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Abelhas e caranguejos podem sentir dor, apontam estudos

- Atualizado no dia 28 de novembro de 2024 -


Enquanto insetos possuem neurônios sensoriais nociceptores que respondem a estímulos causados por lesões e danos, isso não necessariamente implica consciência da resposta nociceptiva. Em contraste à nocicepção, a percepção de dor envolve a experiência subjetiva de "uma sensação aversiva e sentimento associado com o atual ou potencial dano tecidual". É ainda incerto se insetos - e outros invertebrados - possuem qualquer percepção, sensação ou experiência subjetiva.


Abelhas-de-mel já mostraram ter relativa alta capacidade emocional e cognitiva, incluindo impressionantes habilidades matemáticas (1). Em um estudo publicado em 2022 no periódico PNAS (Ref.1), pesquisadores resolveram explorar se esses insetos expressam dor, conduzindo experimentos baseados em um dos critérios mais comumente usados para definir dor nos animais: "trocas motivacionais". Por exemplo, nós vamos ao dentista mesmo quando somos submetidos a procedimentos dolorosos, porque sabemos dos benefícios futuros dessa submissão. Da mesma forma, animais vertebrados diversos suportam certas experiências dolorosas - e continuam repetindo a experiência - caso a recompensa valha a pena, porém, até certo limite de dor dependente do valor da recompensa - além desse limite, benefícios são recusados. Essa recusa prévia a benefícios (ou grandes recompensas) antecipando uma experiência física desagradável fortemente indica a capacidade de sentir dor.

 

(1) Leitura recomendadaAbelhas sabem contar, somar, subtrair, aprender símbolos numéricos e discriminar o zero


Esse fenômeno de troca motivacional foi associado em 2009 para caranguejos, um artrópode (Ref.2); experimentos limitados sugeriram que esses invertebrados sentem dor e não simplesmente respondem a estímulos desagradáveis de forma reflexiva (!). Esse achado levantou a suspeita que a sensação de dor pode ser estender além dos vertebrados.


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No estudo de 2022, os pesquisadores usaram 41 abelhas da espécie Bombus terrestris em um experimento onde esses insetos tinham que escolher entre dois alimentadores de alta qualidade contendo uma solução altamente açucarada (concentração de 40%) e dois alimentadores com menores porcentagens de sacarose (até uma concentração mínima de 10%). Os pesquisadores, então, colocaram os alimentadores em uma arena de teste e sobre placas aquecedoras, associados também a almofadas coloridas (cor rosa ou amarela). Inicialmente, as almofadas foram desligadas, e todas as abelhas foram permitidas entrar na arena - uma por uma - para se alimentarem, escolhendo qualquer um dos alimentadores. Como esperado, todas preferiram os alimentadores com mais açúcar.



Na próxima etapa do experimento, os pesquisadores aqueceram os alimentadores com mais alta concentração de açúcar e associados a almofadas amarelas, até a temperatura de 55°C (quente o suficiente para causar incômodo e potencialmente afastar as abelhas, mas não tão quente para causar danos diretos nesses insetos); alimentadores associados às almofadas rosas permaneceram a temperatura ambiente. Nesse sentido, abelhas suportando mais a condição desagradável (alta temperatura) teriam acesso a uma maior quantidade de açúcar. E, de fato, as abelhas continuaram preferindo os alimentadores com mais alta concentração de açúcar (ou seja, associados à cor amarela).


Por fim, os pesquisadores voltaram a desligar todos os aquecedores, mas colocaram altas concentrações de açúcar em todos os alimentadores (cor rosa e amarela). Nesse cenário, as abelhas passaram a evitar os alimentadores associados às almofadas amarelas - demonstrando que elas estavam usando memórias associativas para escolher onde se alimentar e ligando a cor amarela com algo desagradável. 


