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Estudo muda tudo o que pensávamos sobre as mudanças no metabolismo com o avanço da idade

 
Existe uma crença popular bastante difundida de que nosso metabolismo vai diminuindo significativamente com o avanço da idade, especialmente após os 30 anos, em uma relação diretamente proporcional e com um pico metabólico na adolescência. Ou seja, um jovem de 15 anos possui um metabolismo bem mais alto que um um adulto de 20 anos e este um metabolismo maior do que um de 30-40 anos e assim por diante. Porém, um robusto estudo publicado ontem no periódico Science Advances (Ref.1) encontrou que as "fases metabólicas" marcando o percurso de vida dos humanos modernos (Homo sapiens) está longe de seguir um avanço regular, atingindo níveis anormalmente muito elevados em bebês, declinando progressivamente a partir dos 5 anos de idade - sem picos na adolescência - e ficando praticamente inalterado de 20 a 60 anos de idade.


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O gasto de energia diário ("gasto total") reflete as necessidades diárias de energia do nosso corpo e é uma variável crítica na saúde e na fisiológica humana, mas sua trajetória ao longo da vida é pouco estudada. De fato, existem muitas especulações populares com insuficiente ou inexistente suporte científico. 


Previamente, a maioria dos estudos de grande escala mediam o quanto de energia o corpo usa para realizar funções vitais básicas como respiração, digestão, bombeamento sanguíneo, manutenção da temperatura corporal, ou seja, calorias necessárias apenas para manter o indivíduo vivo (metabolismo basal). Porém, esse gasto vital de energia corresponde a apenas 50-70% das calorias que queimamos diariamente, e não leva em conta a energia que gastamos para realizarmos tarefas básicas do dia-a-dia como lavar os pratos, subir escadas, fazer exercícios na academia, dançar, ou mesmo pensar, ler e resolver problemas (gasto energético cerebral).


Para ter acesso também ao gasto energético extra-vital, pesquisadores no novo estudo resolveram recorrer ao método de água duplamente marcada (doubly labeled water). Esse método - criado na década de 1950 e aplicado inicialmente em pequenos animais - é basicamente um teste de urina que envolve o consumo de água na qual os átomos de hidrogênio e de oxigênio nas moléculas de H2O são substituídos com isótopos naturais mais pesados (deutério e oxigênio-18, respectivamente) (!), e então mede-se o quão rápido as 'moléculas pesadas' de água são excretadas pelo corpo  (urina, sangue ou saliva) ao longo de 24 horas por 1 semana ou mais.


O oxigênio na água de um mamífero está em completo equilíbrio isotópico com o oxigênio no dióxido de carbono (CO2) associado à respiração. Esse equilíbrio ocorre principalmente por causa de reações troca-isotópicas catalisadas pela enzima anidrase carbônica durante o transporte de gás no sangue. A consequência dessas reações de troca é que uma dose do isótopo oxigênio-18 introduzida no corpo de um animal é removida pelas taxas de fluxo de água, oxigênio molecular (O2) inspirado e CO2 expirado. E se um oxigênio-18 é eliminado do corpo tanto por dióxido de carbono quanto pela água, um isótopo de hidrogênio (deutério no caso) seria eliminado apenas pela água. Portanto, a diferença na eliminação dos 2 isótopos marcados e simultaneamente introduzidos em um animal forneceria a medida da produção de CO2 e, portanto, indiretamente o gasto de energia do organismo (CO2 produzido no metabolismo aeróbico).


Esse método de dupla marcação isotópica é considerado padrão de ouro para medir o gasto energético diário de uma pessoa seguindo sua rotina normal, e já é usado desde a década de 1980. Porém, os estudos usando esse método são em geral de pequeno porte devido ao alto custo associado. Nesse sentido, múltiplos laboratórios decidiram compartilhar seus dados e juntar suas medidas em um único banco de dados, para que um padrão global pudesse ser identificado. Os dados englobaram indivíduos do sexo masculino e do sexo feminino com idades de 8 dias até 95 anos, um total de 6421 pessoas de 29 nações, e foi analisado pelo novo estudo.


