Número de mortes por COVID-19 pode ser 173% maior do que o número oficial
A grave pandemia causada pelo SARS-CoV-2 já acumulou mais de 3,6 milhões de casos confirmados e mais de 252 mil mortes registrados. No Brasil, já são quase 108 mil casos confirmados e mais de 7,3 mil mortes. E esses números certamente estão muito subestimados devido principalmente ao persistente problema da sub-notificação e falta de testes. Nesse sentido, segundo uma análise realizada pelo epidemiologista da Universidade de São Paulo (USP) Paulo Lotufo e divulgada no G1 (1), o número real de mortes causadas pela COVID-19 pode ser quase três vezes maior do que o oficialmente registrado pelo Ministério da Saúde.
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De acordo com a análise - baseada em dados capturados do Portal da Transparência do Registro Civil pelo engenheiro de software Marcelo Oliveira.-, as mortes nas cinco cidades Brasileiras mais atingidas pela COVID-19 somaram pelo menos 26445 desde o início da pandemia até o dia 25 de abril, um crescimento de 30% em relação à média dos anos anteriores, de 20384 durante as mesmas semanas. A diferença, de 6061 mortes, supera em 173% aquelas atribuídas à COVID-19 oficialmente até aquela data. No período, os números oficiais falavam em 4057 mortos pelo novo coronavírus no país todo – 2219 nas cidades analisadas. Houve, nessas cidades, no mínimo 3842 mortes além das registradas por COVID-19. E é válido lembrar que a média de mortes contou inclusive com o ano de 2016 - atingido também pela pandemia de H1N1 (gripe suína) que teve início em 2009 - indo até 2019.
Nas cinco cidades objeto da análise – São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza, Manaus e Recife –, o excesso de mortos foi, respectivamente, de 2.500, 1.219, 312, 1.376 e 655. Desses, foram atribuídos à COVID-19 em cada uma das cidades, também respectivamente, 1.114, 382, 295, 246 e 182. Para realizar o cálculo, os dados de 2020 foram comparados à média municipal dos últimos quatro anos. De 2016 a 2018, as informações são oficiais, do Sistema Único de Saúde (SUS). Apenas em 2019, ano para o qual os números ainda não estão consolidados, foram usados os dados também dos cartórios.
Aliás, em Manaus, a situação é tão grave - com o sistema de saúde já colapsado há um bom tempo - que o prefeito da cidade, Arthur Virgílio, gravou um vídeo publicado nas redes sociais pedindo a ajuda da ativista ambiental Greta Thunberg para combater os impactos da pandemia no Amazonas: "Precisamos salvar as vidas dos protetores da floresta [indígenas] contra a COVID-19. Estamos diante do desastre. À beira da barbárie. E sei a influência que você tem. Sei que leva em consideração os sentimentos das pessoas", afirmou o prefeito. "Ajude o Amazonas! Precisamos salvar o Amazonas e a floresta." No dia da publicação do vídeo (2 de maio), Greta mencionou a situação calamitosa do Amazonas em suas redes sociais, usando também a hashtag #DefendTheDefenders (Defenda os Defensores).
This is completely unacceptable. The situation in the Amazon during the corona pandemic is truly alarming in many ways.— Greta Thunberg (@GretaThunberg) May 2, 2020
We must #DefendTheDefenders of the forest. There can be no climate justice without indigenous rights. https://t.co/JnYEslCav8
Um desvio tão substancial da média histórica de mortes, no entender de Lotufo, só pode ser consequência da COVID-19. Como explicou o pesquisador para o site do G1, as mortes causadas pela COVID-19 podem ser diretas ou indiretas [e provavelmente existe sub-notificação em ambos os tipos]. "A pandemia desequilibra o sistema de saúde", disse o pesquisador. "Amplia as mortes por diversos outros tipos de doença, como ataques cardíacos ou acidentes vasculares cerebrais, além de gerar um custo também pelo adiamento no tratamento de doenças crônicas."
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Com a falta de testes, muitos óbitos são registrados apenas com causas genéricas - como pneumonia, parada cardíaca e síndrome respiratória aguda grave -, mas com o real responsável sendo a infecção pelo SARS-CoV-2. Problemas também existem com os registros de óbitos no Brasil, como disponibilidade dos dados dificultada pela falta de padronização das secretariais estaduais e municipais, e longo tempo para o registro dos óbitos pelas famílias e envio para a Central Nacional de Informações do Registro Civil (CRC Nacional). Além disso, até semana passada, os cartórios não divulgavam o total de mortes, apenas as causadas por doenças respiratórias ou COVID-19. Nesse último caso, as mortes sendo provocadas pelo simples estresse do sistema de saúde devido à pressão da pandemia estavam sendo completamente ignoradas.
Os resultados da análise, portanto, reforçam o alerta para a real situação da pandemia no Brasil e talvez reforça a necessidade de medidas de isolamento social mais drásticas nas cidades mais afetadas, como a aplicação de lockdown (quarentena total).
(1) Para mais detalhes da pesquisa, acesse o artigo completo no G1.
Número de mortes por COVID-19 pode ser 173% maior do que o número oficial
Reviewed by Saber Atualizado
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maio 05, 2020
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