Bebês adquirem bactérias do microbioma durante e após o parto, não da placenta

Nos últimos anos, um acirrado debate emergiu sobre a existência ou não de bactérias na placenta, a qual tradicionalmente sempre foi considerada um ambiente estéril. E, agora, um novo e robusto estudo publicado na Nature (1) encontrou que esse órgão, de fato, é estéril.

Durante a gravidez, a placenta fornece ao feto tudo o que ele precisa para se desenvolver: oxigênio, alimento, anticorpos do sistema imune materno e retirada de resíduos produzidos pelo metabolismo fetal. Mas será que esse período é também quando o feto adquire seu microbioma a partir desse órgão?

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A ideia de um útero e placenta estéreis têm sido estabelecida por mais de um século. Porém, em 2014, um estudo encontrou que a placenta humana parecia carregar bactérias similares àquelas da nossa boca (2), sugerindo que alguns microrganismos podem ser passados da boca materna para seu sangue e, subsequentemente, para o feto via placenta. Outros estudos posteriores também trouxeram evidências corroborando o cenário de uma placenta não-estéril. Desde então, os cientistas têm argumentado contra e a favor da presença de bactérias nesse órgão, com muitos defendendo que as bactérias encontradas nos estudos favoráveis foram fruto de contaminação.

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Nesse sentido, um estudo publicado esta semana na Nature analisou 537 placentas recuperadas de mulheres logo após o nascimento na tentativa de terminar o debate em definitivo e também determinar se a pré-eclâmpsia, parto de um bebê pequeno para a idade gestacional e parto espontâneo de bebê prematuro são causados pela presença de bactérias no ambiente uterino.

Para identificar quaisquer fracos sinais de potenciais populações bacterianas na placenta e diferenciá-los de sinais de contaminação, os pesquisadores usaram dois métodos de sequenciamento de DNA. Um dos métodos visou partes de genes comuns a todas as bactérias. O outro método foi mais geral, juntando todo o DNA presente e mapeando-o a específicas espécies de bactérias e de animais. Os pesquisadores compararam os sinais bacterianos com o que eles esperavam de contaminação de fontes como kits de sequenciamento de DNA (no ambiente laboratorial de análise) ou o próprio processo de parto. De fato, eles encontraram que certos microrganismos eram mais prevalentes quando as mulheres davam luz via parto vaginal do que por cesárea, sugerindo que várias bactérias chegaram nas placentas analisadas durante e pós-parto.

No geral, após eliminarem o máximo possível de fontes de contaminação, os pesquisadores encontraram que apenas um tipo de bactéria era encontrado na placenta antes do nascimento: a Streptococcus agalactiae. Porém, essa espécie estava presente em apenas 5% das amostras, e como um sinal de infecção, com potencial de causar sepse letal nos recém-nascidos. Os pesquisadores concluíram, então, que a placenta não possui microbioma, ou seja, é estéril, exceto se estiver infeccionada. Placentas saudáveis não carregam bactérias e problemas comuns no parto e no desenvolvimento fetal não possuem associação com supostas bactérias no útero.

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O estudo traz uma forte evidência a favor de uma placenta e de um útero estéreis, mas a questão ainda permanece não concluída, porque, segundo alguns especialistas, reunir provas definitivas de um ambiente fetal estéril envolve problemas éticos, como a coleta direta de tecido intestinal de fetos em desenvolvimento.

(1) Publicação do estudo: Nature

Referências adicionais: