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Registrado em vídeo pela primeira vez um urso-polar caçando uma rena

 
Os ursos-polares (Ursus maritimus) são uma das mais ameaçadas espécies pelas mudanças climáticas provocadas pelo acelerado aquecimento global antropogênico, este o qual está reduzindo drasticamente a cobertura de gelo no Ártico e prejudicando a caça desses ursos à sua presa favorita: focas. Esse processo pode estar forçando esses predadores a mudarem a dieta no sentido de compensar a maior dificuldade de capturar focas. Nesse sentido, em um estudo publicado no periódico Polar Biology (1), pesquisadores conseguiram capturar em vídeo, pela primeira vez, a caça efetiva de um urso-polar sobre um ungulado terrestre, no caso uma rena-de-Svalbard (Rangifer tarandus platyrhynchus), reforçando o cenário de shift na cadeia alimentar e com consequências incertas para o ecossistema local e a sobrevivência dos ursos-polares.


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Representando os maiores predadores sobre o gelo marítimo do ecossistema Ártico, o urso-polar é classificado como um mamífero marinho (!), cuja principal presa consiste de focas, particularmente a foca-anelada (Pusa hispida) e foca-barbuda (Erignathus barbatus). Na região de Svalbard, no verão, a foca-barbuda é ainda mais importante (55% por biomassa de alimento consumido) do que a foca-anelada, por causa do maior tamanho da primeira (4-5 vezes maior do que as focas-aneladas). Ursos-polares possuem uma habilidade única de digerir gordura de foca, esta a qual supre a maior parte da energia necessária para esses predadores sobreviverem ao frio do Ártico. Quando sobre o gelo, ursos-polares ocasionalmente também caçam cetáceos (ex.: baleias) presos no gelo e morsas da espécie Odobenus rosmarus descansando em praias.


(!) Leitura recomendada: Pelagem do urso-polar não é branca, mas, sim, transparente! 


Ursos-polares, compelidos por um encolhimento cada vez maior do gelo marinho no Ártico deflagrado pelas mudanças climáticas - especialmente no verão -, estão sendo forçados a ficar mais tempo sobre terra firme, se alimentando oportunisticamente de quaisquer recursos disponíveis, incluindo peixes e cetáceos mortos levados às praias, mas também numerosos mamíferos terrestres de roedores até renas (Rangifer tarandus). Os ursos-polares também podem explorar terrenos contendo restos de mamíferos caçados por povos locais. Esses animais também, durante temporadas de reprodução aviária, visitam colônias de aves, comendo ovos, filhotes e adultos capturados nos ninhos; a caça de aves ocorre inclusive no mar aberto. Por fim, até mesmo plantas terrestres e marinhas se transformam em relevante recurso nutritivo para os ursos-polares sob pressão climática.


Em Svalbard, existe uma grande e crescente população de renas-de-Svalbard (R. t. platyrhynchus), estimada de somar 22 mil indivíduos. A distribuição dessas renas é completamente dentro do alcance dos ursos-polares. Suficientemente de grande porte (adultos no verão alcançam massa de 70-90 kg) e numerosos, essas potenciais presas podem fornecer suficiente energia para reduzir ou prevenir substancial perda de massa corporal em terra firme dos ursos-polares, assumindo que esses predadores possam utilizar esse recurso. Muitos reportes prévios sugeriam que ursos-polares eram incapazes de caçar efetivamente essas renas, tipicamente ignorando-as. Alguns reportes, por sua vez, têm alegado caça efetiva, mas sem conclusiva evidência de suporte ou sugerindo que esse tipo de caça é de pequena importância para a ecologia de alimentação dos ursos-polares em Svalbard.


