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Como Belo Horizonte está conseguindo controlar a disseminação do novo coronavírus?


A pandemia do novo coronavírus (SARS-CoV-2) já acumulou no Brasil mais de 109 mil casos confirmados e quase 8 mil mortes registradas, apesar desses números estarem certamente subestimados pela falta principalmente de testes (I). E batemos um novo recorde: nas últimas 24 horas, foram mais 600 mortes confirmadas. Mas enquanto algumas cidades já enfrentam colapsos ou quase colapsos no sistema de saúde, como em Manaus, São Paulo e Rio de Janeiro, Belo Horizonte (BH) é uma das capitais de grande porte que conseguiu controlar bem a disseminação do vírus. Isso é visto pela relativa baixa taxa de ocupação dos leitos nos hospitais - apesar de 75% das Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) estarem ocupadas, 50% devido ao novo coronavírus.

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(I) Leitura recomendada: Número de mortes por COVID-19 pode ser 173% maior do que o número oficial

Segundo a prefeitura de BH, a ação veloz na implementação das medidas de isolamento social foi chave para o feito, aproveitando um atraso na chegada dos primeiros casos em relação a outros estados. Além disso, houve uma progressiva intensificação das medidas de isolamento ao longo de abril - quase sem nenhuma tentativa de flexibilização - e relativa boa aceitação da população frente ao isolamento social imposto. E o uso de máscaras, já há alguns dias, é obrigatório na cidade. Porém, os especialistas também alertam que é preciso agir com cautela, ou pode haver uma reversão na tendência da atual curva de contágio na capital mineira caso medidas apressadas de flexibilização sejam adotadas.

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De acordo com dados do Ministério da Saúde e das secretarias municipais e estaduais da área, entre as 50 cidades com mais casos do Brasil (comparação justa para uma cidade do porte de BH), a capital mineira é a penúltima em volume de diagnósticos comparados à sua população, com 21,7 diagnósticos confirmados por 100 mil habitantes. Quanto à mortalidade pela COVID-19, BH é a quarta capital com menos óbitos, com uma taxa de 2%. Enquanto que em São Paulo e no Rio de Janeiro já são 1683 e 670 mortes oficialmente confirmadas, respectivamente, em BH o acumulado é de apenas 22 mortes e menos de 1000 casos confirmados (apesar da óbvia sub-notificação). Outras cidades em estado crítico - como São Luís no Maranhão, já inclusive chegaram a declarar lockdown (quarentena total), uma medida drástica de isolamento social para frear o avanço do vírus.

De acordo com o infectologista Carlos Starling, em entrevista ao jornal Estado de Minas (Ref.2), a incidência do coronavírus em Belo Horizonte e até em Minas Gerais como um todo é de fato bem menor que a maioria dos estados e capitais do país. "A gente observa isso pela baixa taxa de ocupação dos leitos, e isso é um bom sinal de que a epidemia está se comportando melhor do que a gente esperava. O isolamento social e as medidas tomadas a tempo resultaram em uma redução brutal nos caso que esperávamos".

Em Belo Horizonte, desde a detecção do primeiro caso em março, medidas efetivas de isolamento social foram aplicadas na cidade. Porém, Starling reforça o alerta para as consequências de um relaxamento do distanciamento social. "Se isso for feito sem planejamento ou de forma aleatória, sem respeito nenhum às regras, com certeza vamos ter problemas semelhantes aos dos lugares que romperam essas medidas. Estamos em plena batalha, não estamos de forma nenhuma confortáveis. Se você relaxou hoje, em uma ou duas semanas vamos colher esse fruto, que é o tempo de incubação da doença", desmistifica Starling. Starling também alerta que, apesar de parecer tranquilo, o fato de a doença crescer em progressão geométrica faz com que, caso a contaminação saia do controle, sejam necessárias apenas 72 horas para o sistema entrar em colapso.

Em relação à flexibilização proposta pelo governo estadual, por meio do programa Minas Consciente, que orienta os prefeitos municipais que optarem por retomar as atividades econômicas, o infectologista considera eficiente a metodologia estabelecida para avaliar se a incidência do coronavírus está aumentando. "De acordo com os resultados que estamos obtendo, podemos acelerar ou pisar no freio. A metodologia é eficiente,  analisamos todos os dias indicadores como a velocidade de ocorrência de casos, a média dos últimos sete ou 10 dias para ver essa tendência, além da medição da velocidade e expansão da epidemia", explica.

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Por outro lado, Starling aponta como principal lacuna do sistema de saúde o baixo volume de testes, que resulta em uma grave subnotificação e deixa as autoridades públicas no escuro quanto ao comportamento epidemiológico da doença. “Temos que fazer mais testes, construir um sistema de vigilância epidemiológica mais ágil porque esta não é a primeira e nem será a última epidemia. Precisamos fazer a informatização desde o posto de saúde até o centro de terapia mais sofisticado, tudo interligado. Infelizmente esse investimento foi interrompido por governos anteriores e estamos pagando um preço alto”, lamenta.


