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Explicação científica para as experiências de quase-morte pode ter sido encontrada em novo estudo

 
Várias pessoas que estiveram perto da morte ou que foram ressuscitadas reportam uma experiência similar: suas vidas passam em flash pelos olhos, momentos memoráveis são revividos, e elas podem passar por uma experiência extracorpórea - sentindo que estão olhando para si mesmos acima do corpo. Agora, um estudo publicado no periódico PNAS (Ref.1), analisando a atividade cerebral registrada de quatro pessoas enquanto faleciam, revelou um dramático aumento de atípica atividade cerebral após a parada cardíaca e subsequente hipoxia corporal, um fenômeno neural que pode talvez explicar os típicos sintomas visuais e conscientes de experiências de quase-morte.


"[Os resultados do estudo] sugerem que nós estamos identificando um marcador de lucidez consciente," disse Dr. Sam Parnia, um pneumologista da Universidade de New York em entrevista para a Science comentando sobre o estudo (Ref.2). "Nós temos esse conceito binário de vida e morte que é antigo e ultrapassado."


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Função cerebral ao redor do tempo de parada cardíaca é pouco compreendida, e incerto se existe manifestação de consciência durante o processo de morte. Experiência de quase-morte, reportada de ser altamente lúcida, "mais real do que o real" e comum em pessoas de diferentes contextos religiosos e culturais, têm sido descritas por 10 a 20% dos sobreviventes de paradas cardíacas. De fato, tem sido alegado que esses episódios ocorrem durante morte clínica mesmo durante inatividade elétrica do eletroencefalograma (EEG). Esse fenômeno representa um paradoxo biológico que desafia o entendimento da ciência sobre o cérebro em processo de morte, esse o qual é tradicionalmente considerado não-funcional e hipoativo em tal cenário.


Elevação de oscilações de alta frequência na atividade elétrica cerebral, um potencial marcador de consciência, tem sido reportada em pacientes morrendo de doenças críticas. E enquanto que historicamente morte tem sido definida em termos médicos como o momento quando o coração irreversivelmente para de bater, resultados de estudos clínicos têm sugerido que em vários animais - incluindo humanos - a atividade cerebral pode continuar por segundos a horas após a parada cardíaca. Em ratos saudáveis, súbita terminação da função cardíaca ou asfixia aguda mostra estimular altos níveis de atividades gama no cérebro, incluindo um aumento global de função e conectividade direcionada em oscilações gama. Porém, é incerto se tal padrão de atividade cerebral é também observado em humanos.


Consciência visual é classicamente associada com duas "correntes" no cérebro: a corrente ventral correndo através da junção occipitotemporal que media reconhecimento visual de objetos, e a corrente dorsal correndo através da junção occipitoparietal que serve ações inconscientes visualmente guiadas. Uma parte da corrente dorsal também é projetada para o lobo temporal medial fluindo através da junção temporoparietal mediando processamento visual-espacial. E, importante, sensações visuais podem ser elicitadas pela estimulação dos córtices occipital e parietal na ausência de um estímulo visual externo (ex.: olhos vedados), e os córtices temporal e parietal funcionam como porteiros da percepção consciente. Portanto, ativação das junções temporal-parietal-occipitais fornece um caminho crucial para o processamento visual-espacial e consciente no cérebro humano normal - incluindo imagens mentais durante o sono (!).


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Percepção interna de um clarão ou rostos familiares reportados por sobreviventes de morte clínica sugere uma capacidade preservada no cérebro em falecimento de processar visão gerada internamente (imagens mentais) através da ativação de regiões corticais.


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No novo estudo, os pesquisadores analisaram de forma retrospectiva dados clínicos de pacientes em coma que morreram na unidade de tratamento intensivo (UTI) do hospital associado à Universidade de Michigan, EUA, desde 2014. Quatro pacientes foram identificados que morreram enquanto eram monitorados por EEG: três devido a lesão anóxica induzida por parada cardíaca e um devido a hemorragia cerebral extensiva. Sinais de EEG e de eletrocardiograma foram gerados antes e após o desligamento do suporte ventilatório desses pacientes - nenhum dos quais com qualquer chance de sobrevivência. Os sinais foram registrados durante as últimas batidas cardíacas de cada paciente até toda a atividade cerebral cessar.


