Descoberto anticorpo especial com o potencial de tratar e prevenir a COVID-19
Pesquisadores da Universidade de Utrecht, Holanda, em um estudo publicado ontem no periódico Nature Communication (1), reportaram a descoberta de um anticorpo monoclonal completamente humano que previne o vírus responsável pela atual pandemia de COVID-19 (SARS-CoV-2) de infectar células humanas, pelo menos in vitro. O achado abre uma janela mais do que promissora de desenvolver uma via terapêutica baseada em um agente que oferece poucos riscos de efeitos colaterais e que pode tanto tratar quanto prevenir a infecção pelo novo coronavírus.
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A grave pandemia causada pelo SARS-CoV-2 já acumulou mais de 3,6 milhões de casos confirmados e mais de 252 mil mortes registrados. No Brasil, já são quase 108 mil casos confirmados e mais de 7,3 mil mortes. E esses números certamente estão muito subestimados (I). Até o momento, não existem tratamentos efetivos - apenas aparente eficácia limitada com o uso de remdevisir (II) -, e as vacinas, na melhor das hipóteses, ainda irão demorar no mínimo 1 ano para serem adequadamente testadas e disponibilizadas para uso em massa. No entanto, anticorpos monoclonais - proteínas produzidas em laboratório que podem se ligar a substâncias específicas no corpo (associadas a células ou não) - estão cada vez mais se mostrando uma promissora classe de medicamentos contra doenças infecciosas e têm mostrado eficácia terapêutica para um número de vírus.
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Para mais informações, acesse:
- (I) Número de mortes por COVID-19 pode ser 173% maior do que o número oficial
- (II) Remdesivir mostrou substancial eficácia clínica no tratamento da COVID-19
Anticorpos neutralizantes de coronavírus visam primariamente glicoproteínas triméricas spike (S) na superfície do vírus que media sua entrada na célula hospedeira. A proteína S possui duas subunidades que mediam a anexação celular: a subunidade S1 - composta de quatro domínios centrais S1A, S1B, S1C e S1D - e a fusão da membrana viral e celular (a subunidade S2). Potentes anticorpos neutralizantes frequentemente visam o local de interação do receptor em S1, desabilitando interações do receptor. As proteínas S do SARS-CoV-2 e do SARS-CoV (responsável pela pandemia de SARS em 2002-03) são 77,5% idênticas em termos de sequência primária de aminoácidos, são estruturalmente muito similares e comumente se ligam ao receptor proteico ACE2 presente na superfície celular de mamíferos, incluindo nossa espécie através do domínio S1B.
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No novo estudo, os pesquisadores se aproveitaram dessa grande similaridade entre o SARS-CoV-2 e o SARS-CoV para procurarem por uma coleção de anticorpos produzidos por ratos transgênicos - capazes de expressar imunoglobulinas quiméricas possuindo traços humanos - que fossem eficientes contra o SARS-CoV. Na busca e após múltiplos testes experimentais, eles identificaram um anticorpo monoclonal quimérico - chamado H2L2 47D11 - que mostrou potencial de neutralizar o SARS-CoV-2. O 47D11 H2L2 quimérico foi então reformatado para uma imunoglobulina totalmente humana (47D11), e esta isolada.
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> Os anticorpos naturalmente produzidos pelo corpo de animais são conhecidos também como imunoglobulinas. No nosso caso, essas imunoglobulinas - constituídas por uma estrutura glicoproteica - são sintetizadas pelos linfócitos B e utilizadas pelo sistema imunológico para identificar e neutralizar os antígenos (corpos invasores).
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Nos testes experimentais com o anticorpo 47D11, este mostrou se ligar ao domínio S1B e de forma muito eficiente, conseguindo neutralizar o SARS-CoV-2 em culturas celulares (células VeroE6). Nesse sentido, segundo os pesquisadores, esse tipo de anticorpo pode promover a limpeza viral em pacientes infectados ou mesmo proteger uma pessoa não-infectada que é exposta ao vírus. Essa capacidade terapêutica ou preventiva pode ainda ser otimizada com o uso de outros anticorpos.
Terapias convencionais usando anticorpos monoclonais são primeiro desenvolvidas em outras espécies e então precisam ser refinadas no sentido de serem "humanizadas", ou seja, ficarem o mais próximo possível das imunoglobulinas humanas. O 47D11 por ser completamente humano - mesmo sendo gerado em laboratório usando tecnologia transgênica - acelera o processo de desenvolvimento terapêutico e ainda reduz dramaticamente os efeitos colaterais imuno-relacionados.
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Como conclusão do estudo, o anticorpo 47D11 - sozinho ou combinado - mostrou oferecer o potencial de prevenir ou tratar a COVID-19, e possivelmente outros doenças emergentes em humanos causadas por vírus do subgênero Sarbecovirus - do qual pertence o novo coronavírus.
(1) Publicação do estudo: Nature
Descoberto anticorpo especial com o potencial de tratar e prevenir a COVID-19
Reviewed by Saber Atualizado
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maio 05, 2020
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