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Cigarros eletrônicos são '95% mais seguros' do que cigarros tradicionais? Balela.


Até o último dia 7 de janeiro, o CDC reportou 2620 casos da doença pulmonar (EVALI) que vem assolando os EUA e que está diretamente ligada aos cigarros eletrônicos (e-cigarro). Quase todos os estados Norte-Americanos (49, com a exceção do Alasca), Distrito de Columbia e 2 territórios Norte-Americanos (Puerto Rico e Ilhas Virgens) reportaram casos. Entre esses casos, já foram 57 mortes confirmadas. Até o momento um dos principais ingredientes suspeitos nesses produtos que podem estar causando a grave doença é o acetato de vitamina E, usado como aditivo, especialmente em líquidos de e-cigarro contendo THC, mas nem todos os casos estão associados com a doença.

E a grave doença pulmonar não é o único problema associado aos cigarros eletrônicos. Inúmeros estudos publicados nos últimos anos vêm acumulando evidências de que esses produtos causam danos em diversos graus no trato respiratório e à saúde em geral. Não só a nicotina e o THC (tetraidrocanabinol) são motivos de preocupação. O aerossol gerado pelo aquecimento da mistura de solventes orgânicos voláteis no e-cigarro leva aos pulmões dos usuários radicais livres, metais pesados, flavorizantes e outras substâncias tóxicas - e mesmo carcinogênicas (I).

E, infelizmente, cada vez mais pessoas estão se viciando nesses produtos, especialmente os mais jovens. O uso de e-cigarro passou de 7 milhões de usuários em 2011 para 41 milhões em 2018, com um aumento projetado para mais de 55 milhões até 2021, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Nos EUA o e-cigarro já virou oficialmente uma epidemia entre os adolescentes, e o número de adolescentes com 14 anos de idade ou menos usando esses produtos mais do que triplicou nos últimos cinco anos. Aliás, marcas grandes e criminosas como a Juul estavam consciente visando o público mais jovem e não-viciado, e também fomentando a disseminada ideia que esses produtos são completamente seguros.

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(I) Leitura recomendada: Os cigarros eletrônicos são seguros?

Nesse sentido, quatro novos e recentes estudos foram publicados reforçando mais uma vez os perigos do uso recreativo dos cigarros eletrônicos, os quais, no máximo, deveriam ser limitados apenas aos indivíduos fumantes querendo largar o uso mais nocivo de tabaco - e talvez nem nesses casos.

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No primeiro estudo, publicado no periódico Respiratory Research (1), pesquisadores encontraram que os vapores dos e-cigarros possuem efeitos similares aos cigarros tradicionais sobre bactérias associadas com doenças ligadas ao fumo, como a doença pulmonar obstrutiva crônica (COPD) e a asma. Para chegarem nessa conclusão, os autores produziram culturas de Haemophilus influenzae, Streptococcus pneumoniae, Staphylococcus aureus e Pseudomonas aeruginosa expostas aos extratos tanto de fumo de cigarro quando do vapor de e-cigarro (contendo nicotina e sem flavorizantes). Uma série de culturas bacterianas de controle cresceram sem exposição aos vapores e aos extratos de fumo.

Os resultados desse experimento mostraram que os vapores e o fumo além de não levarem danos às bactérias aumentavam a formação de biofilme - uma coleção de um ou mais tipos de bactérias. O aumento na produção de biofilme é um processo conhecido de estar envolvido com uma ampla variedade de infecções microbianas. Isso sugere que tanto o cigarro tradicional quanto os cigarros eletrônicos aumentam a periculosidade de bactérias patogênicas ligadas a doenças pulmonares e a persistência de infecções bacterianas.

Para melhor esclarecer a sugestão, os pesquisadores resolveram investigar as mudanças de virulência em bactérias expostas ao fumo e aos vapores de e-cigarro em larvas da mariposa Galleria mellonella - um modelo para infecções em humanos. As larvas infectadas com bactérias expostas aos vapores e ao fumo mostraram uma diminuição no potencial de sobrevivência em comparação com aquelas infectadas mas sem exposição.