Próximo da morte e segundos após os ventiladores terem sido removidos, o cérebro de dois pacientes foram inundados com uma súbita e dramática atividade neuronal caracterizada por ondas gama de alta frequência (>25 até 150 Hz) que persistiram mesmo após o coração ter parado de bater. Além disso, o fenômeno foi acompanhado por ondas gama de oscilações mais lentas (<25 Hz), e elevada conectividade inter-hemisférica funcional e direcionada em faixas gama. Oscilações de alta frequência ocorreram de forma paralela com a ativação cruzada de ondas beta (15 a 25 Hz) e gama dentro dos córtices somatossensoriais.


E, notavelmente, esses dois pacientes exibiram pulsos de conectividade funcional e direcionada em múltiplas faixas de frequência dentro de zonas posteriores das junções temporal-parietal-occipitais, fortemente sugerindo processamento visual consciente. Os pesquisadores, porém, não puderam determinar se a ativação dessas zonas estava correlacionada com uma experiência subjetiva, já que nenhum paciente sobreviveu à parada cardíaca para relatar qualquer experiência.


Essa estranha erupção cerebral de ondas gamas mostrou ter sido estimulada pela hipoxia global causada pela parada cardíaca e aumentou ainda mais à medida que as condições cardíacas deterioram nos pacientes em processo de morte. Isso contraria a ideia comum de que o cérebro se torna inativo ou hipoativo durante a parada cardíaca. Essas ondas gamas podem estar sinalizando que várias regiões do cérebro estão trabalhando juntas para reunir diversas sensações e informações visuais e elevá-las ao nível consciente. É um possível mecanismo neurobiológico que pode explicar as experiências de quase-morte revivendo eventos memoráveis nos momentos finais de vida, entre outras percepções.


Ativação simpática - ligada ao sistema nervoso autônomo que responde energeticamente a situações de estresse e emergência - está associada com o processo de morte; remoção do suporte de oxigênio, ventilação mecânica ou ECMO levam à hipoxia (nível insuficiência de oxigênio nos tecidos), aumento da frequência respiratória e descarga simpática. Aumento da taxa cardíaca seguindo a remoção da ventilação, e provavelmente resultante do aumento da atividade simpática, foi observada nos dois pacientes com a explosão de atividade gama próxima da morte. Essa resposta cardíaca não foi observada nos outros dois pacientes, sugerindo que a elevada ativação cortical próxima da morte pode depender de um sistema nervoso autônomo ainda funcional.


Segundo os autores do novo estudo, explosão de atividade cerebral no quase-morte pode ser parte do modo de sobrevivência que o cérebro entra quando desprovido de oxigênio, liberando numerosas moléculas sinalizadoras e criando padrões anômalos de ondas cerebrais que visam ressuscitar o órgão - isolando-se do mundo externo e voltando a atenção para si próprio.


Relevante também apontar que os dois pacientes possuíam um histórico de convulsões, o que pode também ter facilitado ao cérebro de ambos experienciar ritmos anormais de atividade neuronal.


REFERÊNCIAS

  1. Xu et al. (2023). Surge of neurophysiological coupling and connectivity of gamma oscillations in the dying human brain. Proceedings of the National Academy of Sciences, 120 (19) e2216268120. https://doi.org/10.1073/pnas.221626812 
  2. https://www.science.org/content/article/burst-brain-activity-during-dying-could-explain-life-passing-your-eyes

Explicação científica para as experiências de quase-morte pode ter sido encontrada em novo estudo Explicação científica para as experiências de quase-morte pode ter sido encontrada em novo estudo Reviewed by Saber Atualizado on maio 03, 2023 Rating: 5

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