Cientistas revelam que as esponjas-do-mar espirram!
As famosas esponjas marinhas são animais poríferos popularmente associadas a uma total imobilidade nos solos oceânicos, se alimentando de forma passiva de nutrientes presentes na água do mar que passa pelos seus poros. Porém, nesse cenário, surge uma dúvida: como toda a sujeira acumulada nesse processo de filtração das esponjas é eliminada do interior desses animais? Um estudo publicado esta semana na Cell Biology (Ref.1) finalmente resolveu esse mistério: as esponjas 'espirram' a sujeira para fora do corpo, similar ao espirro observado em animais mais complexos e com nariz. O achado foi feito com base na observação e vídeos de dois distintos clados de esponjas marinhas.
Organismos do clado Porifera (esponjas marinhas) são animais multicelulares simples que não possuem simetria corporal e nem tecidos e órgãos verdadeiros, incluindo sistema nervoso, digestivo e circulatório. Evidências genômicas acumuladas suportam a classificação tradicional dos poríferos como um clado irmão em relação a todos os outros grupos de animais (Ref.2). As esponjas eficientemente filtram grandes quantidades de substâncias da água ao redor, dissolvendo matéria orgânica dissolvida, vírus, bactérias, fitoplâncton e sedimentos suspensos. Para esse propósito, as esponjas forçam a entrada de água através de pequenos poros (óstios) para um sistema interno de canais com câmaras alinhadas com células flageladas alimento-filtrantes (coanócitos) que movem água para uma ou mais aberturas de saída (ósculos). Esse fluxo de água pode também ser mediado por contrações lentas quasi-peristálticas - "espirros" - do corpo da esponja.
É comumente assumido que as esponjas transportam os resíduos de filtração e produtos metabólicos junto com o fluxo de água filtrada, removendo-os através das suas aberturas de saída. Porém, estudos de esponjas com alto conteúdo sedimentado trazem observações anedóticas de que esses animais usam muco e contrações corporais para capturar e remover sedimentos da superfície corporal como uma estratégia para evitar o entupimento do sistema de filtração. Além disso, observações similares já foram reportadas ocorrendo nos poros de entrada ao invés dos ósculos. No entanto, os mecanismos associados com esse alegado processo de remoção dos resíduos e de autolimpeza, assim como as taxas de remoção de particulados, permaneciam ainda pouco caracterizados.
No novo estudo, os pesquisadores investigaram os mecanismos de auto-limpeza na espécie Aplysina archeri (ex situ e in situ) e em esponjas do gênero Chelonaplysilla (ex situ). Através de vídeos de alta definição e acelerados, foi possível capturar e revelar o passo-a-passo de 'espirros' usados pelas esponjas para a limpeza dos seus poros (vídeo abaixo). Cada um desses espirros levava de 20 a 50 minutos do início ao fim, e expeliam agregados contendo muco (continuamente produzido pela esponja) e detritos/resíduos lentamente acumulados na superfície desses animais através dos óstios para a água ao redor. Basicamente, a mesma função do nosso nariz ao expelir catarro (muco + sujeira/irritantes) para fora. Após o espirro, a esponja relaxa novamente, iniciando a agregação de mais partículas e muco (um novo ciclo).
E enquanto o muco acumulado e expelido pelas esponjas é um dejeto sem importância para esses animais, outros seres vivos vivendo junto com as esponjas parecem aproveitar o material como uma importante fonte nutritiva - provavelmente representando um importante elemento de suporte nos ecossistemas marinhos.
REFERÊNCIAS
- Kornder et al. (2022). Sponges sneeze mucus to shed particulate waste from their seawater inlet pores. https://doi.org/10.1016/j.cub.2022.07.017
- Redmond & McLysaght (2021). Evidence for sponges as sister to all other animals from partitioned phylogenomics with mixture models and recoding. Nature Communication 12, 1783. https://doi.org/10.1038/s41467-021-22074-7
Reviewed by Saber Atualizado
on
agosto 11, 2022
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