O azul metálico dos frutos dessa planta não é produzido por pigmentos, revelou estudo
- Atualizado no dia 19 de fevereiro de 2025 -
Conhecido popularmente como folhado, laurestim, folhado-comum ou milfolhado, o arbusto da espécie Viburnum tinus é nativo da Europa (região Mediterrânica e Macaronésia) e encontrado principalmente em Portugal. Raramente ultrapassando 6 metros de altura, possui uma densa folhagem sempre-verde e ramos angulosos. Mas a característica mais chamativa dessa planta e o motivo de ser tão cultivada em jardins do mundo todo é a presença de frutos com uma distinta coloração azul metálica. Em um estudo publicado em 2020 na Current Biology (Ref.1), pesquisadores descobriram que a cor azul metálica desses frutos não é causada por pigmentos, mas por nanoestruturas lipídicas até então nunca descritas (!).
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No estudo, pesquisadores da Universidade de Cambridge, Reino Unido, utilizaram múltiplas técnicas de microscopia eletrônica e simulações computacionais para mostrar que os frutos da V. tinus usam nanoestruturas feitas de lipídios nas suas paredes celulares - um mecanismo de cor estrutural previamente desconhecido - para gerar a distinta cor azul metálica, e com o objetivo provavelmente de sinalização honesta de alto conteúdo calórico para atrair pássaros dispersores de sementes.
Cor estrutural - sem a presença de pigmentos de cor - é um fenômeno muito comum em animais, especialmente aves, besouros e borboletas, mas muito raro em plantas. Enquanto a maioria das plantas possuem paredes celulares feitas de celulose, as células da fruta do V. tinus possuem paredes muito mais grossas com milhares de lipídios globulares arranjados em camadas que refletem luz azul - como mostrado nas imagens abaixo. A estrutura formada por essas multicamadas lipídicas permite que a fruta produza a vibrante cor azul mesmo não possuindo nenhum pigmento azul.
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Middleton et al., 2020 |
Como as estruturas lipídicas descritas não são comuns nas plantas - normalmente os lipídios são armazenados dentro das células e usados para transporte -, os pesquisadores sugeriram que esse arranjo pode contribuir para o status nutritivo da planta. Isso significa que o fruto pode demonstrar o quão nutritiva ele é com suas cores azuis e brilhantes, atraindo pássaros que dispersam as sementes da planta. Porém, os pesquisadores ainda não têm certeza se esses lipídios são usados de fato como gordura/nutriente pelos pássaros, mas tudo indica que sim.
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Enquanto que pássaros e outras aves são atraídos por frutos azuis - o azul, aliás, é uma cor bem rara na fauna e na flora -, tais frutos nas plantas estudadas até o momento essencialmente não possuem qualquer valor nutricional. A V. tinus pode ter unido o poder de atração da cor azul com o valor nutricional ao longo do processo evolutivo. Falta ainda esclarecer a natureza e a digestibilidade dos lipídios envolvidos na cor estrutural. Possivelmente são ácidos graxos de fácil digestão.
----------(!) Atualização ----------
> Existem 165 espécies descritas no gênero Viburnum e evidência científica mais recente revelou que múltiplas delas exibem cor estrutural (ex.: V. dentatum e V. lautum). Existem pelo menos duas origens independentes, e possivelmente três, de cor estrutural nos frutos desse grupo, usando também glóbulos lipídicos embebidos na parede celular. Várias outras espécies do grupo usam pigmentos para cores diversas (vermelho, preto, azul, roxo, amarelo). Ref.2
> É ainda incerto o porquê de cor estrutural ter evoluído múltiplas vezes nesse gênero. A cor azul (400–450 nm) é percebida por aves frugívoras diversas, e as sementes são dispersadas quase inteiramente por esses animais. Como existe apenas uma pequena reflectância do UV, acaba sendo desnecessário um sistema visual "especial" nas aves. Pode ser que o arranjo lipídico nutritivo e a potencial sinalização honesta com cor resultante seja um caminho efetivo mais simples ou equivalente ao sistema de pigmentação com sinalização honesta ou desonesta.
> Cor estrutural em frutos e sementes evoluiu em pelo menos 6 gêneros de plantas, incluindo as espécies: Pollia condensata e Margaritaria nobilis, através do arranjo de microfibrilas de celulose nas paredes celulares; Delarbrea michieana; Elaeocarpus angustifolius, através de iridossomos; Viburnum sp. e Lantana strigocamara, evoluindo de forma convergente uma cor azul metálica nos frutos através de estruturas lipídicas. Ref.2
Leitura recomendada:
REFERÊNCIAS
- Vignolini et al. (2020). Viburnum tinus Fruits Use Lipids to Produce Metallic Blue Structural Color. Current Biology, Volume 30, Issue 19, P3804-3810.E2. https://doi.org/10.1016/j.cub.2020.07.005
- Sinnott-Armstrong et al. (2022). Multiple origins of lipid-based structural colors contribute to a gradient of fruit colors in Viburnum (Adoxaceae). New Phytologist, Volume 237, Issue 2, Pages 643-655. https://doi.org/10.1111/nph.18538
O azul metálico dos frutos dessa planta não é produzido por pigmentos, revelou estudo
Reviewed by Saber Atualizado
on
agosto 06, 2020
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