Isolado vírus muito similar ao novo coronavírus de pangolins
A pandemia do novo coronavírus (SARS-CoV-2) continua avançando ao redor do mundo, trazendo colapsos no sistema de saúde de vários países, trazendo um acumulado de quase 4 milhões de casos confirmados e quase 275 mil mortes acumuladas, mas com quase 1,4 milhões de pacientes recuperados. Aqui no Brasil, foram confirmados até o momento mais de 141 mil casos e mais de 10 mil mortes, e a situação pode piorar com a chegada de uma estação mais fria. O SARS-CoV-2, responsável pela COVID-19, primeiro emergiu na China, com todas as evidências apontando para uma origem natural a partir de coronavírus em morcegos e com o vírus infectando humanos através de um animal intermediário não-morcego, provavelmente um mamífero.
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(1) Leitura recomendada: Afinal, o novo coronavírus foi criado em um laboratório da China?
As evidências acumuladas até o momento indicam que esse animal intermediário pode ser o pangolim (mamíferos do gênero Manis). Estudos prévios vinham encontrando similares de 85,5% até 99% entre o material genético do SARS-CoV-2 e coronavírus encontrados na espécie Manis javanica. Porém, até o momento, evidências conclusivas ainda não existem para confirmar essa espécie como o reservatório intermediário.
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Agora, em um estudo publicado na Nature (2), pesquisadores Chineses trouxeram mais uma forte evidência de que os pangolins parecem ser, de fato, o correto candidato intermediário. Para isso, eles examinaram tecidos pulmonares de 4 pangolins Chineses (Manis pentadactyla) e de 25 pangolins Malaios (Manis javanica) obtidos em março-agosto de 2019 em um centro para animais selvagens resgatados. Com o uso de testagem via RT-PCR, os pesquisadores buscaram identificar tecidos com contaminação positiva para RNA viral próximo-associado ao gênero Betacoronavirus, do qual pertence o SARS-CoV-2. Resultados positivos vieram para o RNA de 17 dos 25 pangolins Malaios, enquanto nenhum veio dos pangolins Chineses.
Todos os pangolins Malaios testados positivos tinham chegado ao centro de preservação ao final de março de 2019, e gradualmente mostraram sinais de doença respiratória, incluindo falta de ar, emaciação, falta de apetite, inatividade e choro. Além disso, 14 desses 17 pangolins morreram dentro de um intervalo de 45 dias. Os pesquisadores também analisaram o plasma sanguíneo de 4 dos pangolins testados positivos e de 4 testados negativos visando detectar a presença de anticorpos IgG e IgM contra o SARS-CoV-2. A análise sugeriu que um deles estava infectado com um vírus similar ao SARS-CoV-2, mas os outros podem ter morrido de uma manifestação aguda da doença antes da produção de anticorpos específicos, como sugerido pelas análises histológicas do tecido de quatro pangolins testados positivos (danos alveolares difusos de variados graus de severidade no pulmão e substancial redução do espaço alveolar em um caso).
Após multiplicar o vírus isolado do pangolim que deu resultado positivo no teste de anticorpo - em culturas celulares (células Vero E6) -, os pesquisadores realizaram uma análise genética comparativa. Os resultados mostraram que o vírus isolado possuía 100%, 98,6%, 97,8% e 90,7% de identidade de aminoácido com o SARS-CoV-2 nos genes E, M, N e S, respectivamente. Em particular, o domínio do receptor-ligante na proteína S do coronavírus recuperado do pangolim mostrou-se virtualmente idêntico àqueles do SARS-CoV-2, com apenas um aminoácido não-crítico - não essencial para a função proteica - de diferença.
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> A proteína S do SARS-CoV-2 e do SARS-CoV (vírus responsável pela SARS) age especificamente reconhecendo o receptor proteico ACE2 na célula hospedeira - incluindo de humanos -, possibilitando a entrada viral nessa última.
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Com base nos resultados, os pesquisadores concluíram que o SARS-CoV-2 pode ter se originado da recombinação de um coronavírus de pangolim com um coronavírus de morcego (Bat-CoV) similar ao Bat-CoV-RaTG13 - cepa encontrada em morcegos evolutivamente mais próxima do SARS-CoV-2. Os pesquisadores também concluíram que o isolamento que um coronavírus que é altamente similar ao SARS-CoV-2 em pangolins fortemente sugere que esses animais representam o reservatório intermediário responsável por infectar nossa espécie.
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Os pangolins são considerados os mamíferos mais traficados do mundo, e cujas espécies enfrentam risco de extinção (3). O achado no novo estudo reforça que o tráfico ilegal de animais selvagens - um grave problema no mundo todo - representa uma ameaça não só à biodiversidade mas também à saúde humana e de outros animais, quando novos patógenos são exportados para diferentes regiões sem rígido controle. Em específico, devido a presença de coronavírus com o potencial de infectar os humanos, o tráfico ilegal de pangolins precisa receber um mais enfático banimento.
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(3) Os pangolins são amplamente traficados por causa da sua carne - usada para fazer pratos de luxo muito apreciados - e também pelas suas escamas, usadas na medicina tradicional Chinesa e sem suporte científico para esse uso. Para mais informações, acesse: Qual é o mamífero mais traficado do mundo?
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(1) Publicação do estudo: Nature
Isolado vírus muito similar ao novo coronavírus de pangolins
Reviewed by Saber Atualizado
on
maio 09, 2020
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