A Araponga-da-Amazônia quebrou o recorde de canto mais alto do mundo
Em um estudo publicado no periódico Current Biology (1), pesquisadores da Universidade de Massachusets, EUA, e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Brasil, reportaram o canto de ave mais alto do mundo, e pertencente a um pássaro que habita a Amazônia Brasileira. Em específico, o dono da barulheira toda é o macho da espécie Procnias albus, popularmente conhecida como Araponga-da-Amazônia.
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Durante expedições para uma área montanhosa da floresta Amazônica dentro do território Brasileiro, os pesquisadores mediram os cantos de acasalamento de duas espécies: o Cricrió (Lipaugus vociferans) e a já mencionada araponga-da-Amazônia. Até o momento, o canto mais alto já documentado pertencia ao cririó. No entanto, para a surpresa dos pesquisadores, o canto da araponga-da-Amazônia era acima de 9 decibéis (dB) mais alto, e alcançando praticamente três vezes mais pressão acústica do que o do L. vociferans! Isso corrobora reportes anedóticos prévios nesse sentido.
Os pesquisadores focaram as análises sonoras em dois parâmetros de amplitude: Leq (nível sonoro contínuo equivalente) - uma raiz quadrada do valor médio - e o Lpeak, o qual captura valores máximos de amplitude transiente. Enquanto os L. vociferans nos locais de pesquisa compartilhavam um único tipo de canto, os P. albus compartilhavam dois tipos: um relativamente comum (Tipo 1) e um relativamente raro (Tipo 2; com frequência de 1 em cada 6 cantos).
O resultado das análises mostrou que, na amostra investigada, o L. vociferans alcançou uma amplitude vocal máxima razoavelmente equivalente aos valores previamente reportados por outros estudos: ~107 dB (Leq) e ~116 dB (Lpeak) - média para 3 espécimes. Já o P. albus mostrou ser mais barulhento do que o cricrió para os cantos do Tipo 1 (~109 dB), Leq, e ~117 dB, Lpeak) - média para 8 espécimes - e definitivamente mais barulhento para os cantos do Tipo 2 (~117 dB, Leq, e ~125 dB, Lpeak) - média para 8 espécimes. Nesse sentido, segundo os pesquisadores, o canto do Tipo 2 da araponga-da-Amazônia é a vocalização de maior amplitude já documentada para qualquer ave, com os níveis máximos de pressão sonora excedendo aqueles do cricrió em cerca de três vezes. No vídeo abaixo, é possível ver os dois tipos de canto do P. albus.
A natureza extrema das performances vocais descrita no novo estudo implica que essas duas espécies de aves, especialmente o P. albus, estão cantando próximo ou no limite das suas capacidades máximas de performance. Essa habilidade parece ter um efeito negativo em relação à duração do canto. Segundo a hipótese dos pesquisadores, para elevar a amplitude do canto ao máximo, os pássaros regulam o fluxo de ar respiratório, esvaziando mais rapidamente os volumes inspirados, levando a curtos cantos. Essa proposta pode indicar um limite evolucionário para amplitudes ainda maiores mesmo em meio a uma forte e persistente seleção sexual.
A habilidade de algumas espécies de arapongas cantar tão alto é provavelmente não-derivado apenas das duas distintas estruturas e grande tamanho dos seus órgãos sonoros [siringe], mas também pelas suas bocas anormalmente largas e grande capacidade de abertura, característica morfológica que evoluiu originalmente como uma adaptação de dieta frugífera. Isso possibilita a concentração de energia acústica em certas frequências e facilita a transmissão dessa energia de modo a maximizar a amplitude do canto, e de forma similar ao observado em instrumentos musicais de sopro. Aliás, a vocalização do P. albus rivaliza com as amplitudes máximas de instrumentos sonoros humanos.
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Outro curioso achado reportado no estudo é que quando uma fêmea se aproximava do P. albus macho, este emitia apenas o canto Tipo 2, de maior amplitude, balançando dramaticamente no meio do canto para encarar a fêmea com a cabeça erguida durante a segunda nota do canto. Fêmeas nessas interações sempre recuavam no momento - ou um pouco antes - do canto do macho, e mesmo assim experienciavam cantos a uma proximidade muito curta, às vezes dentro de quatro metros ou menos, ficando exposta a um elevado risco de danos auditivos.
Animais geralmente reservam seus mais altos chamados para comunicação a longas distâncias, e algumas espécies são conhecidas de vocalizarem mais suavemente quando os receptores estão próximos. Nesse sentido, os pesquisadores não entendem muito bem porque as fêmeas da araponga-da-Amazônia estão dispostas a ficarem tão próximas dos machos à medida que estes cantam. Mesmo a 4 metros de distância, as fêmeas estão ondas sonoras potencialmente danosas e com valores efetivos no ouvido de ~104 dB (Leq) e ~113 dB (Lpeak). Talvez esses riscos são compensados com benefícios associados à escolha do parceiro de acasalamento. Mais especificamente, as fêmeas podem expressar um interesse em avaliar os machos na mais curta distância possível, mas buscando limitar os danos (por isso a distância tomada em torno de 4 metros).
(1) Publicação do estudo: Cell (Current Biology)
A Araponga-da-Amazônia quebrou o recorde de canto mais alto do mundo
Reviewed by Saber Atualizado
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outubro 25, 2019
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