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Comportamento e características típicas do TDAH em humanos são observados em cães

 

Cães compartilham várias similaridades com humanos, incluindo traços psicológicos e o mesmo ambiente. Entre essas similaridades, cães expressam comportamentos típicos da TDAH (transtorno do déficit de atenção e hiperatividade), condição que afeta um número significativo de crianças e de adolescentes e considerável parcela da população adulta da nossa espécie. Agora, em um robusto estudo publicado no periódico Translational Psychiatry (1), pesquisadores identificaram fatores de risco e comorbidades comportamentais que são muito parecidas tanto no TDAH de cães quanto no TDHA de humanos, reforçando o potencial desses canídeos como um modelo de estudo da condição.


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O TDAH é um transtorno de neurodesenvolvimento altamente hereditário com manifestação inicial na infância e prevalência mundial de 2-7% nos humanos modernos (Homo sapiens). O transtorno é caracterizado pela presença de níveis persistentes e inapropriados de excessiva atividade motora, impulsividade e desatenção, causados por anormalidades no processamento de atenção e de recompensa, no controle inibitório e na regulação emocional. O TDAH pode ser classificado em três diferentes apresentações - predominantemente impulsivo/hiperativo, predominantemente desatento ou do tipo combinado - e frequentemente persiste na fase adulta com várias comorbidades associadas, como dificuldade de aprendizado, transtorno do espectro autista e transtornos de ansiedade. Isso faz esse transtorno ser uma condição deletéria caso não diagnosticada e tratada apropriadamente.


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Impulsividade, um componente do TDAH humano, é caracterizado por falha no controle motor inibitório e uma inabilidade de tolerar atraso na gratificação. Essa é uma característica normal no contínuo de personalidade observado ao longo das espécies, incluindo humanos e cães. No entanto, altos níveis de impulsividade são considerados anormais e estão também associados com outros comportamentos deletérios, como agressão, em várias espécies, incluindo humanos, roedores e cães. 


Estudos sugerem que 12-15% e 20% dos cães (Canis familiaris) naturalmente manifestam altos níveis de hiperatividade/impulsividade e de desatenção, respectivamente, tornando o cão doméstico um potencial modelo animal para o TDHA. Além disso, esses traços são mediados pelos mesmos fatores comportamentais, biológicos e genéticos tanto em humanos quanto em cães, e estes últimos respondem à medicação usada para tratar a condição em humanos. E, diferente de modelos como roedores, cães naturalmente compartilham o mesmo ambiente e estilo de vida humano e experienciaram evolução social convergente com a nossa espécie, o que facilita também a exploração de fatores de risco extra-genéticos para o TDAH. Por fim, os cães são comparáveis a humanos em várias tarefas de cognição, arquitetura genética, tamanho corporal e estrutura fisiológica.


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No novo estudo, pesquisadores da Universidade de Helsinki, Finlândia, analisaram fatores demográficos, ambientais e comportamentais dos traços de TDAH associados aos cães. Essa análise incluiu dados englobando mais de 11 mil cães na Finlândia, coletados dos seus donos através de questionários online com questões diversas, em especial abordando sete diferentes traços caninos comportamentais: medo, agressividade, sensibilidade a barulhos, medo de superfícies e alturas, hiperatividade/impulsividade e desatenção, comportamento separação-relacionado e comportamento compulsivo.


Os resultados nas análises mostraram que, assim como em humanos, hiperatividade, impulsividade e desatenção eram mais comuns em cães jovens e do sexo masculino. Além disso, esses traços eram mais comuns em cães passando mais tempo sozinhos em casa do que aqueles que passavam mais tempo com os donos. Como são animais sociais, cães podem ficar frustrados e estressados quando estão sozinhos, algo que pode ser liberado como hiperatividade, impulsividade e desatenção. Soma-se a isso, talvez, o fato de cães que passam mais tempo sozinhos realizarem também menos exercícios e ganharem menos atenção. De fato, em crianças com TDAH, existe limitada evidência indicando que exercícios físicos aliviam os sintomas de hiperatividade, impulsividade e desatenção em alguma extensão.


Diferentes linhagens caninas também mostraram expressar diferentes graus de hiperatividade/impulsividade e desatenção.  Cairn Terrier, Jack Russell Terrier, Pastor-Alemão, Staffordshire Bull Terrier e Smooth Collie tinham o mais alto grau de hiperatividade/impulsividade, enquanto o Chihuahua, Rough Collie, Cão de Crista Chinês, Schnauzer Miniaturizado e o Poodle tinham o menor grau. Em termos de desatenção, Cairn Terrier, Golden Retriever, Cão-Finlandês-da-Lapônia, Vira-Latas (mistura de linhagens) e Wheaten Terrier pontuavam mais, e Border Collie, Poodle, Cão D'água Espanhol, Pastor-de-Shetland e Labrador Retriever tinham as menores pontuações. 


Nesse sentido também, cães usados para diferentes propósitos (ex.: companhia, guarda, esporte) mostraram expressar diferenças significativas nesses traços. Um exemplo notável é representado pelas linhagens Smooth Collie e Rough Collie, onde a primeira mostrou ter uma das mais altas pontuações em termos de hiperatividade/impulsividade e, a segunda, uma das mais baixas, mesmo ambas sendo quase idênticas (com exceção do comprimento da pelagem). O Rough Collie se tornou bastante popular após a franquia nos cinemas Lassie (1994) como cão de companhia, enquanto o Smooth Collies nunca alcançou um alto nível de popularidade e é ainda frequentemente usado como cães de trabalho e em esportes.


O estudo também confirmou associações prévias entre hiperatividade, impulsividade e desatenção, e comportamento obsessivo-compulsivo, agressividade e medo - cães com altos níveis desses últimos três traços mostraram expressar maior grau de hiperatividade/impulsividade e desatenção. Como mencionado, TDAH também é frequentemente associado com outros transtornos e doenças mentais. Por exemplo, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) frequentemente ocorre em conjunto com o TDAH. Em cães, comportamentos típicos de TOC podem aparecer como, entre outras coisas, caça ao próprio rabo, contínuo ato de lamber de superfícies ou a si mesmos, ou contemplação do "nada".


Esses achados sugerem que as mesmas regiões cerebrais e caminhos neurobiológicos regulam atividade, impulsividade e concentração tanto em humanos quanto em cães. Diferentes linhagens caninas podem ser muito úteis e promissoras para estudar o TDAH e explorar novas vias terapêuticas voltadas para os humanos, especialmente crianças. Avanços nessa linha de pesquisa podem também ajudar a melhorar a relação entre cães e seus companheiros humanos.


(1) Publicação do estudo: https://www.nature.com/articles/s41398-021-01626-x

Comportamento e características típicas do TDAH em humanos são observados em cães Comportamento e características típicas do TDAH em humanos são observados em cães Reviewed by Saber Atualizado on outubro 17, 2021 Rating: 5

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