Por fim, os pesquisadores mostraram que células pulmonares humanas (in vitro) infectadas com fumo ou vapores de e-cigarro, e expostas a bactérias, aumentavam a secreção de interleucina-8, um mediador crucial associado com inflamação, corroborando mais uma vez o primeiro experimento. Como a exposição aos vapores de e-cigarro foi única (curto prazo), mais estudos precisam ser agora realizados nesse sentido para esclarecer os efeitos de uma exposição provavelmente mais danosa de longo prazo.

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Já o segundo estudo, publicado no periódico American Journal of Preventive Medicine (2), foi o primeiro estudo de médio-longo prazo a avaliar os riscos associados ao e-cigarro. Pesquisadores da Universidade da Califórnia (San Francisco) analisaram um banco de dados disponibilizados pelo Population Assessment of Tobacco and Health (PATH), um estudo nacional que seguiu os hábitos de usuários de cigarro tradicional e de e-cigarro assim como novas doenças pulmonares diagnosticadas em mais de 32 mil adultos nos EUA - amostra representativa de todo o país - de 2013 até 2016.

Os pesquisadores encontraram que o uso de e-cigarro significativamente aumenta o risco da pessoa de desenvolver doenças pulmonares crônicas, como asma, bronquite, enfisema ou doença pulmonar obstrutiva crônica. Usuários e ex-usuários de e-cigarro mostraram ser 1,3 vezes mais prováveis de desenvolver doenças pulmonares crônicas do que indivíduos que não fumavam e nem usavam cigarros eletrônicos; já para fumantes (tabaco tradicional), o risco era 2,6 vezes maior. Para usuários de ambos, os riscos se multiplicavam, mais do que triplicando (3,3x) o risco de desenvolver essas doenças.

Os autores do estudo concluíram que os e-cigarros são prejudiciais de forma independente em relação ao fumo tradicional, e que estão tornando a epidemia do tabaco pior, especialmente por estar envolvendo um grupo cada vez maior de adolescentes. Eles alertaram também que o efeito sinérgico dos dois produtos pode ser uma grande preocupação extra em termos de saúde pública. Isso porque enquanto a troca do cigarro tradicional pelo uso exclusivo de e-cigarro representa uma provável redução nos riscos de doenças pulmonares, menos do que 1% dos fumantes abandonam completamente o cigarro. De fato, o uso concomitante de ambos os produtos é a prática mais comum.

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O terceiro estudo, publicado no Journal of Medical Internet Research (3), mostrou que em fóruns de discussão na internet numerosos efeitos adversos à saúde ligados ao uso de cigarros eletrônicos já eram reportados há pelo menos 7 anos, o que contrasta a propaganda de 'segurança' promovida pela indústria do tabaco e do e-cigarro sobre esses produtos. Além de corroborar os vários estudos sugerindo e demonstrando danos diversos ao trato respiratório e a outras partes do corpo que podem ser causados pelos vapores de e-cigarro, o achado vai de encontro com a ideia que a grave epidemia da misteriosa doença pulmonar de 2019 é um fenômeno isolado e recente em termos de preocupação de saúde pública com os e-cigarros. Aliás, entre os sintomas comumente reportados, estavam aqueles do EVALI.

Segundo o estudo, vários dos sintomas caracterizando os atuais pacientes da grave epidemia iniciada ano passado têm sido reportados online nos últimos 7 anos ou mais, sugerindo que casos similares àqueles do EVALI existiram previamente e simplesmente não foram reportados ou não foram ligados aos e-cigarros. Os dados do estudo foram coletados entre janeiro de 2008 e julho de 2015, englobando mais de 41 mil postagens em fóruns online de discussão.

Os principais cinco sintomas reportados no banco de dados acumulados eram dores de cabeça, tosse, dor na garganta, irritação, e mal-estar. As principais cinco desordens reportadas foram desidratação, asma, faringite, resfriado comum e aptialismo (falta ou suspensão de saliva).

Segundo os autores, considerando o elevado aumento nas taxas de uso dos e-cigarros e os dados do estudo, é mais do que provável que a epidemia vai continuar aumentando, incapacitando e ceifando a vida de muitos jovens.

