Pigmentos verde e amarelo de hematomas são aliados do novo coronavírus
Em um estudo publicado no periódico Science Advances (1), pesquisadores mostraram como dois compostos coloridos tetrapirrólicos produzidos no nosso corpo a partir do metabolismo do grupo heme (um anel orgânico nas hemoglobinas responsável por aprisionar íons Fe2+), chamados de biliverdina (verde) e bilirrubina (amarela), são capazes de se ligarem ao domínio N-terminal da proteína Spike do novo coronavírus (SARS-CoV-2) - principal alvo dos anticorpos neutralizantes. Para isso, eles usaram as técnicas de microscopia crio-eletrônica e de cristalografia de raio-X, para mapear a interação entre essas estruturas orgânicas. Na imagem acima (A), por exemplo, derivada a partir dessas análises, temos a interação da biliverdina com a estrutura proteica do Spike.
Em experimentos in vitro subsequentes, eles mostraram que a concentrações fisiológicas, a biliverdina significativamente reduziu a reatividade da proteína Spike com soro sanguíneo contendo anticorpos SARS-CoV-2-específicos em 30-50%, e inibiu a ação de um subconjunto de anticorpos neutralizantes. Em outras palavras, isso indica que a biliverdina muda a estrutura da proteína Spike em uma região chave, prevenindo uma efetiva interação dessa proteína com os anticorpos do nosso corpo.
Quando o SARS-CoV-2 infecta os pulmões de uma pessoa e outros tecidos, acaba causando danos nos vasos sanguíneos e um aumento das células imunes. Ambos esses efeitos podem contribuir para o aumento dos níveis de biliverdina e de bilirrubina nos tecidos, agindo como um mecanismo de feedback no sentido de aumentar ainda mais os danos ao diminuir a eficácia dos anticorpos neutralizantes contra as partículas virais.
A descoberta pode abrir caminho para novas vias terapêuticas visando prevenir essa interação entre os pigmentos e a proteína Spike.
(1) Publicação do estudo: https://advances.sciencemag.org/content/early/2021/04/22/sciadv.abg7607