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Ateus possuem uma bússola moral, mas diferente daquela dos teístas (crentes)


Um novo estudo publicado no periódico PLOS ONE (1), e conduzido por pesquisadores da Universidade de Illinois, Chicago, trouxe evidência sugerindo que, enquanto ateus  e teístas compartilham valores morais relacionados à proteção de indivíduos vulneráveis, ateístas são mais prováveis de endossar valores que promovem coesão do grupo e mais inclinados a julgar a moralidade de ações baseados nas consequências dessas ações, caso por caso.


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Existe um estereótipo amplamente disseminado ao longo de várias sociedades e culturas sugerindo que os ateus (pessoas que não creem em uma divindade e não seguem uma religião baseada em divindades) não são confiáveis e não possuem uma bússola moral. Para citar um exemplo, nos últimos 40 anos houve dramática melhora nos EUA em atitudes explícitas em relação à maioria das minorias religiosas e raciais. No entanto, melhora nas atitudes em relação aos ateus têm mostrado pouco avanço. Dados de 2019 mostram que os Norte-Americanos possuem uma atitude muito desfavorável em relação aos ateus e aos muçulmanos do que em relação a outros grupos religiosos. Onde 93% a 96% dos Norte-Americanos reportam ser favoráveis em votar por um candidato a presidente qualificado Afro-Americano, Católico ou Judeu, apenas 60% aprovam um candidato qualificado ateu.


Psicólogos têm recentemente começado a examinar o porquê das pessoas possuírem tanta antipatia contra os ateus, e as evidências acumuladas apontam que o problema é a falta de confiança. Voltando aos EUA, dados de 2019 indicam que 44% dos Norte-Americanos acreditam que a crença em Deus é necessária para a moralidade. No geral, as pessoas teístas possuem a noção de que os ateus não compartilharam suas normas morais e valores, e, mesmo quando o ateu mostra possuir um claro senso de 'certo e errado', os teístas julgam que o indivíduo ateu é mais suscetível à corrupção no sentido de expressar comportamento imoral. Existe evidência até de que ateus possuem essa visão estereotipada negativa deles mesmos - similar ao que ocorre com o racismo, por exemplo.


Cientistas cognitivos têm proposto quatro diferentes processos através dos quais as pessoas podem se tornar ateus ou descrentes em religiões deístas: 


- Primeiro, crenças religiosas são pensadas de ser fortemente e culturalmente transmitidas através de exibições comunitárias que reforçam credibilidade dessas crenças. Por exemplo, crianças são mais prováveis de aceitaram certas crenças religiosas se elas observam importantes figuras na sua comunidade engajadas em comportamentos a serviço dessas crenças, os quais seriam pessoalmente custosos caso as crenças fossem falsas (ex.: reuniões religiosas, rituais demandados pela crença, engajamento em comportamento pró-social). Sem esse cenário na comunidade, crianças são menos prováveis de adotarem crenças religiosas mesmo se seus pais forem religiosos.


- Segundo, a crença em uma poderosa divindade pode fornecer um senso de controle compensatório e conforto durante tempos de sofrimento e incertezas existenciais. De fato, em países com altos níveis de mortalidade infantil, pobreza e vários indicadores de instabilidade social, as crenças religiosas tendem a ser mais fortes - como aqui no Brasil. Em contraste, ateus são mais prevalentes em regiões onde os níveis de ameaça/incerteza existencial percebida são menores, e a segurança e estabilidade social são maiores, como nos países Escandinavos.


- Terceiro, dependendo da força das normas culturais em uma determinada sociedade/país, as pessoas podem ser mais ou menos capazes de racionalizar contra as crenças religiosas impostas (processos sociais cognitivos intuitivos). Por exemplo, em países governados por sistemas religiosos, como muitas nações no Oriente Médio, a taxa de ateus é dramaticamente reduzida em relação a países mais livres em termos culturais e religiosos, ou culturalmente menos religiosos. Por exemplo, na China, onde normas religiosas são fracamente impostas, a maior parte da população (sugere-se quase 70%) considera-se ateia.


