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Cientistas alegam que encontraram o primeiro mamífero não-humano que pratica agricultura


Em um estudo publicado esta semana no periódico Current Biology (Ref.1) pesquisadores argumentaram que um roedor da família Geomyidae (conhecidos popularmente no inglês como gophers), pertencente à espécie Geomys pinetis, cultiva raízes de plantas em seus túneis para complementar a alimentação. Apesar de ainda existir ceticismo na comunidade acadêmica (Ref.2), pode ser o primeiro caso de agricultura, mesmo que rudimentar, em uma espécie de mamífero não-humana. 


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É amplamente sugerido na literatura acadêmica que os humanos modernos (Homo sapiens) começaram significativa e sistemática atividade agrícola há cerca de 12 mil anos, mas existindo evidência arqueológica de que agricultura em escala limitada emergiu há pelo menos 20-23 mil anos, na região do Levante (Ref.3-4). Agricultura marcou a Revolução do Neolítico, e abriu caminho para a emergência de complexas civilizações humanas.


Mas não apenas humanos dominaram técnicas de cultivo visando alimentação ou outra finalidade. Há cerca de 50 milhões de anos, formigas começaram a cultivar fungos a partir de folhas coletadas de plantas para a alimentação das suas larvas (Ref.5). Aliás, formigas inclusive evoluíram bolsas especiais para transportar fungos (visando "semeação") e um sistema para livrar patógenos dos fungos sendo cultivados. Certas espécies de cupins e de besouros também cultivam fungos para a alimentação dos adultos e das larvas. Por fim, os machos de uma curiosa espécie de ave, o pássaro-caramancheiro-pintalgado (Chlamydera maculata), parecem cultivar plantas da espécie Solanum ellipticum para aproveitar os frutos nos seus rituais de acasalamento - aliás, o primeiro exemplo de cultivo não-humano voltado para um fim que não seja a alimentação (Ref.6). 


Mas além de alguns insetos e humanos, agricultura não tem sido observada em outros animais, muito menos o cultivo de plantas para alimentação.

 

Roedores do gênero Geomys (popularmente conhecidos como pocket gophers) são solitários, fossoriais (adaptados a cavar e a viver debaixo do solo) e se alimentam especialmente de raízes. Nativos de campos nas regiões Central e Norte da América, esses animais passam grande parte do tempo cavando e construindo túneis de até 160 metros de comprimento, onde presume-se que adquirem a maior parte da sua alimentação. Considerando que o trabalho de escavação é 360-3400 vezes mais energeticamente custoso do que andar na superfície, esses roedores possuem grandes necessidades energéticas. Raízes são escassas nas profundidades dos túneis que eles fazem em solo arenoso (20-64 cm), o que torna particularmente intrigante a atividade da espécie Geomys pinetis, habitante desse tipo de solo no sudeste dos EUA. 


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No novo estudo, os pesquisadores resolveram estudar a espécie G. pinetis, explorando a dieta e o gasto energético estimado desses animais (via cálculos teóricos), e a estrutura dos seus túneis em uma região de savana no norte da Flórida, EUA, onde esses roedores são abundantes. Para investigar os túneis, estes foram isolados com barreiras metálicas em seções específicas da área de estudo e uma câmera "boroscópica" foi introduzida nas extensões escavadas.



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> Vídeo mostrando o G. pinetis escavando um túnel: https://www.youtube.com/watch?v=NiJHMG5D1c0

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Os resultados das análises primeiro indicaram que os roedores estariam com um substancial déficit energético caso não fosse a descoberta de abundante e inesperada quantidade de raízes crescendo no interior dos túneis cavados e usados regularmente por esses animais. Os pesquisadores estimaram que as raízes extras presentes nos túneis estavam fornecendo uma média de 21% das necessidades metabólicas dos roedores, mas com valores alcançando até 61%. E mais: o estudo concluiu que G. pinetis estava ativamente cultivando essas raízes dentro dos seus túneis.


Os pesquisadores argumentaram que ao promover o crescimento de raízes nos túneis e então cultivar essas raízes, o G. pinetis está empregando um sistema de produção de alimento em baixa escala que pode ser qualificado como [rudimentar] agricultura. O crescimento de raízes é promovido por aeração do solo (fornecida em abundância pelos túneis), a qual aumenta as taxas de mineralização de nutrientes e localmente reduz a densidade do solo. Além disso, ao contrário de outras espécies do gênero Geomys que usam câmaras específicas para o armazenamento de alimentos e de matéria fecal, o G. pinetis espalha seus resíduos por toda a extensão dos túneis, fertilizando efetivamente o solo. 


E outro ponto importante: os pesquisadores notaram que os roedores, na maior parte dos casos, não puxavam toda a planta para dentro do túnel quando se alimentavam (algo comum entre os gophers), 'colhendo' apenas parte das raízes e permitindo/estimulando novos crescimentos; nesse mesmo caminho, eles também não encontraram evidência de significativa coleta de plantas para alimentação na superfície, hábito também relativamente comum entre os gophers. De fato essa espécie raramente emerge na superfície, passando a maior parte do tempo cavando e vivendo no subterrâneo.


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> Vídeo mostrando um Geomys puxando uma planta para dentro do seu túnel: https://www.youtube.com/watch?v=luFSlZ4hK2Q

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Os pesquisadores, no entanto, também realçaram que o G. pinetis não estaria praticando avançada agricultura, esta a qual envolveria a plantação de sementes, propagação dos cultivares e limpeza dos "campos" agrícolas, mas que a atividade de fertilização e de colheita parcial poderia ser considerada uma agricultura rudimentar. Isso pode tornar esse roedor o primeiro mamífero agricultor não-humano, colocando outro vertebrado na lista de animais fazendeiros. 


REFERÊNCIAS

  1. Selden & Putz (2022). Root cropping by pocket gophers. Current Biology, Volume 32, Issue 13, PR734-R735. https://doi.org/10.1016/j.cub.2022.06.003
  2. https://www.science.org/content/article/does-gopher-farm-roots-it-eats
  3. Snir et al. (2015) The Origin of Cultivation and Proto-Weeds, Long Before Neolithic Farming. PLOS ONE, 2015; 10 (7): e0131422. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0131422
  4. Wells & Stock (2020). Life History Transitions at the Origins of Agriculture: A Model for Understanding How Niche Construction Impacts Human Growth, Demography and Health. Frontiers in Endocrinology, 11:325. https://doi.org/10.3389/fendo.2020.00325
  5. https://blog.nwf.org/2012/05/animals-that-grow-gardens/
  6. Madden et al. (2012). Male spotted bowerbirds propagate fruit for use in their sexual display.  Volume 22, Issue 8, PR264-R26. https://doi.org/10.1016/j.cub.2012.02.057
  7. https://animaldiversity.org/accounts/Geomys_pinetis/


Cientistas alegam que encontraram o primeiro mamífero não-humano que pratica agricultura Cientistas alegam que encontraram o primeiro mamífero não-humano que pratica agricultura Reviewed by Saber Atualizado on julho 14, 2022 Rating: 5

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