predatório de um mamífero contra um dinossauro [não-aviário]," disse em entrevista o Dr. Jordan Mallon, um paleobiólogo do Museu Canadense da Natureza e co-autor do novo estudo (Ref.2).

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Dinossauros e mamíferos coexistem há pelo menos ~230 milhões de anos. Ambos os grupos emergiram durante o Triássico Tardio e se diversificaram ao longo do Mesozoico e no Cenozoico - nesse último caso na forma de dinossauros aviários, incluindo as aves modernas, após o evento de extinção em massa do Cretáceo há cerca de 66 milhões de anos. Mamíferos do Mesozoico (entre ~251 milhões e 65 milhões de anos atrás) são comumente retratados como sobreviventes à sombra dos grandes dinossauros carnívoros, apenas focados em fugir de serem devorados. De fato, conteúdos fossilizados de pequenos mamíferos dentro da cavidade digestiva de dinossauros têm sido descobertos, suportando essa narrativa. Nesse sentido, não teria sido até a extinção dos dinossauros não-aviários que mamíferos cresceram um maior porte e passaram a regularmente predar sobre a avifauna disponível.

Porém, antagonismo dinossauro-mamífero durante o Mesozoico não era estritamente unilateral. Registro fóssil na China traz evidência de vestígios de filhotes do gênero Psittacosaurus - um grupo de dinossauros herbívoros - dentro da cavidade digestiva da espécie Repenomamus robustus - um mamífero carnívoro. Dinossauros Psittacosaurus tinham o tamanho de um cão de grande porte, viviam na Ásia durante o Cretáceo Inferior (~125 a 105 milhões de anos atrás) e estão entre os mais antigos dinossauros com chifres conhecidos e pertencentes a uma linhagem ancestral ao famoso Triceratops. Já a espécie R. robustus era similar a um texugo, e representava um dos maiores mamíferos durante o Cretáceo.

No novo estudo, os pesquisadores detalharam mais uma evidência de predação do R. robustus sobre um Psittacosaurus e, dessa vez, uma evidência mais do que explícita. O par de fósseis é o primeiro do tipo conhecido, retratando a predação de um mamífero sobre um dinossauro no Cretáceo, e foi descoberto em 2012, na Província de Liaoning, China. Análise geológica e método de datação radioativa usando Urânio-Chumbo (U-Pb) apontaram uma idade dos fósseis pouco superior a 125 milhões de anos atrás (1). Investigação anatômica dos fósseis mostrou que o Psittacosaurus [espécie P. lujiatunensis] estava deitado de prono, com seus membros traseiros dobrados sobre cada lado do seu corpo (Fig.2). O corpo do R. robustus estava enrolado à direita e sobre a presa, com o mamífero agarrando a mandíbula do dinossauro de maior porte; mordendo parte das costelas; e com a parte de trás do pé agarrando a perna traseira do dinossauro (Fig.2-3).

Figura 2. Par P. lujiatunensis-R. robustus travado em um combate mortal. Nos destaques, da esquerda para a direita: mão do R. robustus envolta ao redor da mandíbula do dinossauro; dentes do R. robustus embebidos no antebraço do dinossauro; pé traseiro do R. robustus envolto ao redor do membro traseiro do dinossauro. Barra de escala = 10 cm. Ref.1

Figura 3. Destaque ampliado mostrando o R. robustus mordendo as costelas do P. lujatunensis. Ref.1

(1) Leitura recomendada: Como calcular a idade dos fósseis e da Terra?

Segundo os pesquisadores, todas as evidências apontam para um ataque ativo de predação, e não apenas um simples ato carniceiro (consumo do dinossauro já morto). Os ossos do dinossauro não tinham marcas de dente; é improvável que o dinossauro e o mamífero ficariam tão entrelaçados se não fosse em um contexto de predação ativa; e a posição do R. robustus sobre o Psittacosaurus suporta o primeiro como um agressor.

Figura 4. Reconstrução artística a partir do par de fósseis mostrando o P. lujatunensis sendo atacado pelo R. robustus. Ref.1

Os pesquisadores estimaram que o dinossauro predado tinha uma massa corporal próxima de 11 kg e uma idade de pelo menos 6,5 anos no momento da morte. Já o mamífero predador teria próximo de 3,5 kg, e provavelmente era um sub-adulto quando morreu. O cenário proposto de morte envolve um súbito fluxo de detritos vulcânicos, enterrando rapidamente e preservando os ossos de ambos no momento da predação.

Figura 5. Ilustração mostrando o R. robustus atacando o P. lujatunensis, momentos antes de detritos vulcânicos enterrarem ambos há cerca de 125 milhões de anos. O mamífero predador possuía um porte 3 vezes menor do que a potencial presa. Ref.1

REFERÊNCIAS