Hidroxicloroquina é ineficaz como profilaxia pós-exposição contra a COVID-19
Em um estudo randomizado publicado recentemente no periódico The New England Journal of Medicine (1), pesquisadores investigaram a eficácia da hidroxicloroquina como um profilático pós-exposição contra a infecção pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2). Para isso, foram recrutados 2314 voluntários saudáveis na Catalunha, Espanha, que tiveram contato (potencialmente expostos ao SARS-CoV-2) com 627 pacientes com COVID-19 (confirmada com teste de RT-PCR) identificados entre 17 de março e 28 de abril de 2020.
Os voluntários foram divididos aleatoriamente em dois grupos: 1116 receberam hidroxicloroquina (uma dose de 800 mg seguida por 400 mg/dia por seis dias) e 1198 receberam tratamento padrão (nenhuma terapia específica; controle).
Os resultados mostraram que a incidência de COVID-19 sintomática foi similar em ambos os grupos, com a diferença não sendo considerada estatisticamente significativa: 5,7% (hidroxicloroquina) e 6,2% (controle). Além disso, a administração de hidroxicloroquina não estava associada com uma menor incidência de transmissão do SARS-CoV-2: 18,7% (hidroxicloroquina) e 17,8% (controle). Ou seja, a terapia pós-exposição com hidroxicloroquina não preveniu a infecção efetiva pelo SARS-CoV-2 ou o desenvolvimento de COVID-19 sintomática em indivíduos saudáveis expostos a pacientes com COVID-19.
A incidência de eventos adversos foi maior no grupo da hidroxicloroquina (56,1%) do que no grupo de controle (5,9%) - maioria sendo diarreia, náusea, dor abdominal, tontura e dor de cabeça -, mas sem sérios eventos adversos reportados.
Segundo concluíram os pesquisadores, o estudo traz mais uma forte evidência corroborando que a hidroxicloroquina é ineficaz contra a COVID-19, tanto no tratamento quanto na profilaxia. O Ministério da Saúde no Brasil não pode continuar abraçando anti-ciência dessa maneira, deteriorando sua credibilidade em nome de uma bandeira política negacionista do presidente.
Aliás, um estudo publicado também esta semana no periódico Cell Reports Medicine (2) encontrou - a partir de experimentos in vitro - que a hidroxicloroquina inibe a ação de um tipo de leucócito (célula branca) importante na primeira linha de defesa contra infecções. Em específico, a hidroxicloroquina inibe mudanças no lipidoma e modificações de histonas em monócitos, bloqueando a resposta da imunidade treinada inata a interferons e estímulos virais. Baseado nos achados do estudo, os pesquisadores concluíram que esse fármaco é improvável de ser benéfico no combate a infecções virais, incluindo do SARS-CoV-2, o que corrobora os estudos clínicos randomizados de grande porte sendo publicados.
> E para o pessoal usando hidroxicloroquina com azitromicina, esta combinação também é ineficaz e está associada com um aumento no risco de morte de pacientes com COVID-19. Para mais informações, acesse: https://bit.ly/3fHVTVW
Publicação do estudo: