Esses dentes humanos estavam sendo usados como pingentes há 8500 anos

Reportado no periódico Journal of Archaeological Science: Reports (1), pesquisadores encontraram, em um sítio arqueológico pré-histórico na Turquia, dois dentes humanos datados em 8,5 mil anos de idade, e que foram usados como pingentes em um colar ou bracelete. Arqueólogos nunca tinham documentado essa prática antes no período pré-histórico do Oriente Próximo, e a raridade do achado sugere que esses dentes estavam carregados com um profundo valor simbólico para a pessoa que o usava como adorno.

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Três dentes modificados foram desenterrados durante escavações em uma região Neolítica de Çatalhöyük (Anatólia Central; 7100-6000 a.C.), na Turquia, entre 2013 e 2015, e, à primeira vista, pareciam ter sido intencionalmente perfurados para serem usados como pingentes. Análises macroscópicas, microscópicas e radiográficas subsequentes confirmaram que dois desses dentes tinham, de fato, sido usados como pingentes (o buraco aparentemente artificial no terceiro era apenas fruto de um processo de cárie afetando a junção cimento-esmalte). Não apenas os dentes tinham sido cuidadosamente perfurados (diâmetro de 1,7 mm) com uma primitiva micro-perfuradora na forma de cone - similar às ferramentas usadas para a confecção de pingentes com outros materiais (ossos de animais e pedras) encontrados também em Çatalhöyük (imagem abaixo) - como também mostraram sinais de desgaste correspondentes a um uso extensivo e prolongado como ornamentos na forma de bracelete ou colar.

Evidências também sugeriram que os dois dentes-pingentes foram provavelmente extraídos de dois indivíduos adultos já mortos. Com a falta de elementos infra-cranianos, o desgaste na coroa dos dentes foi usado para estimar a idade dos seus donos, e indicaram que esses indivíduos tinham entre 30-50 anos. Como nenhum dos dentes pareciam ter sido alvos de alguma doença dentária - ou seja, não caíram espontaneamente por esse motivo - o mais provável cenário é que ambos foram retirados do crânio no local de morte. Somando isso com a raridade do achado, é mais do que improvável que os dentes-pingentes estavam sendo usados com um propósito unicamente estético.

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Como os dentes não foram encontrados associados a um túmulo, as especulações sobre o contexto simbólico são diversas, desde lembrança dos mortos até mesmo práticas de rituais considerados taboos na época (tendo em vista a raridade de artefatos do tipo). Além disso, a técnica de perfuração utilizada mostrou-se bastante precisa, provavelmente realizada por um indivíduo habilidoso.

Dentes humanos com propósitos ornamentais do Paleolítico Superior e, esporadicamente, associados aos subsequentes períodos do Mesolítico, Neolítico e Calcolítico já haviam sido descobertos na Europa, mas nunca no Oriente Próximo pré-histórico.


(1) Publicação do estudo: JAS