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Cientistas Brasileiros preveem catástrofe com relaxamento nas medidas de distanciamento social



Dois estudos preprints (ainda não-revisados por pares) realizados por cientistas Brasileiros e publicados no periódico bioRxiv trouxeram evidências da grande importância das medidas de distanciamento social amplo para o freio de disseminação do novo coronavírus (SARS-CoV-2), responsável pela doença COVID-19. Na área metropolitana de São Paulo, a implementação de medidas rápidas de distanciamento social amplo podem ter salvado um potencial de quase 90 mil vidas em 60 dias, e caso exista relaxamentos dessas medidas no Brasil, dezenas de milhões de casos e próximo de 800 mil mortes podem ocorrer até as primeiras semanas de maio.

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A pandemia do COVID-19 levou ao colapso do sistema de saúde em vários países. O novo coronavírus possui um número básico de reprodução (R0, representando o número médio de casos secundários gerados por um caso primário, ou seja, o número de pessoas que um infectado consegue infectar) bem maior do que o vírus responsável pela gripe (Influenza). Enquanto que o Influenza possui um R0 de 1,2-2,3, estudos mais recentes (1) estimam um R0 de 5,7 para o SARS-CoV-2, com uma estimativa inferior de 2,5-3,2. Para combater o avanço da doença, um número de intervenções foram implementados na China, incluindo o aumento da capacidade de testes, rápido isolamento de casos confirmados e suspeitos e seus contatos, medidas de distanciamento social amplo, assim como restrição da mobilidade.

O colapso dos sistemas de saúde é a principal preocupação para a maioria dos países atingidos pela pandemia. Entre os casos confirmados na China, 18,5% foram considerados severos e 25,3% destes requereram tratamento intensivo. Ao redor do mundo, o número de casos severos e necessitando de hospitalização está em torno de 15-20%.

O primeiro caso confirmado de COVID-19 no Brasil foi no dia 26 de fevereiro na cidade de São Paulo e, desde 17 de março, o estado de São Paulo recomendou uma série de medidas de distanciamento social. Essas medidas englobaram a recomendação de que os idosos e indivíduos com condições crônicas de saúde ficassem em casa o máximo possível, cancelamento de eventos de massa, redução do transporte público, fechamento de escolas, universidades e dos serviços não-essenciais em geral, entre outros.

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No primeiro estudo (2), um time internacional de pesquisadores - a maioria de universidades e de instituições de pesquisa Brasileiras, incluindo a USP e a Universidade de Brasília - resolveram avaliar o impacto das medidas precoces de distanciamento social na transmissão de COVID-19 na região metropolitana de São Paulo.

Usando dados da Secretaria Estadual de Saúde e modelos matemáticos, os pesquisadores calcularam as variações de R0 [R(t)] durante um período de um mês (26 de fevereiro até 30 de março) para casos confirmados de COVID-19, assim como casos de hospitalizados por doença respiratória severa aguda, e estimaram o número esperado de casos de COVID-19 requerendo uma cama de CTI (Centro de Tratamento Intensivo).

Considerando apenas os casos confirmados reportados pelo Estado de São Paulo, o R0 (previamente à introdução das medidas de distanciamento social) era próximo de 2. Durante as intervenções, o R(t) caiu para valores próximos de 1 e teve um subsequente aumento. Considerando outros co-fatores - como escassez de testes de confirmação para COVID-19 -, os pesquisadores mostraram que as medidas de distanciamento social amplo reduziram o R(t) para menos de 1 em um mais acurado intervalo de confiança.

Se o estado de São Paulo não tivesse aplicado medidas de distanciamento social amplo, o modelo construído pelos pesquisadores estimou que ao final de 30 dias, os pacientes com COVID-19 teriam demandado 5384 camas de CTI, o que corresponde a 230% da capacidade de CTI do estado e excedido em 14 vezes a capacidade de CTI no segundo mês. No geral, isso teria resultado em 1783 mortes no primeiro mês e 89349 no segundo mês. Com a manutenção das medidas de distanciamento social amplo, o modelo estimou 317 mortes no primeiro mês e um total de 1682 mortes no segundo. Esse último cenário não leva ao colapso do sistema de saúde e requer um máximo de 76% da capacidade de camas de CTI.

Mantendo o R(t) abaixo de 1 com as medidas mais estritas de distanciamento social amplo em abril e maio, durante o período sazonal da gripe, não seria necessário camas adicionais para pacientes com COVID-19.

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No segundo estudo (3), pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e da Universidade Federal de Alagoas construíram um modelo epidemiológico capaz de prever a disseminação do COVID-19 no Brasil. Para isso eles modelaram o atual cenário de escolas e universidades fechadas, distanciamento social de pessoas acima dos 60 anos e quarentena voluntária domiciliar.

Os resultados das análises estatísticas mostraram que, apesar das atuais intervenções não-farmacêuticas (NPI) colocadas em prática no Brasil - focadas na redução do contato social -  terem levado a uma substancial diminuição no número de infecções quando comparado com nenhuma intervenção desde o começo dos casos reportados no território Brasileiro (como pode ser visto no primeiro gráfico abaixo), as atuais medidas não são suficientes para prevenir o colapso do sistema de saúde em um período curto de tempo com milhões de pessoas infectadas (como pode ser visto no segundo gráfico abaixo).




Mesmo com uma combinação das medidas de fechamento das escolas e universidades, distanciamento social daqueles com mais de 60 anos de idade e quarentenas voluntárias domiciliares em todo o território brasileiro, o modelo previu milhões de infectados, com um pico nas primeiras semanas de maio, e um consequente aumento exponencial da demanda por unidades de tratamento intensivo (UTIs). Como pode ser visto no gráfico anterior, já no final de abril a capacidade de UTIs seria ultrapassada, ou seja, um colapso do sistema de saúde nesse período. No Brasil como um todo, o R0 continua ainda alto, em torno de 3.

E se as medidas de distanciamento social amplo forem relaxadas, como algumas autoridades do governo federal - e do governo estadual em Minas Gerais - estão sugerindo por interesses puramente políticos e contrariando a Organização Mundial de Saúde (OMS), o número de infectados em um curto período de tempo pode alcançar dezenas de milhões, como apontando na curva preta do primeiro gráfico anterior. Ou seja, o Brasil não pode relaxar as medidas de distanciamento social hoje em prática. Na verdade, como mostrado pelo estudo, o ideal era a aplicação de uma quarentena mais agressiva no território Brasileiro, como aquela observada na China, e ao longo de algumas semanas, para evitar qualquer cenário de colapso do sistema de saúde, e apenas dentro de uma janela de oportunidade indo de 21 de março até 16 de abril. 

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Segundo os pesquisadores, se o Brasil mudar as atuais NPIs de distanciamento social amplo para um distanciamento social restrito visando apenas indivíduos com mais de 60 anos de idade - como sugere o presidente Jair Bolsonaro, sem base científica de justificativa - o cenário se transformaria em uma catástrofe. Seriam cerca de 27 milhões de infectados e 723 mil mortes.


(1) Referência: CDC

(2) Publicação do estudo: bioRxiv

(3) Publicação do estudo: bioRxiv

Cientistas Brasileiros preveem catástrofe com relaxamento nas medidas de distanciamento social Cientistas Brasileiros preveem catástrofe com relaxamento nas medidas de distanciamento social Reviewed by Saber Atualizado on abril 09, 2020 Rating: 5

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