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Com longa persistência na Indonésia, podemos ter herdado 1% de DNA do Homo erectus


Em um estudo publicado esta semana na Nature (1), conduzido por um time internacional de cientistas, problemáticos fósseis escavados na década de 1930, pertencentes à espécie Homo erectus - um humano arcaico (gênero Homo) próximo relacionado com a nossa espécie (Homo sapiens) -, foram finalmente datados através de múltiplas técnicas de datação geológica. Os pesquisadores encontraram que o H. erectus persistiu por bem mais tempo do que antes determinado por algumas estimativas, com os últimos espécimes ainda existindo há cerca de 117-108 mil anos na região insular de Java Central, na Indonésia. Além disso, via intermédio dos Denisovanos, é possível que cerca de 1% do DNA de humanos vivendo hoje nas ilhas do Sudeste Asiático seja proveniente dessa espécie.

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O Homo erectus é a primeira espécie de hominini que habitou as ilhas do Sudoeste Asiático, alcançando Java (Indonésia) há mais de 1,5 milhões de anos. Além da Indonésia, fósseis dessa espécie foram encontrados na China, e ainda é debatido se diferentes populações separadas em diferentes áreas geográficas representam apenas uma espécie e/ou subespécie. Em termos anatômicos, essa espécie era mais curta do que os humanos modernos, tinha ossos mais robustos, testa curta, sulcos das sobrancelhas bem protuberantes, crânio largo e pontudo na parte de trás, as mandíbulas eram grandes e grossas e sem um queixo pontudo, e os dentes molares tinham grandes raízes (mas mostrando sinais de redução no tamanho). Por outro lado, sua estrutura cerebral era bem similar à nossa, assim como os membros. Usavam ferramentas variadas (tecnologias Modos 1 e 2), incluindo pedras lascadas e artefatos de bambu, e também usavam fogo, apesar de ser incerto se conseguiam controlá-lo.




Nos anos de 1931 e 1933, 12 calvárias (revestimento externo do crânio) de H. erectus e duas tíbias (ossos inferiores da perna) foram descobertos na região central de Java, a 20 metros acima do Rio Solo, em Ngandong, e representavam os mais recentes e as mais avançadas formas dessa espécie. Mas apesar da importância desses fósseis, a relação entre eles, os eventos geológicos na área onde foram escavados e a idade associada têm sido alvos de calorosos debates desde então.

Nesse sentido, no novo estudo, os pesquisadores resolveram utilizar uma análise estatística Bayesiana de 52 idades radiométricas estimadas visando estabelecer a cronologia em escala local e regional associada ao ponto de escavação. Para isso, eles aplicaram várias técnicas de datação envolvendo luminescência, argônio-40/argônio-39, decaimento de urânio e ressonância de spin-elétron, para datar a evolução geológica de Ngandong. (Para mais informações sobre técnicas de datação, acesse: Como calcular a idade dos fósseis e da Terra?)

Os resultados das análises mostraram que há pelo menos 500 mil anos, o Rio Solo foi desviado para as Colinas de Kendeng, levando à sequência de formação do terraço Solo entre 316 mil e 31 mil anos atrás e o terraço Ngandong entre cerca de 140 mil e 92 mil anos atrás. Fósseis não humanos recuperados na região foram datados entre 109 mil e 106 mil anos atrás (decaimento de urânio) e entre 134 mil e 118 mil anos atrás (urânio-spin-elétron). Levando todas as datações em consideração, os pesquisadores encontraram um limite inferior de 117 mil anos atrás e um limite superior de 108 mil anos atrás para a camada geológica onde estavam localizados os fósseis de H. erectus, a qual foi acumulada durante condições de inundações. Os resultados solidificam que Ngnadong foi a última ocorrência conhecida dessa espécie, cuja existência perdurou por quase 2 milhões de anos.

Essas novas datações corroboram um evento massivo de morte que ocorreu como resultado de mudanças climáticas no Sudoeste Asiático. Há aproximadamente 130 mil anos, o clima na Indonésia mudou de savana seca para uma floresta tropical úmida, implicando que o H. erectus, assim como várias outras espécies de vertebrados e animais em geral, não conseguiu se adaptar, culminando em sua eventual extinção na região.

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Com base nos resultados do novo estudo e em outras evidências fósseis, é possível afirmar que o H. erectus habitou de forma contínua a ilha de Java, com início entre 1,51 e 0,93 milhões de anos na região de Sangiran, então entre 540 e 430 mil anos atrás em Trinil, e finalizando entre 117 e 108 mil anos atrás em Ngandong. O H. erectus se dispersou amplamente há cerca de 700 mil anos, como mostrado por evidências arqueológicas para homininis em Mata Menge (Flores, Indonésia) e Vale Cagayan (Luzon, Filipinas). Nesse caso, duas formas 'miniaturizadas' de humanos também habitaram essas ilhas do Sudeste Asiático: o Homo floresiensis (2) de 100 a 60 mil anos atrás e o Homo luzonensis em torno de 66,7 mil anos atrás. Ambas as espécies carregam substanciais similaridades com o H. erectus, e as três representam três trajetórias evolucionárias do gênero Homo na região insular do Sudeste Asiático, cada uma das quais terminou em extinção.

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(2) Para mais informações, acesse: Por que os Pigmeus e os Peruvianos são tão pequenos?

Evidências genômicas das atuais populações modernas na Nova Guineia, apontam também para outra espécie, Denisovanos (3), mais próxima relacionada da nossa, que se expandiu por grande parte da Ásia, incluindo as ilhas do Sudeste Asiático. Duas linhagens Denisovanas divergiram a partir dos Denisovanos de Altai, uma há cerca de 363 mil anos e a outra há cerca de 283 mil anos. Humanos modernos (H. sapiens) se encontraram e hibridizaram com ambas as linhagens nessas ilhas há cerca de 45,7 mil anos e há cerca de 29,8 mil anos, e, assim como o fluxo genético que ocorreu entre a nossa espécie e os Neandertais, acabamos herdando uma substancial parte do genoma dos Denisovanos nessas áreas de hibridização. Existe também cerca de 1% de DNA de humanos arcaicos nas populações que vivem hoje nessas ilhas, não-associado com Neandertais e Denisovanos. Como o H. sapiens chegou nas ilhas do Sudeste Asiático dezenas de milhares de anos após o H. erectus ser extinto, é possível que os Denisovanos cruzaram com os H. erectus e transmitiram DNA desse último para a nossa espécie nos eventos de introgressão.

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(3) Para mais informações, acesse: Denisovanos e a suruba inter-espécies na Ásia


(1) Publicação do estudo: Nature

Referência adicional: Australian Museum

Com longa persistência na Indonésia, podemos ter herdado 1% de DNA do Homo erectus Com longa persistência na Indonésia, podemos ter herdado 1% de DNA do Homo erectus Reviewed by Saber Atualizado on dezembro 20, 2019 Rating: 5

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