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Os resultados da análise desse banco de dados mostraram que o gasto energético total aumenta com o aumento de massa livre de gordura (tecido adiposo) seguindo uma tendência de Lei de potência (reta em um gráfico x e y log-log), com quatro distintas fases de vida. Bebês recém-nascidos nascem com a mesma taxa metabólica da mãe, mas esse gasto energético é rapidamente acelerado para valores ~50% acima daqueles de adultos entre 9 meses e 15 meses de idade. As taxas metabólicas das crianças permanecem altas até 5 anos de idade, mas começam a declinar lentamente (~3%/ano) até atingir um platô aos 20 anos de idade e permanecem estáveis até os 60 anos de idade, quando novamente começam a declinar (~0,7%/ano). Após a idade de 90 anos, humanos usam cerca de 26% menos de energia diária do que um adulto de 20 anos.


Em outras palavras, bebês e crianças muito novas possuem taxas metabólicas dramaticamente diferentes de adultos, queimando 50% mais calorias por dia em termos proporcionais ao tamanho corporal. A causa para isso não é apenas porque as crianças são mais ativas, crescem rápido ou se esforçam mais para se movimentar. Em particular, algo ocorre no metabolismo celular de bebês ainda não totalmente compreendido e que tornam suas células mais ativas do que o esperado. Uma possível explicação pode ser mudanças de desenvolvimento no cérebro, outros órgãos e no sistema imune demandando uma quantidade muito grande de energia; à medida que a idade avança, e os órgãos encolhem e a matéria cinzenta é progressivamente perdida no cérebro, o consumo cai drasticamente. De fato, o cérebro de crianças muito novas consomem 43% de toda a energia gasta no corpo (Ref.3). O achado reforça a importância de uma boa e rica alimentação nessa fase, e explica por que os bebês são tão vulneráveis à escassez alimentar.


Os resultados do estudo também quebram três mitos populares. O primeiro é que adultos mais velhos não necessariamente possuem um metabolismo mais lento do que pessoas mais novas, mesmo em mulheres na menopausa. É comum as pessoas justificarem uma maior facilidade de ganho de peso com o avançar da idade por causa de uma suporta e significativa queda no metabolismo corporal. Outro achado é que as mulheres grávidas não possuem taxas metabólicas maiores do que outros indivíduos da mesma idade; o maior gasto energético observado em mulheres grávidas é causado apenas pelo aumento da massa corporal. Por fim, não ocorre aumento brusco de metabolismo durante a adolescência, pelo contrário, as taxas continuam caindo com o avanço da idade nessa fase. 


Entre os 20 e 60 anos, apetite, gasto de energia e massa corporal são influenciados por mudanças hormonais, estresse, doenças, crescimento e nível de atividades físicas, não por mudanças intrínsecas no metabolismo basal. É errôneo, portanto, a tão disseminada crença de que após os 30 anos de idade é mais difícil emagrecer por causa de uma alegada queda progressiva e significativa no metabolismo.


Os achados do estudo trazem grande impacto para o campo da nutrição e da medicina, e programas alimentares podem pedir importantes modificações para melhor se adequarem às reais necessidade calóricas dos indivíduos e aos pesos de diferentes fatores para o ganho ou perda de massa corporal.


(!) Isótopos são átomos de um determinado elemento químico com o mesmo número atômico (mesmo número de prótons no núcleo) e diferente número de nêutrons. O elemento hidrogênio (H), por exemplo, possui três isótopos naturais (todos com número atômico 1): hidrogênio-1 (sem nêutrons), deutério (um nêutron) e trítio (dois nêutrons).


REFERÊNCIAS

  1. https://science.sciencemag.org/content/373/6556/808
  2. Speakman, J. R. (1998). The history and theory of the doubly labeled water technique. The American Journal of Clinical Nutrition, 68(4), 932S–938S. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/9771875/
  3. https://www.sciencemag.org/news/2021/08/little-kids-burn-so-much-energy-they-re-different-species-study-finds


Estudo muda tudo o que pensávamos sobre as mudanças no metabolismo com o avanço da idade Estudo muda tudo o que pensávamos sobre as mudanças no metabolismo com o avanço da idade Reviewed by Saber Atualizado on agosto 13, 2021 Rating: 5

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