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Evidência genética não suporta suplementação com vitamina D contra a COVID-19

 
Estudos observacionais (retrospectivos e prospectivos) previamente publicados têm sugerido que suplementação com vitamina D pode ter valor terapêutico no tratamento da COVID-19 ou na prevenção de uma progressão mais severa da doença. A vitamina D é um micronutriente multifuncional, com evidência acumulada de importantes funções diretamente associadas ao sistema imune (1). Porém, é incerto se essa relação sugerida é válida para a população em geral ou apenas para indivíduos com real deficiência nesse micronutriente, e, de fato, esse último cenário tem sido comumente apontado como mais consistente. Estudos observacionais não estabelecem causa e efeito, e, portanto, são suscetíveis a análises tendenciosas devido a co-fatores ignorados ou erroneamente subestimados.


(1) Para mais informações, acesse: Cor da pele, Vitamina D, Ácido Fólico e Evolução


Para superar parte das limitações dos estudos observacionais publicados até o momento sugerindo uma possível relação entre nível de vitamina D no organismo e risco de suscetibilidade a uma progressão mais severa da COVID-19, um estudo publicado no periódico PLOS Medicine (Ref.1) conduziu uma análise randomizada Mendeliana investigando variantes genéticas fortemente associadas com o aumento dos níveis endógenos de vitamina D (ex: variantes nos genes CYP2R1 e CYP24A1, envolvidos na síntese e na degradação da vitamina D, respectivamente). A análise genética englobou 14134 indivíduos com COVID-19 e mais de 1,2 milhão de indivíduos sem a doença de 11 países. Os dados foram obtidos do banco genômico UK Biobank, e todos os participantes tinham ancestralidade Europeia). Com base nos resultados da análise, os pesquisadores concluíram que não havia associação entre os níveis de vitamina D e proteção contra a COVID-19, risco de hospitalização ou progressão severa da doença.


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A randomização Mendeliana é um método de epidemiologia genética que usa variantes genéticas como variáveis instrumentais para inferir efeito causal de uma exposição (no caso, níveis endógenos de 25-hidróxi vitamina D, ou 25OHD, o pré-hormônio da forma biologicamente ativa calcitriol) sobre um resultado (nesse caso, suscetibilidade à COVID-19 e severidade à doença). A randomização Mendeliana supera a maior parte dos co-fatores de risco porque alelos genéticos são randomizados aos indivíduos na concepção (expressos a partir de probabilidades genéticas relativas às junções de material genéticos de indivíduos aleatórios do sexo masculino e do sexo feminino). De forma similar, como alelos genéticos são sempre determinados antes da manifestação de doenças, eles não são influenciados por causação reversa. De fato, historicamente, randomizações Mendelianas têm corroborado os estudos clínicos de grande porte e de alta qualidade.


Nesse sentido, resultados do novo estudo também concordaram com o único estudo duplo-cego, randomizado, placebo-controlado até o momento publicado (JAMA, Ref.2) testando a eficácia da suplementação com alta dose de vitamina D3 em 240 pacientes com COVID-19, e o qual não encontrou nenhum efeito positivo dessa suplementação sobre a mortalidade, duração da hospitalização ou risco de ventilação mecânica. Um estudo retrospectivo publicado no final do ano passado no periódico Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism (Ref.3), analisando dados clínicos de 216 pacientes com COVID-19 em um hospital universitário na Espanha, também não encontrou relação direta entre concentração de vitamina D no sangue e severidade da doença.  


Como o estudo não analisou dados específicos de indivíduos com real deficiência de vitamina D, os resultados não esclareceram se suplementação de vitamina D nesses indivíduos traz benefícios específicos contra a COVID-19. De qualquer forma, níveis adequados de vitamina D são importantes para o corpo em qualquer cenário, e pessoas com deficiências nutricionais estarão mais fragilizadas para qualquer adversidade médica. Porém, suplementação extra sem real necessidade - visando a população em geral e indivíduos sem hipovitaminose - não parece interferir com o curso clínico da COVID-19.


IMPORTANTE: Existem reportes de pessoas consumindo doses maiores do que 4000 IU/dia de vitamina D para tratar ou prevenir a COVID-19, mesmo sem suporte científico para tal. Excesso (hipervitaminose) de vitamina D pode trazer prejuízos para o corpo, incluindo confusão, apatia, vômito recorrente, dores abdominais, poliuria, polidipsia, desidratação e, em casos mais severos, hipercalcemia. Indivíduos que produzem endogenamente vitamina D (25OHD) em níveis maiores do que o normal ficam em maior risco de hipervitaminose em caso de suplementação.


REFERÊNCIAS

  1. https://journals.plos.org/plosmedicine/article?id=10.1371/journal.pmed.1003605 
  2. https://jamanetwork.com/journals/jama/fullarticle/2776738
  3. https://academic.oup.com/jcem/advance-article/doi/10.1210/clinem/dgaa733/5934827
  4. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6158375/

Evidência genética não suporta suplementação com vitamina D contra a COVID-19 Evidência genética não suporta suplementação com vitamina D contra a COVID-19 Reviewed by Saber Atualizado on junho 08, 2021 Rating: 5

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