Até 45% dos infectados com o novo coronavírus podem ser assintomáticos

Já é bem estabelecido que uma boa parte das pessoas infectadas com o novo coronavírus nunca desenvolvem sintomas da doença associada (COVID-19), os assim chamados 'assintomáticos'. Porém, a real proporção de assintomático entre os infectados - os quais englobam também sintomáticos, pré-sintomáticos e paucissintomáticos - é ainda motivo de muito debate e pesquisa. A Organização Mundial de Saúde (OMS) já tinha sugerido que a faixa de assintomáticos pode ir de 6% até 40% do total. Agora, em um estudo publicado no periódico Annals of Internal Medicine (1), pesquisadores trouxeram evidências sugerindo que os assintomáticos podem englobar até 40-45% dos casos de infecção, e que isso pode ser motivo de mais preocupação.

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Após o anúncio feito pela OMS, muita desinformação foi gerada e espalhada pelas redes sociais, especialmente por grupos políticos contrários ao uso universal das máscaras, ao isolamento social e às medidas mais restritivas de lockdown (quarentena total). Isso porque muitos interpretaram que as pessoas sem sintomas da doença não precisariam se preocupar, porque não estariam espalhando o SARS-CoV-2.

Basicamente, existem quatro categorias de infectados:

- Pessoas que nunca desenvolvem sintomas (assintomáticos)

- Pessoas que testam positivo (via teste RT-PCR) mesmo quando elas não possuem sintomas, mas acabam desenvolvendo sintomas após um tempo de evolução da infecção (pré-sintomáticos)

- Pessoas com sintomas muito leves ou sintomas atípicos que não percebem que estão infectadas (paucisintomáticos)

- Pessoas que desenvolvem sintomas esperados (febre, tosse, espirro, perda de paladar/olfato, etc.) desde o início da infecção (sintomáticos) 

Enquanto que os indivíduos sintomáticos são aqueles que, naturalmente, possuem maior potencial de disseminação da doença devido à notável presença de meios mais eficientes para espalhar gotículas e aerossóis contaminados (tosse e espirro), os indivíduos infectados pré-sintomáticos e paucissintomáticos são aqueles que parecem ser os principais responsáveis pela disseminação do vírus (50-80% das transmissões, com significativa contribuição dos assintomáticos). E o pior: muitas vezes não sabem que estão contagiosos ou com a doença, ou sabem que estão infectados mas podem achar que são assintomáticos.

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No novo estudo, os pesquisadores resolveram revisar e sintetizar as evidências disponíveis sobre infecções assintomáticas pelo SARS-CoV-2 na literatura acadêmica. Eles encontraram que os assintomáticos parecem responder por aproximadamente 40% a 45% das infecções, e que esse grupo pode transmitir o vírus de forma silenciosa para outros indivíduos por um período estendido de tempo, talvez por mais de 14 dias. Nesse último ponto, os pesquisadores encontraram que as cargas virais nas pessoas com ou sem sintomas são muito similares, mas enfatizaram que permanece incerto se a infecciosidade possui a mesma magnitude em ambos os casos. 

Os achados entram em concordância com outro estudo publicado hoje no The New England Journal of Medicine (2) explorando os infectados no famoso navio de cruzeiro Diamond Princess. Com um total de 3711 passageiros, 712 deles acabaram infectados com o SARS-CoV-2. No momento do teste (RT-PCR), 410 (58%) pareciam ser assintomáticos. No entanto, posteriormente, após analisarem 96 infectados aparentemente assintomáticos, 11 deles revelaram ser pré-sintomáticos. Ou seja, extrapolando os resultados desse subgrupo de pacientes, é esperado que ~50% dos infectados no navio eram realmente assintomáticos, o que aproxima da faixa estimada de 40-45%.

No entanto, para certos grupos, essa proporção pode variar bastante. Em uma carta recente também publicada no periódico The New England Journal of Medicine (3), foi reportado um estudo realizado em 76 residentes de um asilo em Washington, EUA. Via teste rRT-PCR aplicado de 13 de março até 19-20 de março e coleta de reportes de sintomas, os pesquisadores mostraram que 63% dos pacientes (48) tiverem um resultado positivo para infecção com o SARS-CoV-2 e que, inicialmente, 27 (56%) pareciam ser assintomáticos. Porém, sintomas eventualmente se desenvolveram em 24 dos residentes (após uma média de 4 dias), e tiveram que ser reclassificados como pré-sintomáticos. Cargas virais durante essa média de 4 dias permaneceu alta ao longo de todos os grupos, incluindo assintomáticos verdadeiros. Dezessete dos 24 pré-sintomáticos mostraram ter culturas virais viáveis (infecciosas) de 1 a 6 dias antes dos sintomas emergirem, e que provavelmente foram os principais transmissores no asilo - o qual, aliás, teve alta taxa de mortalidade dos infectados (26% morreram).

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Outro achado importante no estudo publicado no Annals of Internal Medicine, e também explorando o navio  Diamond Princess, é o fato de que grande parte dos indivíduos infectados (>50%) parecem expressar significativas anormalidades sub-clínicas no tecido pulmonar, levantando a possibilidade de que a infecção com o SARS-CoV-2 impacta as funções pulmonares de uma forma não imediatamente aparente.  

Como é difícil saber com certeza quem é assintomático ou pré-sintomático mesmo com testes específicos, e que após a exposição ao vírus é praticamente uma questão de cara-ou-coroa as chances de alguém desenvolver sintomas - mesmo que mínimos -, os pesquisadores reforçaram a importância do uso universal de máscara e das medidas de isolamento social e de distanciamento social visando a população em geral. Isso é reforçado pelo substancial potencial de transmissão dos assintomáticos devido à alta carga viral no trato respiratório superior.

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Leitura complementar sobre a fala da OMS que acabou distorcida: Qual o significado da declaração da OMS sobre os assintomáticos?

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(1) Publicação do estudo: AIM

(2) Publicação do estudo: NEJM

(3) Publicação do estudo: NEJM