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Crença em um Deus interventor e criador está associada ao aprendizado inconsciente

 
Dois recentes estudos trouxeram mais dados científicos esclarecendo possíveis diferenças nos cérebros de ateus e de religiosos (crença em um ou mais Deuses, no caso). No primeiro estudo, publicado no periódico Sleep (1), pesquisadores encontraram que ateus e agnósticos são significativamente mais prováveis de dormir melhor do que Católicos e Batistas. No segundo estudo, publicado no periódico de maior impacto do mundo, Nature Communications (2), neurocientistas mostraram que indivíduos que conseguem predizer inconscientemente complexos padrões - uma habilidade chamada de 'padrão implícito de aprendizagem' - são mais prováveis de segurar crenças mais fortes de que existe um deus que cria padrões de eventos no universo, e menos prováveis de acreditarem na ciência. 


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SONO E RELIGIÃO

A literatura sobre a psicologia associada à religião sugere que o engajamento religioso é benéfico para a saúde mental e física. Tais efeitos podem ser mediados pela saúde do sono, esta a qual afeta o humor e funções cognitivas e imunes. Porém, poucos estudos têm investigado se a religiosidade está associada com um melhor sono, e nenhum estudo tem considerado a direção reversa de causalidade: melhor sono pode impactar os comportamentos e percepções religiosas.


Para melhor esclarecer essa questão, pesquisadores da Universidade de Baylor, Waco, investigaram uma amostra contendo 1501 participantes, incluindo na análise questões sobre afiliação religiosa, e comportamentos e percepções religiosas. Os participantes também pontuaram a própria dificuldade para dormir e o tempo médio diário de sono. Resultados preliminares da investigação, em contraste com o esperado, mostraram que os ateus e agnósticos dormiam bem melhor do que os religiosos. Enquanto que 63% dos Católicos e apenas 55% dos seguidores da Igreja Batista reportaram dormir pelo menos 7 horas por noite, 73% dos ateus e agnósticos reportaram dormir sete ou mais horas por noite. Ateus e agnósticos também reportaram ter menos dificuldade para cair no sono. Esses efeitos foram particularmente mais evidentes entre congregações Afro-Americanas.


Além disso, os resultados da investigação também mostraram que os participantes que reportaram dormir sete ou mais horas por noite também eram significativamente mais prováveis de acreditar que entrariam no paraíso. No entanto, essas percepções de paraíso não estavam relacionadas à dificuldade para cair no sono. Segundo os autores do estudo, esse padrão indica que um melhor sono leva a uma perspectiva da vida mais otimista, a qual, nesse caso, se manifesta como uma expectativa positiva de entrar no paraíso.

 

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SUBCONSCIENTE E RELIGIÃO


No segundo estudo, publicado na Nature, neurocientistas das Universidades de Georgetown e da Pennsylvania, EUA, em colaboração com pesquisadores de Cabul, Afeganistão, resolveram investigar um fator causal para explicar o porquê de muitos fortemente acreditarem em um deus criador enquanto muitos outros não acreditam (ateísmo ou agnosticismo).


Diferenças em crenças possuem substanciais impactos variando da formação pessoal de identidade até afiliação ou exclusão sociais/grupos, ou dinâmicas políticas internacionais. Portanto, questões chaves se preocupam com as bases neurocognitivas das diferenças individuais na crença. Evidências e teorias psicológicas e antropológicas sobre religião sugerem que as crenças religiosas emergem, pelo menos em parte, de mecanismos perceptuais evoluídos para o processamento preditivo de informação ambiental. Apesar de não ser possível observar a co-evolução das crenças religiosas com o processamento de informações humanas, diferenças fenotípicas entre humanos em termos de crenças religiosas e processamento perceptual de informação pode fornecer uma janela alternativa para tais relações. 


Nesse sentido, diferenças individuais em relevantes mecanismos perceptuais para o processamento preditivo de estímulo ambiental pode levar indivíduos ao encontro ou afastá-los de crenças religiosas. Por exemplo, a neurobiologia envolvida para as interações cooperativas entre humanos está implicada como uma base para intuições associadas à moralidade e à justiça (I). Essa intuições, por sua vez, são teorizadas de levar indivíduos a seguirem religiões baseadas em justiça divina e deuses vigilantes, os quais se alinham com intuições morais, e podem insular contra desafios a intuições sobre justiça quando retribuição ou contribuição comensurável para uma dada ação não está materialmente disponível.