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Todos os três estudos até agora reportados se somam aos numerosos estudos prévios suportando o alerta de que os e-cigarros estão longe de serem produtos 'seguros'. Pelo contrário, eles vêm se mostrando muito prejudiciais - incluindo seus aerossóis, solventes orgânicos e outros componentes - e uma crescente preocupação de saúde pública, especialmente entre os jovens. Nesse sentido, entramos com o quarto reporte, dessa vez um editorial, publicado no periódico American Journal of Public Health (4), e escrito por seis especialistas sobre e-cigarro e saúde pública, incluindo Thomas Eissenberg, Ph.D., co-diretor do Centro para Estudo de Produtos de Tabaco da Universidade da Virgínia, EUA.

No editorial, os especialistas derrubam a antiga e persistente alegação de que os cigarros eletrônicos são "95% mais seguros" do que os cigarros tradicionais, afirmando que tal declaração é ultrapassada, perigosa e inválida. Ainda segundo os especialistas, esse tipo de alegação não passa de um 'factoide': uma informação sem real base científica repetida tantas vezes que acaba sendo aceita como um fato. Aliás, na época da promoção do '95% mais seguro' não existiam nem mesmo estudos clínicos de médio prazo, apenas extrapolações indevidas baseadas na composição química entre vapores dos cigarro eletrônico e a fumaça dos cigarros.

A famosa alegação factoide tem origem em 2013 quando um grupo de especialistas nos campos de decisão científica, medicina, farmacologia, fisiologia, política de saúde pública e toxicologia avaliaram os riscos relativos de 12 produtos contendo nicotina, usando 14 critérios de danos a usuários e a terceiros. O grupo concluiu que os cigarros de combustão (tradicionais) eram os mais danosos e que os sistemas eletrônicos de entrega de nicotina eram substancialmente mais seguros. No entanto, os especialistas deixaram claro que o estudo era superficial e que não trazia sólidas evidências para os danos da maioria dos produtos avaliados. Além disso, não eram baseados em estudos clínicos específicos. Mesmo assim, a conclusão do grupo ganhou forma no '95% mais seguro', factoide que foi amplamente divulgado pela indústria do e-cigarro/tabaco (hoje a indústria do tabaco já controla grande parte do comércio dos e-cigarros) e até mesmo por agências de saúde, especialmente na Inglaterra.

Aliás, segundo o editorial, mesmo se a alegação fosse verídica na época, ela não poderia nem mais ser aplicada aos atuais produtos de e-cigarros, os quais mudaram e se diversificaram drasticamente nos últimos anos. Hoje a potência de aquecimento aumentou exponencialmente (às vezes excedendo 200 watts), tornando os vapores mais tóxicos devido à maior quantidade de aerossóis, nicotina e outras toxinas liberadas. Além disso, vários flavorizantes foram sendo incorporados e apenas avaliados quanto à segurança comparando a toxicidade quando ingeridos, e não quando aspirados pelos pulmões (e exitem muitos estudos mostrando que essas substâncias são tóxicas para o tecido pulmonar e para o resto do corpo nesse tipo de exposição). Ora, o acetato de vitamina E também é seguro quando ingerido, mas é o principal suspeito da epidemia de AVALI.

Quanto à questão da nicotina, hoje muito produtos estão oferendo os chamados 'sais de nicotina' - nicotina protonada -, compostos que, diferente da nicotina livre (isolada) são menos aversivos ao corpo, permitindo o aumento nas quantidades de nicotina sendo adicionada e inalada, e aumentando o potencial de vício. Aliás, isso provavelmente aumenta o risco já estabelecido de transição dos usuários de e-cigarro para os cigarros tradicionais.

Mas o mais importante alerta do editorial, e que desqualifica totalmente a alegação de '95% mais seguro': não sabemos ainda os efeitos do cigarro eletrônico a longo prazo, diferente dos cigarros tradicionais. O que ocorre com o tecido pulmonar e outras partes do corpo quando expostos por 10-20 anos ou mais a aerossóis, flavorizantes e vapores de solventes orgânicos, os quais já se mostram danosos a curto prazo?


(1) Publicação do estudo: Respiratory Research

(2) Publicação do estudo: AJPM

(3) Publicação do estudo: JMIR

(4) Publicação do estudo: AJPH

Cigarros eletrônicos são '95% mais seguros' do que cigarros tradicionais? Balela. Cigarros eletrônicos são '95% mais seguros' do que cigarros tradicionais? Balela. Reviewed by Saber Atualizado on janeiro 16, 2020 Rating: 5

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