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No novo estudo, os pesquisadores trouxeram a primeira descrição detalhada, documentada em vídeo e fotografias, do curso completo de uma fêmea adulta de urso-polar perseguindo e capturando com sucesso uma rena adulta na região de Hornsund, SW Spitsbergen. O evento ocorreu no dia 21 de agosto de 2020, às 18:00, e a 200 metros da Estação Polar Polonesa. A temperatura do ar era de 5,4°C, e a temperatura da água de 0,0°C. Inicialmente, a distância entre o urso-polar e a sua presa final (rena adulta macho) era de 500 metros, e demorou cerca de 2 minutos para o urso-polar cobrir essa distância. A presa correu para a água marinha - associada à praia de Isbjørnhamna -, mas o urso-polar atacante rapidamente o alcançou a nado, matando-a. O vídeo abaixo mostra a caçada e o arraste até a praia.


            


Após arrastar a presa capturada até 7 metros acima da linha da água, o urso-polar começou a rasgá-la e a comer sua carne. Isso continuou por cerca de 2 horas, período durante o qual o urso-polar consumiu cerca de 60% da carne da rena. Após a refeição, o urso-polar guardou a carcaça, afugentando raposas-do-Ártico (Vulpes lagopus) e gaivotas-de-Glaucous (Larus hyperboreus), enquanto continuava a se alimentar até consumir grande parte da carne disponível. Antes de deixar a carcaça e ir descansar, o urso-polar a cobriu com pedras, para reduzir a predação por outros animais à espreita. Durante um período de sono de 12 horas, três raposas e cerca de 10 gaivotas se alimentaram de parte da carcaça. Na tarde do dia seguinte, o urso-polar foi terminar de comer o que sobrou da rena, consumindo, no final, cerca de 80% da carne associada à presa.


No dia 23 de agosto, os pesquisadores observaram o mesmo urso-polar sobre uma porção de rochas no meio das águas de Isbjørnhamna, com outra rena recentemente morta (muito provavelmente pelo urso), como indicado pelo número (4) no mapa abaixo. Após cerca de 20 minutos, o urso-polar arrastou a presa para a praia, e começou a comê-la. Como já estava cheio da refeição anterior, consumiu apenas 40% da rena e nem mesmo se esforçou para afugentar outros predadores na região, abandonando o restante da carcaça para um descanso de dois dias, se movimentando pouco durante esse período.



Em geral, renas correm mais rápido e possuem maior estamina do que ursos-polares ao longo de maiores distâncias. Um urso-polar é um corredor de curta distância e pode superaquecer se corre por um longo período, apesar da caça em água fria minimizar esse risco. Sempre que possível, um urso-polar usa o terreno para se aproximar devagar e escondido até estar dentro de alguns metros da sua presa antes de lançar o ataque. Esse método de caça é possível graças à sua habilidade de farejar potenciais presas a consideráveis grandes distâncias. 


As duas caças consecutivas e efetivas observadas pelos pesquisadores por um mesmo urso-polar reforça que esses predadores não só são capazes de capturar com sucesso renas mas que também parecem estar acostumados a fazê-lo. Isso reforça evidências prévias de que os ursos-polares na região de Svalbard (quase 300 no total) estão ativamente mudando a dieta para compensar a maior dificuldade na caça de focas, aproveitando também que as renas-de-Svalbard evoluíram na ausência de predadores naturais (tornando-as suscetíveis à caça). De fato, existe já uma alta frequência de vestígios de renas nas fezes de ursos-polares na região, alcançando 27,3% da composição no verão, indicando que as renas fazem parte significativa da dieta desses animais - seja a partir de carcaças seja a partir de predação. Nesse sentido, o impacto sobre as populações de aves e de renas na região é esperado de aumentar, com consequências incertas para o ecossistema local.


(1) Publicação do estudo: https://link.springer.com/article/10.1007/s00300-021-02954-w

Registrado em vídeo pela primeira vez um urso-polar caçando uma rena Registrado em vídeo pela primeira vez um urso-polar caçando uma rena Reviewed by Saber Atualizado on outubro 23, 2021 Rating: 5

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