> (I) Leitura recomendada: Deuses moralistas foram cruciais para a emergência das grandes civilizações humanas?


Uma crença central entre as principais religiões é que a sequência e a estrutura de eventos nas vidas humanas (e no universo de forma mais geral) refletem uma ordem determinada pela intervenção de Deuses. Nesse caminho, os crentes são mais inclinados a perceberem eventos no mundo como algo ligado a um propósito ou design ao invés de uma série de ocorrências randômicas e imprevisíveis. De fato, tal crença intervencionista é um foco explícito de práticas religiosas no Cristianismo, Islamismo, Hinduísmo e Judaísmo.


É sugerido (hipótese) que processamento de informação relacionada à ordem no ambiente via aprendizado implícito de padrões dentro de sequências visuoespaciais pode influenciar a formação de crença em um Deus interventor/ordenador.


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Para testar essa hipótese, os pesquisadores no novo estudo analisaram 199 Norte-Americanos (média de idade de 20 anos, 66% do sexo feminino e 34% do sexo masculino, 52% Cristãos, 25% não-afiliados) e 148 Afegãos (média de idade de 27 anos, 41% do sexo feminino, 59% do sexo masculino) - duas populações amostrais com culturas bem distintas para reduzir co-fatores tendenciosos -, usando um teste cognitivo bem estabelecido para medir os padrões de aprendizagem implícita.


O teste consistia nos participantes olharem uma tela de computador exibindo uma sequência de pontos que apareciam e desapareciam. Para cada ponto que aparecia, eles apertavam uma determinada tecla de um teclado. Os pontos se moviam bem rapidamente, mas alguns participantes - aqueles com uma habilidade mais forte de aprendizado implícito - começaram a subconscientemente aprenderem os padrões escondidos na sequência, e até mesmo a pressionarem a tecla correta para o próximo ponto antes mesmo do ponto realmente aparecer na tela. No entanto, mesmo os melhores participantes na habilidade de aprendizado implícito não sabiam que os pontos formavam padrões, demonstrando que a aprendizagem estava ocorrendo no nível do subconsciente.



Participantes também foram apresentados a declarações fazendo referência à presença de ordem no universo, mas sem referências a religiões ou a deuses, e tiveram que indicar - em uma escala de 1 a 9 - o nível de concordância com essas declarações.


Corroborando evidências prévias da literatura acadêmica, o estudo encontrou de forma consistente que indivíduos exibindo uma mais forte habilidade de aprendizado implícito de ordem em sequências visuoespaciais (IL-pat) possuem uma mais forte crença em um Deus interventor/ordenador. Os resultados também sugeriram que se as crianças estão inconscientemente encontrando padrões no ambiente, suas crenças religiosas são mais prováveis de aumentarem à medida que crescem, mesmo se são criadas em um lar não-religioso; caso não estiverem encontrando padrões ao redor delas, suas crenças são mais prováveis de diminuírem à medida que crescem, mesmo se criadas em um lar religioso.


Entre os participantes dos EUA, a escala de auto-percepção de ordem do universo mediou esses efeitos, sugerindo que o IL-pat pode estar associado com crenças intervencionistas porque esta produz intuições de ordem que inclinam os indivíduos no sentido da crença em Deuses ordenadores. 


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Juntos, os resultados indicam que a crença em Deuses interventores/ordenadores é mediada pelo subconsciente, e talvez por isso é tão difícil convencer as pessoas mais crentes a desistirem das suas crenças, mesmo apresentando argumentos científicos ou lógicos que contrariam a crença. Isso é reforçado pelo fato de que o aprendizado implícito está associado a fatores genéticos.


Somando-se a isso, os pesquisadores também encontraram que uma maior habilidade de IL-pat estava inversamente associada com a crença na ciência. Para essa conclusão, os pesquisadores realizaram uma questionário contendo 10 perguntas que mediam atitudes associadas à ciência, como seu valor, confiabilidade, e habilidade de fornecer um entendimento do mundo e da cultura humana, comparando as pontuações com o teste de IL-pat. Isso sugere um feedback que fortalece a crença em um Deus interventor/ordenador.


> Leitura complementar: Por que nós acreditamos em deuses? Intuição ou aprendizado?


REFERÊNCIAS

Crença em um Deus interventor e criador está associada ao aprendizado inconsciente Crença em um Deus interventor e criador está associada ao aprendizado inconsciente Reviewed by Saber Atualizado on setembro 11, 2020 Rating: 5

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