- Quarto, é proposto que diferenças a nível de redes neurais tornam as pessoas mais suscetíveis ou menos suscetíveis às crenças religiosas, independentemente do contexto social e/ou cultural. Para mais informações, fica a sugestão de leitura: Crença em um Deus interventor e criador está associada ao aprendizado inconsciente 


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Para melhor esclarecer a questão, os pesquisadores no novo estudo examinaram os valores morais de 429 Norte-Americanos ateus e teístas através da plataforma Mechanical Turk da Amazon, e conduziram duas grandes pesquisas englobando 4193 ateus e teístas dos EUA (um país predominantemente religioso) e da Suécia (um país predominantemente não-religioso). 


Os resultados das análises sugeriram que os teístas são mais inclinados do que os ateístas a endossarem valores morais que promovem coesão do grupo. Enquanto isso, ateístas mostraram ser mais prováveis de julgar a moralidade de uma ação baseada nas suas consequências. No entanto, ateus e teístas mostraram se alinhar sobre valores morais relacionados à proteção de indivíduos vulneráveis, liberdade versus opressão, e justiça, e ser epistemologicamente racional (ex.: acreditar em alegações quando estas são baseadas em evidências e ser cético sobre alegações quando estas não são baseadas em evidências).


O estudo também trouxe dados que fornecem pistas sobre o porquê da bússola moral ser calibrada de forma diferente entre ateus e teístas: as distinções podem ter origem em parte do fato dos teístas experienciarem uma maior exposição a atividades comunitárias (em grupo) - por exemplo, ir à igreja frequentemente ou realizar festividades/cultos religiosos -, algo que seria custoso se a crença em uma divindade ou sistema religioso associado não existisse. Isso reforça a ideia de que a função da religião ao longo da história civilizatória humana é de unir membros de grupos em comunidades bem coesas (2). Porém, diferenças em estilos cognitivos e níveis de ameaça existencial percebida podem também contribuir para essas distintas características de moralidade.


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(2Leitura complementarDeuses moralistas foram cruciais para a emergência das grandes civilizações humanas?

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Essa diferenciação de moralidade pode também explicar o porquê da tão disseminada e errônea noção de que os ateus são imorais. Valores morais que servem para a coesão do grupo, como ter respeito às autoridades (ex.: líder religioso), regras do grupo, lealdade entre membros do grupo, e santidade, não tendem a ser vistos pelos ateus como relevantes para a moralidade, com esses últimos preferindo fazer julgamentos morais sobre efeitos deletérios a partir de uma base consequencialista caso por caso. Esse tipo de julgamento baseado em princípios consequencialistas tende a ser percebido como menos empático. 


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Neste ponto é importante realçar que um ato considerado imoral não anula que o comportamento possa ter sido moralmente motivado sob o ponto de vista do grupo responsável pelo ato. Por exemplo, ataques terroristas são imorais e um crime contra a humanidade, mas em contextos religiosos (ex.: extremistas) pode ser visto como moral e justo pelos autores do ato terrorista. De fato, alguns acadêmicos têm argumentado que a maior parte da violência humana é dirigida por motivos morais.


Para exemplificar melhor no caso do estudo, teístas inseridos em um grupo religioso fortemente e explicitamente discriminatório contra homossexuais (algo imoral) podem considerar esse tipo de preconceito como moral (algo moralmente motivado) sob o ponto de vista do sistema (regras) associado à crença que une seu grupo, e julgar qualquer indivíduo homossexual - independentemente das qualidades do indivíduo - como uma ameaça à sociedade e aos seus valores morais tradicionais.


(1) Publicação do estudo: https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0246593

Ateus possuem uma bússola moral, mas diferente daquela dos teístas (crentes) Ateus possuem uma bússola moral, mas diferente daquela dos teístas (crentes) Reviewed by Saber Atualizado on fevereiro 25, 2021 Rating: 5

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