Homens querendo ser pais devem evitar bebidas alcoólicas seis meses antes da concepção

Um estudo de revisão sistemática e meta-análise publicado esta semana no periódico European Journal of Preventive Cardiology (1) concluiu que os homens e mulheres tentando uma gravidez deveriam evitar o consumo alcoólico o maior número de meses possível antes da concepção.

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As doenças congênitas cardíacas são os defeitos de nascimento mais comuns, com aproximadamente 1,35 milhões de bebês afetadas todos os anos. Essas condições podem aumentar as chances de doença cardiovascular na fase adulta, mesmo após tratamento cirúrgico, e são a principal causa de morte perinatal. O consumo alcoólico (no caso, o etanol) é um bem estabelecido teratógeno e é fortemente associado com o Espectro de Desordens Alcoólicas no Feto (FASD). Cerca de 28,5% das crianças com FASD possuem doença cardíaca congênita, sugerindo que o consumo alcoólico esteja implicado nessas desordens.

Nesse sentido, os pesquisadores no novo estudo compilaram os estudos prévios de maior qualidade, e publicados entre 1991 e 2019, analisando o efeito do consumo alcoólico não só no lado materno como também no lado paterno (geralmente ignorado). Um total de 55 estudos foram escolhidos incluindo 41747 bebês com doença cardíaca congênita e 297587 sem o problema. A análise mostrou uma relação dose-resposta não-linear entre o consumo alcoólico parental e doenças cardíacas congênitas.

Os resultados da análise encontraram que o consumo alcoólico três meses antes da gravidez ou durante o primeiro trimestre estava associado com um aumento de risco de 44% para doenças congênitas cardíacas para os pais e 16% para as mães, comparado com o não consumo alcoólico. Um consumo alcoólico moderado-excessivo mostrou estar associado com 52% maior chance desses defeitos emergirem no bebê para homens e 16% para as mulheres.

Em específico, o estudo encontrou que comparado com a abstinência, o consumo alcoólico materno estava associado com 20% maior risco de tetralogia de Fallot, uma combinação de quatro anormalidades na estrutura cardíaca.

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Com base nas evidências acumuladas até o momento, incluindo os achados do novo estudo, os pesquisadores recomendaram que em casais tentando ter um bebê, os homens deveriam parar de consumir bebidas alcoólicas por no mínimo seis meses antes da fertilização enquanto as mulheres deveriam parar com o consumo 1 ano antes e evitar totalmente durante a gravidez (2).

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(2) Leitura recomendada: Bebidas alcoólicas e Gravidez: Tolerância zero!

Como os estudos analisados foram observacionais, devido a óbvios limites étnicos, a meta-análise não provou uma causalidade entre consumo alcoólico e defeitos cardíacos nos fetos, e nem que o consumo alcoólico pelos futuros pais é mais prejudicial do que o materno. Porém, a associação é forte.

Os mecanismos conectando o consumo alcoólico parental com as doenças cardíacas congênitas são ainda incertos, mas existem hipóteses plausíveis. Como o etanol é um teratogênico, os pesquisadores do novo estudo apostam que a exposição do feto a essa substância engatilha mudanças genéticas (via mecanismos epigenéticos) que aumentam o risco de defeitos cardíacos. Estudos prévios já tinham encontrado que a exposição materna às bebidas alcoólicas pode afetar o caminho de sinalização da WnT/beta-catenina, o que é conhecido de promover mudanças na ativação normal de genes e no desenvolvimento embrionário cardíaco.


(1) Publicação do estudo: EJPC

Referência adicional: Escardio