Análise de mamutes congelados resultaram no mais antigo DNA já sequenciado
Na década de 1970, o paleontólogo Russo, Andrei Sher, descobriu vestígios de três mamutes congelados no norte da Sibéria. Com base em datação paleomagnética (1) e análise de outros fósseis associados ao local, pesquisadores estimaram que esses mamutes viveram há cerca de 1,2 milhão, 1 milhão e 700 mil anos.
Agora, em um estudo publicado na Nature (2), pesquisadores conseguiram extrair e sequenciar o DNA dos molares de todos os três mamutes. O mais novo genoma (~700 mil anos atrás) mostrou pertencer a um dos mais antigos Mamutes-Lanosos (Mammuthus primigenius). O segundo mais novo (~1 milhão de anos atrás) mostrou pertencer a um Mamute-das-Estepes (Mammuthus trogontherii), o ancestral direto dos mamutes-lanosos. O mais antigo deles (~1,2 milhão de anos) mostrou pertencer a uma linhagem de mamutes até o momento não conhecida, nomeada pelos pesquisadores de Krestovka (homenagem à vila próxima do local onde o mamute foi encontrado).
Análise mais detalhada dessa nova linhagem revelou vários genes adaptativos ao extremo frio presentes nos outros dois mamutes, como aqueles associados a fenótipos como pelagem grossa e amplos depósitos de gordura. Nesse sentido, os pesquisadores também descobriram que a nova linhagem compartilha cerca de metade dos seus genes com os mamutes-Colombianos (Mammuthus columbi) da América do Norte e a outra metade com os mamutes-lanosos, sugerindo um evento de hibridização desses últimos com a linhagem Krestovka - quando esta provavelmente entrou no território Norte-Americano em torno de 1,5 milhão de anos atrás - há cerca de 1 milhão de anos.
O DNA sequenciado da linhagem Krestovka é próximo do estabelecido limite teórico - antes do material genômico ser degrado em grande extensão - e duas vezes mais antigo do que recordes prévios (576-780 mil anos atrás). No caso dos mamutes, como estavam em terras continuamente congeladas, a conservação foi facilitada. Nesse sentido, alguns cientistas estimam que o limite teórico de sequenciamento de DNA é de 2,6 milhões de anos, limite máximo de terras continuamente congeladas até o presente.
OBS.: É possível sequenciar proteínas - cadeia de aminoácidos e RNA associado - extraída de fósseis bem mais antigos (em 2016 foram reportadas sequências proteicas de ovos de 3,8 milhões de anos). Porém, esse tipo de sequenciamento é muito limitado em termos de informação genética de um ser vivo.
(1) Sugestão de leitura (sobre métodos de datação geológica): Como calcular a idade dos fósseis e da Terra?
(2) Publicação do estudo: https://www.nature.com/articles/s41586-021-03224-9