Esses macacos comedores de ratos são grandes aliados dos agricultores
A conversão de florestas tropicais em plantações de óleo de palma reduz o habitat de várias espécies, incluindo primatas, e frequentemente leva a conflitos entre a vida selvagem e a sociedade humana. Nesse sentido, um estudo publicado recentemente no periódico Current Biology (1) mostrou que, ao contrário da crença amplamente disseminada de que os macacos coletando alimentos nas matrizes de florestas-plantações de palmas são pestes, o impacto desses primatas sobre as plantações de palma é mínimo. E, o mais importante, os pesquisadores mostraram esses macacos podem atuar como potenciais controles biológicos de pestes ao se alimentarem vigorosamente de ratos, estes os quais causam enormes danos às plantações.
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A área de florestas tropicais úmidas primárias convertidas em plantações de óleo de palma tem aumentado dramaticamente nas últimas décadas. Hoje, essas plantações cobrem 18,7 milhões de hectares de terra ao redor do mundo. A Malásia é uma das maiores produtores mundiais de óleo de palma, alcançando uma produção anual de aproximadamente 19,5 milhões de toneladas do produto (30% da produção mundial). Essa colossal expansão, obviamente, teve grandes impactos negativos em termos ecológicos, à medida que florestas isoladas fragmentadas, dando espaço para as plantações, sofrem com a redução de espécies e de diversidade genética na flora e na fauna, com o impactos climáticos, e com a baixa resiliência. Ao mesmo tempo, as plantações oferecem habitat para vários tipos de espécies, especialmente quando cultivadas de forma mais sustentável e dando espaço para outras plantas crescerem no mesmo ambiente.
No entanto, alguns animais que passam a conviver com as plantações podem causar significativo dano ao comer ou danificar as frutas de óleo de palma. Os ratos (Rattus spp.), por exemplo, podem causar perdas de até 10% nos campos de cultivo, algo que, apenas na Malásia, equivale a prejuízos de até US$930 milhões por ano. O uso de rodenticidas como forma de controle de peste além de ser caro e amplamente ineficiente, também é altamente nocivo para outros animais e para o meio ambiente em geral. Isso fomenta a busca por alternativas biologicamente seguras e ecologicamente amigáveis.
Os macacos-rabo-de-porco (Macaca nemestrina) na região Sul da Malásia são diretamente afetados pelo dramático declínio do seu habitat. No contexto de florestas fragmentadas, essa espécie acaba sendo forçada a procurar alimento nas plantações de óleo de palma, onde acabam sendo tachados - sem base científica alguma - de pestes, por supostamente estarem também causando grandes danos nas plantações ao consumirem em excesso as frutas das árvores de palma.
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No novo estudo, os pesquisadores resolveram investigar a questão, coletando dados comportamentais de dois grupos de macacos-rabo-de-porco - de janeiro de 2016 até setembro de 2018 - vivendo na Reserva Florestal de Segari Melintang e em uma plantação de palma ao redor. Os pesquisadores encontraram que os macacos gastavam, na média, 2,9 horas por dia na plantação, com o tempo de alimentação entre as árvores de palma representando 44% do tempo total de alimentação. Apesar de 74% da dieta dos macacos na plantação terem consistido de frutas de palma, os dados do estudo não corroboraram que esses primatas representam uma 'peste', pelo contrário.
Baseando-se no consumo individual sobre as frutas frescas, os pesquisadores estimaram que o consumo anual dessas frutas por um grupo de macacos de tamanho médio (44 indivíduos) é de aproximadamente 12,4 toneladas, o que representa apenas 0,56% da produção total da área de plantação dentro do território dos macacos (cerca de 1/3 da área total). Nesse sentido, os danos causados pelos macacos são até 17 vezes menores do que os danos causados por ratos (10%). Além disso, os pesquisadores mostraram que esse mesmo grupo de macacos chega a consumir uma taxa estimada de 3135 ratos por ano.
E o mais importante: esses macacos parecem ser verdadeiros mestres na caça aos ratos, representando um controle biológico de peste mais do que efetivo. Para capturar os ratos, esses primatas utilizam múltiplos métodos. A remoção de bases de folhas persistentes dos troncos das árvores de palma - para revelar ratos que buscam abrigo nas cavidades associadas durante o dia - se mostrou a mais efetiva estratégia observada (90% dos ratos capturados durante o período de estudo foram encontrados nesses esconderijos). Isso mostra que além de serem caçadores ativos e eficientes, os macacos-rabo-de-porco ocupam um nicho de caça diferente de outros predadores de ratos, como os leopardos e corujas, que caçam os ratos no solo, durante a noite.
Considerando esse último ponto e outros dados acumulados, os pesquisadores estimaram que se o número de dias com visitas de macacos-rabo-de-porco nas plantações aumentasse de 0% para 25% (ou seja, a cada quatro dias), isso levaria a uma diminuição no número de ratos de 79%. Isso sugere que, comparado com a ausência desses macacos nas plantações de óleo de palma na Malásia, os danos a essas plantações poderia ser reduzido de 10% para menos de 3% (2,1% por ratos somado a 0,56% dos macacos), representando um ganho de produtividade equivalente a US$650 milhões de dólares.
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A IUCN, em 2008, listou os macacos-rabo-de-porco como 'vulneráveis' devido à crescente perda de habitat e à caça por humanos que os veem como pestes. Com o dramático declínio das florestas na última década, provavelmente a população total desses primatas foi reduzida ainda mais. Nesse sentido, o incentivo ao uso desses primatas como ferramentas de controle populacional de ratos pode ajudar a tirá-los de um risco cada vez maior de extinção e ainda ajudar os agricultores. Além disso, a eliminação do uso de venenos para ratos em prol do uso dos macacos como controle biológico ajuda também a proteger a biodiversidade nas áreas de plantação.
(1) Publicação do estudo: Cell
Esses macacos comedores de ratos são grandes aliados dos agricultores
Reviewed by Saber Atualizado
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novembro 21, 2019
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