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Suplementação com taurina prolonga a vida e melhora a saúde, aponta estudo


- Atualizado no dia 15 de novembro de 2023 - 

Taurina é um aminoácido comum na constituição de energéticos e bastante usado como suplemento alimentar por praticantes de musculação. Semi-essencial, é produzido no corpo e obtido da dieta a partir especialmente de carnes e laticínios. Agora, em um estudo publicado na Science (Ref.1), pesquisadores encontraram que deficiência nesse nutriente parece estar intimamente ligada com o processo de envelhecimento do corpo. Em experimentos com vermes, roedores e primatas não-humanos, a suplementação com taurina mostrou aumentar significativamente a longevidade e o status de saúde desses animais. E mais: o declínio de taurina no corpo de humanos [evidência observacional] mostrou estar também fortemente ligado ao status de saúde e de marcadores de envelhecimento.


"Este estudo sugere que a taurina pode ser um elixir da vida dentro de nós que nos ajuda a viver mais e com mais saúde," disse o autor principal do estudo, Dr. Vijay Yadav, pesquisador e professor da Universidade de Columbia, EUA (Ref.2).


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Envelhecimento é um processo complexo que afeta todos os órgãos (1). O declínio idade-induzido nas funções de órgãos envolve vários eventos célula-autônomos chamados "marcadores de idade". Os principais marcadores de idade incluem instabilidade genômica, sensibilidade desregulada de nutrientes, disfunção mitocondrial, exaustão de células-tronco, e acúmulo de células senescentes. Nas últimas duas décadas, esforços científicos para identificar intervenções antienvelhecimento que reduzem morbidades e aumentam a longevidade têm sido intensificados. Isso levou à identificação de vários compostos suspeitos de aumentar a expectativa de vida saudável (período de vida gasto com boa saúde) como rapamicina, metformina, precursores de  nicotinamida adenina dinucleotídeo (NAD), senolíticos e alfacetoglutarato (AKG) (2).


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Nesse último ponto, marcadores de envelhecimento também estão associados com mudanças nas concentrações de metabólitos endógenos, hormônios e micronutrientes no sangue. No entanto, é incerto se essas mudanças são causais ou apenas consequentes do processo de envelhecimento. Se uma molécula no sangue está promovendo senescência, então reversão dos níveis dessa substância para níveis observados na juventude atrasaria o envelhecimento e aumentaria a longevidade.


Taurina (ácido 2-aminoetanossulfônico) é o principal aminoácido intracelular livre da maior parte dos tecidos dos mamíferos e um dos mais abundantes aminoácidos encontrados em organismos ao longo do filo eucariótico (cujas células são mais complexas do que as células bacterianas e Archaea). A taurina é um micronutriente semi-essencial nos humanos, e é produzida a partir da cisteína através da ação da enzima cisteína ácido sulfônico descarboxilase (CSD). Nos humanos, concentração intracelular de taurina varia aproximadamente entre 5 e 20 μmol/g em vários tecidos, particularmente em tecidos excitáveis, incluindo a musculatura esquelética, coração e cérebro (Ref.3). As principais fontes na dieta desse aminoácido são carne, mariscos, vegetais marinhos e laticínios. Exercícios físicos representam um crucial fator de fomento à biossíntese endógena de taurina a partir de cisteína.


A taurina possui múltiplos papéis fisiológicos, incluindo interação com canais de íons, estabilização de membrana celular e osmorregulação celular. Taurina possui uma potencial ação de prevenção a danos oxidativos e restauração da função muscular em desordens musculares. Além disso, homeostase de cálcio regulada por taurina pode aumentar os níveis de proteínas cálcio-ligantes durante contração muscular, resultando em maior força muscular e resistência física. Por esses alegados benefícios, taurina é um suplemento alimentar popular entre fisiculturistas, mesmo esse aminoácido possuindo pouco ou nenhum papel na síntese proteica. Suplementação com taurina aliada com exercícios físicos está associada com redução de danos ao DNA (Ref.3).


