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Fortes evidências de que os Neandertais sabiam criar e controlar o fogo


Se no começo nossos ancestrais homininis provavelmente obtinham fogo de fontes naturais (via raios de tempestade, por exemplo), uma grande revolução foi iniciada quando nossos ancestrais aprenderam a criar fogo a qualquer momento, possibilitando novas formas de explorar o ambiente, se defenderem de predadores, cozinhar os alimentos, se protegerem do frio e desenvolverem novas ferramentas. Evidências arqueológicas do uso de fogo por ancestrais na nossa linhagem evolutiva datam de pelo menos 1,5 milhões de anos atrás. Porém, quando foi a primeira vez que um hominini aprendeu a criar e a controlar o fogo (pirotecnologia)? É uma habilidade que emergiu apenas com a nossa espécie (Homo sapiens)?

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Nesse sentido, em um estudo publicado no periódico Scientific Reports (1), pesquisadores da Universidade de Connecticut, EUA, em colaboração com cientistas da Armênia, Reino Unido e Espanha, trouxeram mais fortes evidências de que os humanos modernos (H. sapiens) não foram os únicos que aprenderam a criar fogo. A partir da análise de dados arqueológicos, de vestígios de hidrocarbonetos e de isótopos de carbono e de hidrogênio, os pesquisadores encontraram fortes evidências de que os Neandertais (H. neanderthalensis) não apenas sabiam manipular o fogo como também sabiam gerá-lo. Isso se soma às evidências acumuladas até o momento de que essa espécie usava frequentemente o fogo para a produção de adesivos empregados na manufatura de ferramentas e armas (2) e que eram cognitivamente tão capazes quanto a nossa (2). Blocos de dióxido de manganês também já foram associados com homininis do Paleolítico Médio, minerais esses que são úteis para se iniciar fogo.

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(2) Para saber mais, acesse: Neandertais, arte e linguagem

No estudo, os pesquisadores investigaram a Caverna Lusakert 1, localizada na Armênia e ocupadas por homininis  do Paleolítico Médio (em uma época na Europa dominada por Neandertais e sem a presença de humanos modernos), usando moléculas específicas associadas com fogo depositadas no registro arqueológico junto com análises climatológicas da região. Em específico, o time de pesquisa focou em amostras sedimentares para determinar a abundância de hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (PAHs), os quais são compostos liberados quando material orgânico é queimado.

Os assim chamados 'PAHs leves' (lPAHs, constituídos por 2-4 anéis aromáticos), se dispersam de forma ampla e abundante a partir tipicamente de queimadas em meio vegetativo (não-controladas), enquanto os chamados PAHs pesados (hPAHs, >5-6 anéis), se dispersam de forma muito limitada, permanecem muito mais próximos da fonte de fogo e são componentes de grande abundância em emissões de particulados associadas com madeira sendo queimada (sugerem fogo controlado). Lareiras em contextos arqueológicos podem alcançar temperaturas máximas de 1000°C, com temperaturas médias de 600°C, as quais fornecem energia suficiente para a produção de hPAHs de 5-6 anéis aromáticos.   

No estudo, os pesquisadores encontraram que evidências arqueológicas de aumento de ocupação humana no local, como maiores concentrações de ossos de animais oriundos de caça-alimentação e vestígios de ferramentas, correlacionaram com o aumento na frequência de focos de fogo e o aumento na frequência de PAHs pesados. Para descartarem a possibilidade de que o aumento da frequência de fogo não seria resultado de mudanças climáticas favorecendo a ocorrência de raios de tempestade e um clima mais seco, os pesquisadores também analisaram a composição isotópica de hidrogênio e de carbono de ceras epicuticulares nos tecidos de antigas plantas terrestres preservados em sedimentos (a distribuição desse tipo de cera dá pistas importantes sobre o clima em que essas plantas cresceram).

Os resultados não trouxeram nenhuma evidência de que as condições paleoclimáticas estavam associadas com o aumento na frequência de fogo na região da caverna. Nesse sentido, unindo os dados paleoclimáticos e geoquímicos com as evidências arqueológicas, os pesquisadores determinaram que os habitantes daquela caverna não estavam vivendo em condições de clima seco, e sob alta tendência de incêndios, enquanto estavam utilizando amplamente o fogo. Pelo contrário, as evidências encontradas indicaram que condições eram as piores possíveis para a ocorrência natural de queimadas nos períodos de alta frequência de material orgânico em combustão e de PAHs pesados na caverna.

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Os achados fortemente indicam que os homininis do Paleolítico Médio eram capazes de controlar o fogo e utilizá-lo de forma independente da ocorrência natural de queimadas. Até o momento, temos evidências de que a criação de fogo existia há pelo menos 50 mil anos atrás e que seu controle já se estendia há pelo menos 300 mil anos atrás, mas essas datas podem estar sendo muito subestimadas. Considerando também evidências contraditórias encontradas na França - onde é sugerido que os homininis do Paleolítico Médio se limitavam a utilizar fogo de queimadas naturais -, o controle e talvez a criação de fogo nesse período era ou (I) um traço comportamental primitivo que foi perdido em cercas populações, ou (II) um traço comportamental derivado independentemente entre as populações. De qualquer forma, os pesquisadores concluíram que a pirotecnologia não estava limitada ao H. sapiens do Paleolítico Superior e que, portanto, não foi um fator de extinção para homininis do Paleolítico Médio, como os Neandertais, algo antes sugerido.

O objetivo agora dos pesquisadores é realizar as mesmas análises em outras cavernas Paleolíticas localizadas em diferentes países e sabidas de terem sido ocupadas por espécies do gênero Homo mais antigas que os humanos modernos, incluindo na Eurásia e durante a Idade da Pedra na África, para entender melhor a relação entre os homininis, o fogo e o clima.


(1) Publicação do estudo: Scientific Reports (Nature)

Fortes evidências de que os Neandertais sabiam criar e controlar o fogo Fortes evidências de que os Neandertais sabiam criar e controlar o fogo Reviewed by Saber Atualizado on outubro 27, 2019 Rating: 5

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