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Cientistas criam por acidente um híbrido inesperado entre duas espécies de peixes


Cientistas Húngaros conseguiram algo inesperado: a criação em laboratório de híbridos entre um peixe-espátula Americano e um esturjão-Russo. Ganhando o apelido de "sturddlefish" na internet - uma mistura dos nomes em inglês das duas espécies -, a existência desses híbridos é mais do que improvável, já que essas espécies divergiram do ancestral comum há mais de 184 milhões de anos. Esse período de tempo é quase duas vezes o período de divergência evolucionária entre humanos e ratos. Os híbridos foram criados misturando o espermatozoide do peixe-espátula e o óvulo do esturjão-Russo, e compartilham o apetite carnívoro da mãe e alguns expressavam uma versão em escala reduzida do aparelho filtrante de alimentação presente no longo "nariz" do pai. O achado foi descrito em um estudo publicado no periódico Genes (1). 

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Os esturjões primeiro se originaram durante o Jurássico, há cerca de 200 milhões de anos, eventualmente se dividindo em três famílias pertencentes à classe Actinopterygii. Hoje, existem mais de 20 espécies desses peixes englobados nas duas famílias que persistiram: Acipenseridae e Polyodontidae. Na família Polyodontidae, nenhum evento de duplicação genômica ocorreu e a única espécie hoje viva pertencente a esse clado - o peixe-espátula Americano (Polyodon spathula) - permaneceu diploide (2n) com cerca de 120 cromossomos. Em contraste, na família Acipenseridae, vários eventos de poliploidização ocorreram - conferindo provavelmente vantagens adaptativas -, e isso permite que hibridizações ocorram com sucesso entre as espécies dessa família. De fato, a maioria das espécies no Atlântico, incluindo o esturjão-Russo (Acipenser gueldenstaedtii), são consideradas "tetraploides funcionais" (4n) com cerca de 250 cromossomos.





Além da grande distância filogenética entre os peixes-espátulas - habitantes obrigatórios de água doce - e os esturjões marinhos (divergiram no percurso evolutivo há 184,4 milhões de anos), várias características morfológicas e de nichos ecológicos diferem dramaticamente esses clados. Tudo isso sugere uma incapacidade de hibridização entre espécies dos dois grupos.

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Nesse sentido, no novo estudo, os pesquisadores reportaram algo inesperado. Em um experimento para produzir proles ginogênicas de esturjões-Russos, um controle negativo foi iniciado usando espermatozoides não-irradiados de peixes-espátulas Americanos e óvulos de esturjões-Russos (aqui o objetivo era justamente evitar fertilização e embriões viáveis). Porém, esse cruzamento acabou gerando híbridos! Esse evento de hibridização foi repetido usando óvulos de três esturjões e os espermatozoides de quatro peixes-espátulas. Sobrevivência em todos os grupos híbridos variou de 62% a 74% 30 dias após a eclosão dos ovos. Apesar do crescimento ter sido marcado por alta variância entre os híbridos (média de massa corporal de 1,2 kg após 1 ano), a maioria dos indivíduos alcançaram uma massa de aproximadamente 1 kg com 1 ano de idade.




Dois níveis de ploidismo foram observados nos híbridos. Os números de cromossomos nesses híbridos variou entre 156-184 e 300-310, representando triploides e pentaploides "funcionais", respectivamente. Várias características morfológicas distintas entre os híbridos e as espécies originais foram observadas, assim como características comuns. Os indivíduos de maior tamanho genômico eram mais similares à espécie materna, presumivelmente devido à maior "dosagem" genética de esturjão-Russo sobrepondo a carga genética do peixe-espátula.

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Segundo os pesquisadores, o sucesso reprodutivo dessas duas distantes espécies em termos evolutivos pode ter como causa a consequência combinada de uma antiga duplicação genômica (~180 milhões de anos atrás, que ocorreu no ancestral comum das duas famílias) e a lenta taxa de evolução dos peixes na família Acipenseridae. Essa hipótese de lenta evolução é reforçada pelas "pequenas" diferenças morfológicas vistas nas atuais espécies vivas de esturjões marinhos, as menores taxas de variações nos genes mitocondriais e nucleares, e a menor taxa de evolução proteica comparada com aquelas de outros peixes. As análises do novo estudo também sugerem que os peixes-espátulas podem se hibridizar também com outras espécies de esturjões marinhos.

Ainda é incerto que esses novos híbridos podem ter potencial valor nas práticas de Aquacultura.


(1) Publicação do estudo: MPDI

Cientistas criam por acidente um híbrido inesperado entre duas espécies de peixes Cientistas criam por acidente um híbrido inesperado entre duas espécies de peixes Reviewed by Saber Atualizado on julho 23, 2020 Rating: 5

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