A deficiência em taurina em indivíduos mais jovens e em desenvolvimento causa prejuízos na musculatura esquelética, olhos e sistema nervoso central que estão relacionados a desordens associadas com o avanço da idade. Além disso, concentrações de taurina e dos seus metabólicos em alguns tecidos são reduzidas ao longo da vida, e suplementação aguda com taurina em animais jovens melhoram as funções em vários órgãos. Em estudos clínicos de pequeno porte, suplementação com esse aminoácido está ligada a benefícios em doenças metabólicas e inflamatórias. Evidência mais recente inclusive aponta que mulheres com transtorno depressivo maior exibem níveis significativamente menores de taurina no hipocampo, e suplementação é sugerida de potencialmente aliviar sintomas do transtorno (Ref.). Taurina atua de forma crítica na geração, diferenciação e arborização neuronal, e formação de conexões sinápticas (incluindo no hipocampo).


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No novo estudo, os pesquisadores primeiro mediram as concentrações de taurina em ratos, macacos e humanos de diferentes idades. Eles descobriram que em macacos (Macaca mulatta) com 15 anos de idade, concentrações circulantes de taurina eram 85% menores do que em macacos com 5 anos de idade. Em ratos (Mus musculus), níveis de taurina também declinavam de forma robusta com o avanço da idade e os pesquisadores encontraram que os roedores sem expressão do principal transportador de taurina tinham uma longevidade na vida adulta bem menor. De forma similar, níveis de taurina foram observados de reduzir em mais de 80% ao longo da vida humana (Fig.1).

Figura 1. Níveis circulantes (soro sanguíneo) de taurina em ratos (A) e humanos (B) em diferentes idades. Em indivíduos humanos com 60 anos de idade, os níveis de taurina são apenas ~1/3 daqueles encontrados em crianças com 5 anos de idade.

Os pesquisadores então conduziram experimentos em ratos, vermes e macacos-Rhesus envolvendo suplementação com taurina. Reversão no declínio dos níveis de taurina através da suplementação aumentou a expectativa de vida de vermes (Caenorhabditis elegans) e ratos de ambos os sexos em até 23% e 12%, respectivamente; nos ratos, suplementação foi feita com uma dose diária de 1000 mg (1 g) por quilo (kg) de massa corporal a partir de 14 meses de idade (meia-idade) até o resto da vida, com uma média de aumento na expectativa de vida de 10 a 12%. Esse regime de suplementação (1 g/kg/dia) restaurou os níveis de taurina circulante equivalente a ratos de 4 semanas de idade. Notavelmente, em ratos de meia-idade, administração oral de taurina a doses de 0,5 g e 1 g/kg/dia por 10 a 12 meses mostrou estar associada com melhoras na força, coordenação e funções cognitivas, e desacelerou vários importantes marcadores de idade, incluindo senescência celular, danos mitocondriais e no DNA, e níveis de inflamação. Em macacos de meia-idade, suplementação positivamente afetou a saúde óssea, metabólica e imunológica. 


Em todos os experimentos, grupos de controle e de intervenção foram submetidos ao mesmo ambiente e acesso à mesma ração alimentar (quantitativamente e qualitativamente). Animais suplementados com taurina consistentemente estavam vivendo mais e de forma mais saudável. A nível celular, suplementação com taurina reduziu o número de "células zumbis" (células velhas que deveriam morrer mas que persistem no organismo liberando substâncias tóxicas), aumentou o número de células-tronco presentes em alguns tecidos (as quais podem ajudar na regeneração de tecidos lesionados), melhorou a performance das mitocôndrias, reduziu danos no DNA e melhorou a habilidade das células de sentir nutrientes.


Finalmente, os pesquisadores analisaram a relação entre níveis de taurina e aproximadamente 50 parâmetros de saúde em 12 mil adultos Europeus com idades de 60 anos ou mais. No geral, pessoas com maiores níveis de taurina eram mais saudáveis, com menos casos de diabetes tipo 2, menores níveis de obesidade, hipertensão reduzida, e menores níveis de inflamação. Além disso, os pesquisadores mediram os níveis de taurina antes e após uma variedade de atletas (corredores, fisiculturistas naturais, etc.) e indivíduos sedentários do sexo masculino realizarem um vigoroso treino físico; níveis de taurina aumentaram de forma significativa nos dois grupos após os exercícios físicos, corroborando estudos clínicos prévios. 


