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Neandertais também eram capazes de produzir cordas e provavelmente tecidos


Apesar do esteriótipo comum de que os Neandertais (Homo neanderthalensis) eram uma espécie do gênero Homo inferior no quesito cognitivo em comparação com os humanos modernos (Homo sapiens), nas últimas décadas diversas descobertas arqueológicas e paleontológicas vêm mostrando que essa ideia passa longe da verdade (1). Aliás, considerando a expressão de arte e simbolismo, manufatura de avançadas ferramentas e de objetos de decoração, domínio e amplo uso do fogo, e até mesmo a habilidade de produzir adesivos, tudo indica que a capacidade cognitiva dos Neandertais era similar à nossa. Agora, em um estudo publicado na Nature (2), pesquisadores revelaram evidência direta de que os Neandertais possuíam tecnologia de fibra, a base para a produção de roubas, cordas, redes, entre outros utensílios úteis para o dia-a-dia.

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(2) Para saber mais sobre os Neandertais e outras hipóteses sobre a extinção dessa espécie, acesse: Neandertais, arte e linguagem

Quase todo o nosso conhecimento do Paleolítico Médio, período quando Neandertais e outras espécies do gênero Homo andavam pela África e pela Eurásia, vêm de materiais duráveis (ossos e ferramentas de pedra). Nós sabemos das nossas observações do ambiente ao nosso redor, etnograficamente e etnohistoricamente, que a maior parte da cultura material humana (e de Neandertais por consequência) engloba materiais perecíveis, como madeira, fibras orgânicas, etc. Nesse sentido, arqueólogos e paleontólogos têm tentado obter evidências dessa cultura material perdida dos Neandertais ao observar o microambiente em torno de ferramentas e de outros vestígios que resistem melhor ao tempo, especialmente considerando que os Neandertais viveram entre 350 mil e 28 mil anos a.C.

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Nesse sentido, no novo estudo, um time internacional de cientistas do CNRS (Centro Nacional de Pesquisa Científica da França) descobriu a primeira evidência de manufatura de corda, datando entre 41 mil e 52 mil anos, no fragmento de um artefato de pedra de 60 mm de comprimento recuperado de um local pré-histórico de Abri du Maras, em um vale próximo do Rio Ardèche, no Sul da França. Análises microscópicas - incluindo microscopia eletrônica de varredura (SEM) - mostraram que esses vestígios traziam uma estrutura de fibras entrelaçadas, em um padrão que acusa clara modificação por espécimes do gênero Homo - e, considerando o período e localidade na Europa, os Neandertais eram os únicos humanos arcaicos habitando a região e capazes de tecnologias mais avançadas.

Além disso, análises espectroscópicas (espectro de Raman) revelaram que as fibras eram feitas de celulose proveniente de uma gimnosperma, provavelmente de árvores coníferas. Todas as evidências apontam, portanto, que os Neandertais tinham um bom conhecimento de matemática - pares, conjuntos e números - necessário para a complexa tecnologia de fibras e também entendiam sobre o desenvolvimento estrutural das árvores. Isso corrobora hipóteses anteriores baseadas em evidências indiretas do uso dessas fibras pelos Neandertais.




A camada fibrosa do interior da casca da árvore alvo é referida como floema e eventualmente endurece para formar a casca. Para fazer o cordame, os Neandertais tinham presumivelmente extensivo conhecimento do crescimento e da sazonalidade dessas árvores. As fibras do floema são mais fáceis de serem separadas da casca e da madeira sob a casca no início da primavera, período em que a seiva começa a aumentar. As fibras aumentam em tamanho e grossura à medida que o crescimento continua. As melhores épocas para colher as fibras do floema seriam do início da primavera até o início do verão. Uma vez que a casca é removida da árvore, golpes podem ajudar a separar as fibras do floema. Adicionalmente, mergulhar as fibras em água ajuda na separação e pode amaciar e melhorar a qualidade do floema. O floema precisa então ser separado dos fios e pode ser torcido em cordame. Nesse caso, três grupos de fibras são separados e torcidos no sentido horário. Uma vez torcidos, os fios são combinados no sentido anti-horário para formar uma corda.

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Cordas e cestas são centrais para um grande número de atividades humanas, facilitando o transporte e armazenamento de alimentos, e auxiliando no desenvolvimento de complexas ferramentas ou objetos. A aplicação da tecnologia de fibras torcidas é muito ampla e uma vez adotada, acaba se tornando parte do cotidiano.

O achado também representa a mais antiga evidência de tecnologia têxtil e de corda até o momento conhecida. Possíveis evidências do uso de tecnologia de fibra pelos Neandertais datam de pelo menos 115 mil anos trás, associada à manufatura de artefatos decorativos, em específico com conchas marinhas, ou com ferramentas potencialmente utilizadas para a produção de cordas e de tecidos, como artefatos perfurados de marfim (lochstäbe).

Segundo concluem os pesquisadores, as evidências acumuladas até o momento tornam inegável que os Neandertais eram cognitivamente iguais aos humanos modernos.


(2) Publicação do estudo: Nature

Neandertais também eram capazes de produzir cordas e provavelmente tecidos Neandertais também eram capazes de produzir cordas e provavelmente tecidos Reviewed by Saber Atualizado on abril 10, 2020 Rating: 5

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