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Cientistas concluíram que esse pingente é a primeira arte fálica conhecida, feito há 42 mil anos

Figura 1. Pingente de grafite, representando o que parece ser um falo.

 
Expressões artísticas (esculturas, desenhos, etc.) envolvendo a genitália humana são comuns desde a Antiguidade, especialmente representações fálicas. Em um estudo publicado essa semana na Scientific Reports (Ref.1), pesquisadores reportaram e descreveram o que pode ser a mais antiga representação conhecida de um pênis humano. No caso, um pingente de 4,3 cm (Fig.1), esculpido em grafite, e que os pesquisadores concluíram ser "a mais antiga representação antropomórfica sexo-baseada conhecida".


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A emergência da capacidade de materializar símbolos na linhagem evolutiva humana (gênero Homo) é um tópico de intenso debate no campo da Paleoantropologia. A produção de desenhos e gravuras abstratas e o uso de pigmentos e ornamentos pessoais, tradicionalmente pensados de serem exclusivos da nossa espécie (Homo sapiens), têm sido associados também com outras espécies humanas, como os Neandertais (Homo neanderthalensis) (1). Nesse contexto, é sugerido inclusive que tal habilidade cognitiva pode ter emergido gradualmente através de múltiplas interações culturais e biológicas entre diferentes espécies humanas que coexistiram no passado, ou mesmo interação com outros homininis fora do gênero Homo


(1) Para mais informações: Neandertais eram capazes de produzir arte e expressar linguagem?


Comportamentos simbólicos muito antigos parecem ter emergido muito antes da chegada de populações de humanos modernos (H. sapiens) na Eurásia, sugerindo que algum simbolismo emergiu seguindo dois caminhos distintos: um específico às populações da Idade da Pedra Média Africana e o outro enraizado no Paleolítico Médio e as populações de humanos arcaicos vivendo na Europa (ex.: Neandertais) e na Ásia (ex.: Denisovanos).


Ornamentos pessoais são artefatos cruciais no sentido de sinalizarem antigos comportamentos simbólicos, e são achados comuns associados aos humanos modernos desde a transição do Paleolítico Médio para o Paleolítico Superior. Na Eurásia, antes desse período transitório, evidência para a produção e uso de ornamentos pessoais é limitada e controversa. Vários artefatos nesse sentido feitos com conchas, penas e ossos têm sido encontrados em vários locais atribuídos aos Neandertais entre 130 e 50 mil anos atrás (1). Mas ornamentos simbólicos reportados são tão antigos quanto 142 mil anos.


Ornamentos pessoais feitos de dentes de mamíferos, marfim de mamutes, cascas de ovos de avestruzes e ossos tubulares de pequenos carnívoros e aves, assim como diferentes tipos de pedras macias, têm sido documentados na Caverna de Denisova, no Paleolítico Superior, onde os primeiros fósseis de Denisovanos foram encontrados (2). Porém, devido à complexa ocupação do local por Neandertais, Denisovanos e humanos modernos, os responsáveis pela manufatura desses artefatos são incertos.


(2) Leitura recomendada: Denisovanos e a suruba interespécies na Ásia


No novo estudo, os pesquisadores descreveram um pingente de grafite encontrado no sítio de Tolbor-21, no norte das Montanhas de Khangai, na Mongólia. Através de datação com radiocarbono (3) de materiais orgânicos encontrados próximos do pingente (camada sedimentar escavada), uma idade de 42 mil anos foi determinada para o artefato (época de manufatura), variando entre 42410 e 41950 anos atrás. Análise de outros elementos arqueológicos (ex.: ferramentas de pedra e artefatos) na camada sedimentar e da posição estratigráfica também corroboraram uma origem no início do Paleolítico Superior. Junto com o pingente de grafite foram encontrados dois pingentes fragmentados e duas contas feitos com casca de ovo de avestruz, três pingentes feitos com pedras macias (intacto e fragmentados), e 115 fragmentos ósseos de espécies diversas, incluindo equídeos (Fig.2). 