O aumento nos níveis de taurina no sangue após exercícios físicos pode explicar parte dos efeitos positivos na saúde e na longevidade associados a esse tipo de atividade.


As doses usadas para suplementar os ratos nos experimentos variaram entre 15 e 30 miligramas de taurina por dia dependendo da idade, algo que seria equivalente a 3-6 gramas de taurina por dia em um humano adulto de 80 kg. Esse valor está dentro dos limites de segurança de acordo com Autoridade de Segurança Alimentar Europeia, e é similar às doses diárias geralmente recomendadas como suplemento visando treinos aeróbicos e anaeróbicos (6 g - tipicamente 2 g três vezes ao dia). Um típico energético (bebida) contém cerca de 1 grama de taurina.  


Porém, enquanto suplementação com taurina parece ser uma promissora opção terapêutica contra o avanço do envelhecimento, estudos clínicos randomizados em humanos são necessários para confirmar os efeitos positivos na longevidade e na saúde observados nos experimentos (!). Além disso, é incerto se doses de taurina usadas em ratos são diretamente equivalentes em humanos para os mesmos benefícios em termos de longevidade.


Trabalhos futuros também precisam esclarecer os mecanismos moleculares e celulares exatos responsáveis pelos efeitos antienvelhecimento da taurina (!). Várias biomoléculas são produzidas no corpo com contribuição da taurina, como N-clorotaurina, sulfeto de hidrogênio (H2S), ácido isetiônico, N-acetiltaurina e τm5U-tRNA, e que podem atuar em diferentes células, componentes celulares (ex.: mitocôndrias) e tecidos. A τm5U-tRNA parece interferir na homeostase mitocondrial. 


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(!) Importante realçar que os resultados do novo estudo corroboram um estudo Brasileiro de 2022 conduzido na Universidade de São Paulo (USP) envolvendo 24 voluntárias [humanas] do sexo feminino entre 55 e 70 anos e investigando os efeitos da suplementação de taurina (1,5 g/dia) (Ref.6). O estudo - randomizado e placebo-controlado -  encontrou um aumento de quase 20% na concentração da enzima superóxido dismutase (SOD) no grupo que recebeu taurina – enquanto no grupo-controle essa enzima diminuiu 3,5%. Essa enzima protege a célula das reações danosas do radical superóxido. Além da enzima SOD, um biomarcador de estresse oxidativo chamado malondialdeído aumentou [média] em 23% no grupo-controle e diminuiu em 4% nos indivíduos que tomaram taurina. Esses achados suportam que a taurina parece agir reduzindo o estresse oxidativo e reforçam o potencial antienvelhecimento com a suplementação desse aminoácido. 

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REFERÊNCIAS

  1. Singh et al. (2023). Taurine deficiency as a driver of aging. Science, Vol. 380, Issue 6649. https://doi.org/10.1126/science.abn9257
  2. https://www.cuimc.columbia.edu/news/taurine-may-be-key-longer-and-healthier-life
  3. Chen et al. (2021). The Dose Response of Taurine on Aerobic and Strength Exercises: A Systematic Review. Frontiers in Physiology, 12:700352. https://doi.org/10.3389%2Ffphys.2021.700352 
  4. https://www.science.org/content/article/amino-acid-energy-drinks-makes-mice-live-longer-and-healthier
  5. https://www.nature.com/articles/d41586-023-01910-4
  6. Freitas et al. (2022). Taurine as a possible antiaging therapy: A controlled clinical trial on taurine antioxidant activity in women ages 55 to 70. Nutrition, Volume 101, 111706. https://doi.org/10.1016/j.nut.2022.111706
  7. Cheong et al. (2023). Association between taurine level in the hippocampus and major depressive disorder in young women: a proton magnetic resonance spectroscopy study at 7 Tesla. Biological Psychiatry. https://doi.org/10.1016/j.biopsych.2023.08.025

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