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Os resultados do estudo, portanto, comprovaram o fenômeno de troca motivacional nas abelhas, o qual mostrou ser mediado no sistema nervoso central. É a primeira demonstração direta de que artrópodes - grupo que inclui insetos, aranhas e crustáceos - podem realizar troca motivacional. Assim como em outros animais, tal habilidade é considerada consistente com a capacidade de sentir dor. Porém, devido à natureza subjetiva associada à experiência da dor, o achado não é uma prova formal de que as abelhas realmente sentem dor. Na verdade, provar que insetos sentem dor como nós percebemos dor é provavelmente impossível.


De qualquer forma, segundo os autores do estudo e considerando as potenciais implicações éticas dos resultados experimentais, o princípio da precaução sugere que a possibilidade de dor e sofrimento nos insetos deve ser levada a sério em contextos diversos associados à exploração comercial desses animais (ex.: alimentação humana e de outros animais) (2), a programas de conservação e ao uso em experimentos laboratoriais. 


(2) Leitura recomendadaInsetos Comestíveis: Solução para um mundo mais sustentável?


Em entrevista à Science (Ref.3), e comentando sobre o estudo, a zoóloga e especialista em cefalópodes, Jennifer Mather, alertou: "Nós não podemos ignorá-los. Existe ainda antropocentrismo na ciência Ocidental que rejeita a ideia de nos importarmos com os 'invertebrados burros'. Estudos como esse irão gradualmente derrubar essa atitude egoísta."


   (!) CARANGUEJOS SENTEM DOR


Caranguejos e outros crustáceos são incluídos no mesmo clado dos insetos (3).


(3) Leitura recomendada: Insetos são crustáceos?


Experimentos de um recenter estudo publicado no periódico Biology (Ref.) - usando análises neurobiológicas baseadas em EEG - provaram que estímulos de dor são processados pelo cérebro de caranguejos da espécie Carcinus maenas (caranguejo-verde) possuem algum tipo de receptor/es de dor (nociceptores).


Eletrodos medindo a atividade cerebral de um caranguejo-verde, enquanto o animal é submetido a estímulos químicos e mecânicos.

Atividade cerebral no sistema nervoso central era aumentada quando estímulos mecânicos e químicos potencialmente dolorosos eram aplicados em partes moles desses animais (nas pernas, antenas e garras). A resposta de dor era mais curto e mais forte em casos de estresse físico (pressão) do que químico (ácido acético).


Estudos observacionais prévios têm reportado que crustáceos sujeitos a impactos mecânicos, choques elétricos ou ácidos em tecidos moles do corpo (ex.: antena) tocam na área atacada ou tentam evitar o perigo em novas situações similares, sugerindo que esses artrópodes sentem dor. Evidência experimental prévia, mas limitada, havia apontado para a mesma sugestão.


As evidências acumuladas até o momento podem fazer com que leis de proteção e direito do bem-estar de animais sejam expandidas para incluir artrópodes como caranguejos, lagostas, camarão e insetos. Por exemplo, para crustáceos é comumente aceitável cortá-los ou fervê-los para consumo alimentar enquanto estão vivos.


REFERÊNCIAS

  1. Gibbons et al. (2022). Motivational trade-offs and modulation of nociception in bumblebees. PNAS, 119 (31) e2205821119. https://doi.org/10.1073/pnas.220582111
  2. https://pure.qub.ac.uk/en/publications/motivational-trade-offs-and-potential-pain-experience-in-hermit-c
  3. https://www.science.org/content/article/bees-may-feel-pain
  4. Kasiouras et al. (2024). Putative Nociceptive Responses in a Decapod Crustacean: The Shore Crab (Carcinus maenas). Biology 13(11), 851. https://doi.org/10.3390/biology13110851

Abelhas e caranguejos podem sentir dor, apontam estudos Abelhas e caranguejos podem sentir dor, apontam estudos Reviewed by Saber Atualizado on agosto 08, 2022 Rating: 5

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