Mais de 1 bilhão de adolescentes e jovens adultos estão sob potencial risco de perda auditiva
- Atualizado no dia 28 de fevereiro de 2024 -
Mais de 1 bilhão de adolescentes e jovens adultos estão potencialmente em risco de perda auditiva devido ao uso de fones de ouvido e participação em eventos com música muito alta. Essa foi a conclusão de um estudo de revisão e meta-análise publicado em 2022 no periódico BMJ Global Health (Ref.1). Segundo os autores do estudo, governos ao redor do mundo precisam urgentemente priorizar políticas de 'audição segura' para salvaguardar a saúde aural.
Perda auditiva é uma séria preocupação de saúde pública. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que mais de 430 milhões de pessoas ao redor do mundo possuem perda auditiva debilitante e que a prevalência dessa condição pode quase dobrar caso medidas de prevenção não sejam priorizadas. Exposição recreativa ao barulho intenso é um fator de risco modificável para a perda auditiva, e, em 2015, a OMS estimou que 1,1 bilhão de adolescentes e jovens adultos estavam em potencial risco de perda auditiva devido à exposição voluntária a poluição sonora recreativa. Essa exposição é amplamente atribuível ao uso de dispositivos sonoros pessoais (ex.: fones de ouvido, caixas de som portáteis, etc.) e/ou à participação em eventos com sons muito altos (ex.: bares, boates, shows de música, etc.).
Práticas auditivas deletérias recorrentes ou mesmo em eventos únicos podem causar danos fisiológicos ao sistema auditório, os quais se manifestam como zumbidos (2) transientes ou permanentes e/ou mudanças na audição. Danos nesse sentido podem se acumular ao longo da vida e exposição aos agentes de insulto na infância e na adolescência podem tornar os indivíduos mais vulneráveis à perda auditiva associada ao avanço da idade. Em crianças, perda auditiva e/ou exposição a poluição sonora têm sido associados com baixa performance acadêmica e reduzida motivação e concentração, o que podem levar a uma trajetória de limitada mobilidade econômica mais tarde na vida. Em adultos, perda auditiva tem sido associada com baixo bem-estar psicológico, menor renda e sérias comorbidades, como falha cognitiva. O zumbido, em particular, possui importantes impactos na saúde e bem-estar das pessoas e está fortemente associado com baixa qualidade de vida.
(2) Leitura recomendada: O que é o Zumbido e como tratá-lo?
Práticas auditivas inseguras são comuns ao redor do mundo, dada a alta disponibilidade de dispositivos pessoais de som e amplo descaso com medidas regulatórias para esses dispositivos e eventos com alto nível de poluição sonora. Risco de perda auditiva depende da altura, duração e frequência da exposição sonora. Por exemplo, com base em um nível permissível máximo de exposição sonora de 80 dB por 8 horas por dia (40 horas/semana) com uma taxa de troca de 3 dB, o tempo de exposição permissível de uma fonte sonora de 92 dB é de 2,5 horas; de 98 dB é de 38 minutos; e de 101 dB é de apenas 19 minutos. Usuários de dispositivos auditivos recreativos comumente escolhem volumes tão altos quanto 105 dB e intensidade sonora média em eventos de entretenimento varia de 104 até 112 dB, portanto excedendo os níveis permissíveis (80 dB para adultos; 75 dB para crianças) mesmo durante curtos períodos de exposição.
O uso de fones de ouvido também está ficando cada vez mais comum entre crianças de 5 a 12 anos de idade. Especialistas recomendam que crianças deveriam limitar o uso de fones de ouvido a não mais do que 60 minutos diários e não ultrapassando 60% do volume máximo - buscando manter um nível de som inferior a 70 dBA (dBA = mensuração do nível de pressão sonora no ouvido humano devido a um ruído contínuo) (Ref.2). Um bom modo de dizer se um dispositivo de áudio está muito alto é testar se a criança não consegue te ouvir quando você está a um braço de distância.
No estudo de 2022, os pesquisadores revisaram a literatura acadêmica, procurando por estudos relevantes publicados em Inglês, Francês, Espanhol e Russo, envolvendo participantes com 12-34 anos de idade e reportando medidas objetivas dos níveis de saída em dispositivos auditivos e extensão da exposição a fontes diversas de poluição sonora. Trinta e três estudos, englobando 19046 participantes foram incluídos.
Considerando os dados analisados e uma população global de 2,8 bilhões de pessoas com idades de 12 a 34 anos (adolescentes e jovens adultos) em 2022, os pesquisadores encontraram que o uso de dispositivos auditivos pessoais e participação em eventos de entretenimento associados a níveis inseguros de barulho são prevalentes em 24% e 48%, respectivamente, dos adolescentes e dos jovens adultos.
Com base nesses valores, os pesquisadores estimaram que o número global de adolescentes e de jovens adultos potencialmente em risco de perda auditiva varia de 0,67 a 1,35 bilhão, corroborando estimativa prévia da OMS.
Embora existam limitações nas análises, os achados suportaram os alertas da OMS e os autores concluíram: "Existe uma necessidade urgente para os governos, indústria e sociedade civil priorizarem medidas de prevenção de perda auditiva e de promoção a práticas auditivas seguras."
> Leitura recomendada: Como prevenir dor, desconforto ou trauma no ouvido durante viagens de avião?
REFERÊNCIA
- Dillard et al. (2022). Prevalence and global estimates of unsafe listening practices in adolescents and young adults: a systematic review and meta-analysis. BMJ Global Health, Volume 7, Issue 11. http://dx.doi.org/10.1136/bmjgh-2022-010501
- https://mottpoll.org/reports/can-they-hear-you-now-noise-and-headphone-use-children