ESPELHANDO A CHINA?

A efetividade das ações rápidas do governo de BH para conter o avanço do vírus encontra suporte em um estudo publicado hoje no periódico Frontiers in Medicine (Ref.3). Os pesquisadores no estudo, ao analisar o sucesso da China em conter o SARS-CoV-2 mesmo em meio a uma população superior a 1 bilhão de habitantes, concluíram que intervenções estritas e o mais cedo possível são um fator crucial na redução da taxa de disseminação dos casos de COVID-19.

Para essa conclusão, os pesquisadores compararam os surtos epidêmicos do novo coronavírus entre a província Chinesa de Hunan (região englobando o epicentro inicial da pandemia) e entre a Itália, com base em dados acumulados até o dia 2 de abril. Enquanto que ambas as regiões possuem um tamanho populacional similar entre si - cerca de 60-70 milhões de habitantes -, a Itália enfrentou um dos piores surtos da doença no mundo, acumulando hoje mais de 213 mil casos confirmados e mais de 29 mil mortes registradas, a China inteira teve pouco mais de 82 mil casos confirmados e menos de 5 mil mortes.

Usando modelos matemáticos, os pesquisadores encontraram que o R0 (número básico de pessoas infectadas a partir de um indivíduo infectado) era de 4,34 para a Itália e de 3,16 para Hunan, mas que o vírus começou a se espalhar de forma muito rápida na Itália a partir de 21 de fevereiro, fazendo com que as tendências iniciais em ambas as regiões divergissem drasticamente. Com base nos modelos, possíveis razões listadas pelos autores para o rápido crescimento de casos na Itália foram:

i. Medidas preventivas e mais rápidas não foram tomadas (aliás, houve uma grande resistência de autoridades Italianas para admitir a gravidade do problema);

ii. O número de infecções de 31 de janeiro até 20 de fevereiro pode ter sido sub-reportado devido a sub-diagnósticos, dado o grande número de assintomáticos e casos subclínicos. E como o tempo de incubação pode se estender até 14 dias após a exposição, muitos casos podem ter ocorrido ao mesmo tempo, pegando autoridades despreparadas (já que a situação na China tinha sido rapidamente controlada e não havia outros precedentes, dando uma falsa sensação de relativa segurança).

Os pesquisadores concluíram que as atuais medidas estritas de isolamento social na Itália podem efetivamente prevenir um maior avanço da COVID-19 e que deveria ser mantido. Além disso, medidas estritas de saúde pública deveriam ser implementadas o mais rápido possível em outros países Europeus com um alto número de casos.

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Outros dois estudos prévios publicados em periódicos de alto impacto também corroboraram essas conclusões. No primeiro, publicado na Science (Ref.3), pesquisadores encontraram que após as autoridades implementarem um lockdown em Shangai e em Wuhan -  ambas cidades Chinesas, com a segunda representando o epicentro inicial - o encontro entre os habitantes diminuiu de 15-20/dia pessoas para cada indivíduo para cerca de 2/dia. Esse drástico distanciamento social mostrou ser suficiente para achatar a curva de contágio em ambas as cidades e frear bruscamente o surto epidêmico. Eles também encontraram que o fechamento das escolas pode reduzir o pico de incidência da COVID-19 em até 40-60% e atrasar a epidemia.

Já no segundo estudo, publicado na Nature (Ref.4), os pesquisadores mostraram que a rápida detecção de infecções e isolamento dos infectados foram os mais efeitos passos para conter a COVID-19 na China - algo que não ocorria em mínima extensão no Brasil até o final de abril - mas que mesmo essas ações de rastreamento não seriam suficientes para impedir uma explosão de casos na China caso medidas mais drásticas de isolamento social e de restrição de viagens não tivessem sido implantadas. E os pesquisadores encontraram que se as ações de controle epidêmico tivessem atrasado por apenas 3 semanas, o número de casos na China - confirmados ou não - poderia ter sido 18 vezes maior.


REFERÊNCIAS
  1. https://saude.gov.br/
  2. https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2020/05/01/interna_gerais,1143488/coronavirus-em-bh-nao-estamos-confortaveis-diz-infectologista.shtml
  3. https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fmed.2020.00169/full
  4. https://science.sciencemag.org/content/early/2020/05/04/science.abb8001
  5. https://www.nature.com/articles/s41586-020-2293-x
Como Belo Horizonte está conseguindo controlar a disseminação do novo coronavírus? Como Belo Horizonte está conseguindo controlar a disseminação do novo coronavírus? Reviewed by Saber Atualizado on maio 05, 2020 Rating: 5

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