Homens morrem 2,4 vezes mais por COVID-19 do que as mulheres, segundo estudo
Com quase 3,5 milhões de casos confirmados ao redor do mundo, e mais de 243 mil mortes registradas - sem contar o problema das sub-notificações e escassez de testes -, a pandemia do novo coronavírus (SARS-CoV-2) continua avançando e atacando seriamente os sistemas de saúde, com hospitais abarrotados de pacientes com a doença associada (COVID-19). Uma notável tendência sendo observada nos casos mais graves e eventuais fatalidades é a presença exagerada de pacientes do sexo masculino, cuja causa ainda é incerta. Agora, um estudo publicado no periódico Frontiers in Public Health (1) encontrou que os homens possuem mais do que o dobro da taxa de mortes por COVID-19 em relação às mulheres.
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Os cientistas ainda não sabem muito bem porque algumas pessoas são mais severamente afetadas pelo SARS-CoV-2 do que outros, mas vários fatores de risco já foram identificados. Idade avançada (>65 anos) e comorbidades prévias (hipertensão, diabetes, câncer, doenças cardiovasculares e respiratórias crônicas, etc.) são os dois fatores de maior risco bem estabelecidos. Outro notável fator de risco sendo observado pelos médicos e cientistas é o sexo biológico do indivíduo: apesar de homens e mulheres serem similarmente suscetíveis à infecção pelo vírus, os primeiros tendem a sofrer mais com a progressão do quadro infeccioso. Em outras palavras, homens idosos com comorbidades preexistentes parecem constituir o grupo de maior risco para a COVID-19.
Nesse sentido, para melhor investigar essa questão, pesquisadores Chineses do Hospital Tongren de Pequim, China, resolveram analisar os dados de 43 pacientes tratados por eles no hospital e um banco de dados incluindo 1056 pacientes com COVID-19. Entre os achados, os pesquisadores reforçaram que os homens e mulheres possuem suscetibilidade similar à doença (tanto no número de casos quanto em termos de faixa de idade), mas que os homens eram 2,4 vezes mais prováveis de morrer pela doença, e independentemente da idade. Entre os quase 1100 pacientes analisados, 70% daqueles que morreram eram homens.
Dada a similaridade do mecanismo de infecção celular do SARS-CoV-2 e do SARS-CoV (vírus responsável pela pandemia de SARS de 2003) - ambos usam o mesmo receptor proteico (ACE2) para entrar nas células de mamíferos -, os pesquisadores também investigaram 524 pacientes com SARS, e também confirmaram uma maior taxa de mortes e severidade entre os homens. Isso pode sugerir que, apesar dos homens tenderem a apresentar taxas maiores de doenças cardiovasculares e diabetes, outros fatores de causalidade mais intrínsecos ao vírus podem estar envolvidos. Aliás, os pesquisadores citaram que, coincidentemente, os níveis de ACE2 são geralmente maiores nos homens.
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De fato, duas hipóteses sugeridas em estudos preliminares prévios apostam nas diferenças sexo-específicas de expressão do receptor ACE2 e de suscetibilidade celular de infecção para explicar as diferentes taxas de severidade e de morte entre homens e mulheres. Uma das hipótese, formulada por cientistas Brasileiros, é baseada na menor expressividade de um gene chamado de TRIB3 nas células epiteliais do pulmão de homens com mais de 60 anos de idade (II). Já a outra hipótese, mais recente, é baseada no fato de que os testículos possuem um alto nível de expressão do ACE2, ao contrário dos ovários, e podem servir como um reservatório viral adicional do SARS-CoV-2 nos homens (III).
Para mais informações, acesse:
- (I) Cientistas Brasileiros podem ter descoberto porque os homens são mais afetados pela COVID-19
- (II) Estudo sugere que homens são mais afetados pela COVID-19 por causa dos testículos
Já um estudo Espanhol publicado no periódico Tobacco Use Insights (2) sugeriu que o maior número de mortes de homens com COVID-19 na Espanha pode ser explicado, em parte, pelo maior número de fumantes do sexo masculino no país. Primeiro, o estudo reforçou o estudo Chinês ao mostrar que a taxa de mortalidade na Espanha entre pacientes homens hospitalizados com COVID-19 é o dobro daquela vista nas mulheres (8% vs 4%). Os pesquisadores também mostraram que no país 30% aqueles que morrem da doença possuem alguma forma de doença cardiovascular, e que 10% das doenças cardiovasculares na Espanha são atribuídas ao fumo. E, de acordo com dados de 2017, entre os Espanhóis, acima de 25,6% dos homens fumam, enquanto "apenas" 18,8% das mulheres possuem o hábito. Os pesquisadores nesse estudo também citaram que além dos danos diretos ao tecido pulmonar - principal alvo do SARS-CoV-2 - experimentos laboratoriais prévios já tinham demonstrado que o fumo de tabaco pode aumentar substancialmente a expressão do ACE2.
Mais estudos de grande porte precisam ser realizado para validar ou não essas hipóteses e aferir as reais taxas de severidade, mortes e de casos entre homens e mulheres, levando também em conta fatores geográficos e indicadores sócio-econômicos.
(1) Publicação do estudo: FPB
(2) Publicação do estudo: TID
Homens morrem 2,4 vezes mais por COVID-19 do que as mulheres, segundo estudo
Reviewed by Saber Atualizado
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maio 02, 2020
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