Figura 2. Ornamentos pessoais e peças não-lapidadas no local Tolbor-21: (1-4) contas feitas com casca de ovo de avestruz; (3,6) pingente de serpentina e peça não-lapidada; (5) conta de esteatita; (7) pingente de pirofilita. Ref.1


O pingente de grafite tinha 43,4 mm de comprimento, 21,4 mm de largura e 13,9 mm de espessura. O lado convexo do pingente estava parcialmente quebrado e coberto com concreções brancas (calcita) tanto na parte quebrada quanto na superfície intacta (Fig.3). A ranhura central na peça provavelmente servia para suspender o pingente, através de uma corda feita ou com fibras vegetais, couro ou tendão. Nesse sentido, fica sugerido que o pingente era usado no pescoço. Os padrões de desgaste na peça sugerem que o pingente foi usado e passado ao longo de múltiplas gerações. Como grafite é um material pouco disponível perto de Tolbor-21, é possível que o pingente tenha vindo de outra região, talvez através de trocas.


Figura 3. Visão geral do pingente de grafite. Em destaque, uma notável ranhura proposta de representar uma abertura uretral. O artefato foi produzido com o auxílio de ferramentas de pedra. Ref.1

Após múltiplas análises macroscópicas e microscópicas do pingente de grafite, os pesquisadores concluíram que a peça era uma representação fálica. Em específico, eles apontaram que dois notáveis traços foram muito bem trabalhados durante a manufatura do artefato: uma ranhura na ponta do pingente representando a abertura uretral de um pênis e a ranhura central separando a glande do tronco peniano, como destacado na Fig.3. Ou seja, a corda do pingente ficaria amarrada ao redor da glande.


Apesar do pingente não deixar claramente explícita a representação fálica, os autores do estudo lembram que simbolismos dependem de convenções estilísticas compartilhadas entre o artista e os observadores. Representações simplificadas no limite da abstração são comuns no registro pré-histórico, onde certos atributos característicos são mais enfatizados do que a forma perfeita daquilo sendo representado. Por exemplo, a Vênus de Willendorf, uma pequena e famosa escultura simbólica produzida por humanos modernos há cerca de 30 mil anos, é uma figura bem simplista de uma mulher, representada por vagos perfis curvilíneos (3).


(3) Para mais informações: Mistério pode ter sido resolvido sobre a origem dessa estatueta feminina de 30 mil anos atrás


Caso o pingente realmente reflita um falo, o achado não apenas reforça a noção que algumas das mais antigas formas de pensamento simbólico eram representadas por ornamentos pessoais, como também marca o mais antigo simbolismo genital ou sexual conhecido. Até o momento, o mais antigo simbolismo genital eram vulvas desenhadas na Gruta Chauvet, França, datadas em 32 mil anos atrás (Fig.4).


Figura 4. As vulvas desenhadas na Gruta Chauvet (A) são representadas por três linhas determinando o triângulo púbico (B), completado pela abertura vulvar - em uma vulva, é apenas uma linha, enquanto na outra a abertura é mais detalhada. A abertura diferenciada pode ter um valor simbólico associado com a gravidez. Ref.3

É incerto, porém, as funções sociais e ritualísticas do simbolismo masculino associado ao pingente fálico. Como é uma peça pequena e com o traço da uretra provavelmente difícil de ser notado durante o uso do pingente, é possível que o pingente tivesse tido significado ou importância apenas para o usuário. Simbolismo fálico em diferentes contextos temporais e culturais está associado com múltiplos significados, como fertilidade, masculinidade, evidência que sociedades já conheciam princípios biológicos da reprodução, ritos de passagem relacionados à maturidade individual de indivíduos, ou mesmo um objeto de adoração religiosa.


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Cronologicamente, a idade estimada para o pingente coincide com eventos iniciais de introgressão - fluxo genético via hibridização - entre humanos modernos e Denisovanos (2). Além disso, o Vale de Tolbor - englobando o local onde o pingente fálico foi encontrado - está entre as regiões que plausivelmente marcaram encontros físicos entre Denisovanos e a nossa espécie. Dinâmicas populacionais envolvendo essas duas espécies podem ter fomentado inovações culturais, resultando talvez na emergência do simbolismo fálico.


REFERÊNCIAS

  1. Rigaud et al. (2023). Symbolic innovation at the onset of the Upper Paleolithic in Eurasia shown by the personal ornaments from Tolbor-21 (Mongolia). Scientific Reports 13, 9545. https://doi.org/10.1038/s41598-023-36140-1
  2. https://www.science.org/content/article/42-000-year-old-mongolian-pendant-may-be-earliest-known-phallic-art
  3. https://archeologie.culture.gouv.fr/chauvet/en/vulva-panel

Cientistas concluíram que esse pingente é a primeira arte fálica conhecida, feito há 42 mil anos Cientistas concluíram que esse pingente é a primeira arte fálica conhecida, feito há 42 mil anos Reviewed by Saber Atualizado on junho 18, 2023 Rating: 5

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